domingo, 10 de maio de 2009

"MÃE...LUZ QUE NÃO APAGA"

Minha mãe nunca trabalhou fora de casa. Por isso, eu e meu irmão ficávamos sempre com ela. Quando éramos crianças, antes da escola, era ela o tempo todo. Ela que levou para casa minha primeira cachorrinha, a Susi. Ela que viu uma caixa pegando fogo, e me xingou muito porque eu tinha colocado fogo na caixa de sapatos (e foi o mesmo com meu irmão, que colocou fogo na caixa de brinquedos). Ela que chorou de desespero quando eu me perdi com 7 anos perto da nossa casa. Ela que pedia que a gente se acalmasse e corria de um lado para outro na casa quando chovia muito, protegendo as entradas da casa. Ela que pulava o muro para ajudar os vizinhos quando a rua enchia de água. Ela que sempre cortou meus cabelos. Ela que me levou no meu primeiro dia de aula na escolinha Pinguinho de Gente, e ela que penteou meu cabelo aquele dia, fazendo um imenso rabo de cavalo. Ela que sempre estava em casa quando eu saia para ir para a escola, e ela que estava quando eu voltava. Ela que sempre fez comida para mim, ela que nos levava ao médico, ela que fazia a matrícula na escola. Ela que ia com a gente comprar roupas. Ela que arrumava minhas unhas. Ela que sempre fez compra. Ela que estava comigo quando o médico receitou meus primeiros óculos, e ela estava quando apareceu um “probleminha” na córnea. Ela chorou muito nesse dia, com medo de acontecer alguma coisa séria com meus olhos, e ela que alguns anos depois me levou em um médico melhor em São Paulo para ver isso direito. Ela que ouvia e ouvia meus sonhos, minha vontade de estudar em São Paulo, minha vontade de viver um tempo no exterior, e ela que se empolgava muito, e me fazia acreditar que eu podia. Ela que por dentro ficava com muito medo, medo de eu me dar mal, com medo de eu ficar muito tempo longe, mas não me dizia isso. Ela estava em casa quando eu passei no vestibular, e ficou muito muito feliz, mesmo que aquilo também fosse uma perda. Ela que contava para todo mundo que os filhos estudam na USP, e contava até demais. Ela que me ensinou a usar filtro solar todos os dias, e a comer coisas saudáveis, e que insistia que eu tinha que beber mais água. Ela que me ensinou que é importante ser uma pessoa correta, que isso conta muito, algum dia. Ela que me ensinou que não posso ter tudo, e que a vida vale a pena mesmo que a gente não tenha tudo. Ela que fez eu e meu irmão sermos amigos, ela que fez minha casa ser um lugar tão bom de se estar. Ela que me ensinou a não mostrar fraqueza. Em 22 anos só vi minha mãe fraca quando ela percebeu que sua vida iria acabar. Então aprendi com ela que a vida vale a pena, sempre, que a vida tem que ser vivida como ela vem, não adianta chorar, se acabar, ela está ai. Ela queria viver, mesmo sabendo que a vida que lhe restava era de idas continuas a hospitais, ela queria. Ela queria ver os filhos crescerem, e sei que quando ela chorava no hospital, era nisso que ela pensava.

Minha mãe me ensinou que ser mãe é uma doação. Ela se entregou a ser mãe de tal forma que vivia por nós. Sei, e sempre soube, que eu tive muita sorte de nascer na casa que eu nasci, com os pais que eu tenho. Hoje, quase 9 meses depois que ela foi embora, quase 1 anos depois que descobrimos sua doença, eu vejo que só estamos bem porque ela nos ensinou muito. Eu acho incrível que depois do que passei com ela eu esteja aqui. Quando penso em conversas com médicos, em dias no hospital, em momentos de desespero no banheiro do hospital, quando penso nisso e me vejo aqui, ainda sonhando, ainda com muitos planos, sei que a mãe que tive me ensinou muitas coisas.

E hoje, dia das mães, não me sinto mais triste que nos outros dias. A falta que sinto dela hoje é a mesma que senti ontem, a mesma que senti no dia 4 de abril , é a mesma que senti há dois meses, é a mesma de todos os dias. É a falta de uma mãe presente mesmo eu estando em São Paulo, e ela em Cruzeiro, uma mãe de todos os dias, disposta sempre a fazer de tudo por mim e pelo meu irmão, que não se importava mesmo com datas e presentes, que gostava de ter orgulho dos filhos. Eu nunca fui de falar que a amava, nem ela era assim de falar essas coisas. Mas eu sei que ela sabia que era muito para a gente. Sei que ela teve muito medo de que nós a perdêssemos e ficássemos sem rumo, e acho uma honra imensa para ela que isso não tenha acontecido, mesmo que não seja fácil.

Esses dias li uma frase que achei muito bonita: ”SAUDADE É O AMOR QUE FICA...” Sinto uma saudade imensa dela, porque o amor que ficou é imenso. Amor entre mãe e filho, sem fim, sem razões. A saudade dói tanto, que as vezes me faz levar um choque mesmo depois de algum tempo, porque ela estava em tudo na minha vida. Não é exagero falar TUDO, por ela estava mesmo! Tudo, tudo. Todas as decisões que eu tomava passavam por ela, as vezes coisa pequena. E eu sentia uma segurança incrível também, porque eu sabia que ela era a única pessoa da minha vida que estaria comigo em qualquer situação, qualquer, qualquer, que bastava um telefonema, que quase tudo se resolveria. E hoje ela só existe dentro de mim. Ela não pode mais me ajudar, e hoje sinto que eu tenho que enfrentar mais coisas, cuidar de mais detalhes, prestar mais atenção. Mães deixam a vida mais fácil...Bem, a minha mãe teve que ir embora. Mas no fundo sei que não posso me lastimar, reclamar, xingar a vida, eu seria muito mal agradecida. A mãe que eu tive foi um presente!

sábado, 4 de abril de 2009

4 de abril...

Desde que fui para São Paulo, em 2005, o dia 4 de abril não caiu em um final de semana. Não me lembro ao certo, mas acho que desde 2005 não abracei minha mãe em seu aniversário. E em 2009, hoje é um sábado, caiu na semana em que nunca a gente tem aula na faculdade, semana da páscoa, vou ficar a semana toda em Cruzeiro. Esse ano ela não passaria longe de mim, eu estaria aqui para comer um bolo, para lhe desejar pessoalmente muitos e muitos anos de vida. Hoje eu só queria abraçar minha mãe...
Se eu soubesse, se eu imaginasse por um segundo, que em 2009 o mais próximo que eu chegaria dela era indo a um cemitério, eu teria largado tudo nos outros anos, teria vindo aqui, teria lhe dito muitas e muitas coisas, teria lhe mostrado o quanto eu a amo, o quanto eu queria que essa data se repetisse...Ela não se repetiu. Paramos de contar seus anos, ela não envelheceu.

Saudades que doem...



quarta-feira, 18 de março de 2009

MUDAR e CRESCER

As coisas estão em seu lugar, e acho que realmente o tempo ajuda, ainda bem. Minha vida não é a mesma, eu não sou a mesma. Sinto que em tão pouco tempo aconteceram tantas coisas, tantos momentos difíceis, tantas situações muito muito tristes e cruéis, que cresci. De repente, o que tinha de criança em mim ficou para trás, foi embora junto com minha mãe. E aprendi que não adianta me lamentar, não adianta bater o pé e querer que as coisas fiquem onde estão, elas não vão ficar. E depois de tudo acho que a maior lição que a vida me ensinou tirando minha mãe de mim foi que as coisas mudam, não importa o que você faça. E acho que hoje me sinto menos preocupada com muitos detalhes sem importância que antes martelavam na minha cabeça. Me sinto mais forte, pois sei que consigo enfrentar (quase) qualquer coisa. Sabe quando os passarinhos são empurrados para fora do ninho? Não é assim que eles aprendem a voar?

Não tem algo do qual eu sinta mais orgulho que minha família, principalmente meu pai e meu irmão. Eu sempre me senti mais forte, assim como achava minha mãe mais forte também. Mas eles me supreenderam, acho que eles também estão aprendendo a voar...E quando lembro de nós quatro, em tantas situações entre maio e agosto de 2008, agradeço a Deus a família que Ele me deu!

Ano passado eu perdi muito...E em 2009, no mês que completar um ano da morte da minha mãe, vou realizar um sonho. Penso na ironia, mas penso também em como é bom realizar sonhos, depois de tudo isso. Minha mãe sempre foi a pessoa com quem eu dividia todos os meus planos. Quando falo isso, eu lembro das muitas vezes em que eu fiquei com ela na cozinha de casa conversando sobre eu vir estudar em São Paulo, e de como naquela época parecia mais dificil do que foi, e lembro também de como ela sempre achou que eu poderia chegar onde eu quisesse e de como ela acreditava em mim. Isso vai ficar comigo para sempre! Por isso, realizar sonhos hoje é honrar aquela que sempre sonhou os meus sonhos...

E acho que por isso eu ando muito bem. Eu ando me sentindo feliz. Agora quando eu vou dormir, ao invés de pensar no que passou, eu penso no que estar por vir, e de como ela ficaria feliz em nos ver bem. Assim eu durmo muito rápido...

Eu ainda quero contar neste blog algumas situações que eu vivi com minha mãe em hospitais, algumas conversas que a gente teve quando ela estava doente, mas ando sem tempo e sem coragem de lembrar. Até agosto eu escrevo tudo.

Agradeço às pessoas que entram aqui atrás de notícias de mim.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL!

Quando eu era criança contava os meses para o Natal. Presentes, comida, festa de família, tudo era muito mágico. Sempre no começo de dezembro minha mãe tirava lá de cima do armário uma caixa com as partes da árvore de natal que seria montada. Nós tínhamos um Papai Noel que andava balançando um sininho, que a gente deixava do lado da árvore.
A gente vai crescendo, o tempo vai passando mais rápido, o Natal chega logo. Em novembro as cidades já estão enfeitadas. Há alguns anos tudo parece mais chato. Tudo é tão igual, chega tão depressa, é tão comum, que a gente se acostuma.
Não era para ser assim. O Natal há tempos é uma festa comercial, mas não deixa de ser uma grande oportunidade de se ter uma festa de família. As pessoas que moram longe o ano inteiro viajam, se reúnem, para passar momentos felizes juntos daqueles que amam. Todo Natal a gente pede que Deus ajude para que “todos estejam aqui no ano que vem...” Depois de um ano inteiro, com tantas viagens, tanta correria, algumas gripes, algumas cirurgias, alguns exames, algumas brigas, algumas noites mal dormidas e problemas, ter todo mundo reunido, sem faltar um, é um milagre! Ganhamos tanto em ter todo mundo ali, mas por ser assim ano após ano, nos acostumamos e não percebemos como fomos abençoados.
Este ano na minha casa nós não montamos árvore, não colocamos luzes na varanda. Há um ano, pela primeira vez, a festa de Natal foi na minha casa. Minha mãe gostou muito. A churrasqueira estava pronta, e foi uma boa oportunidade de usar o espaço. Lembro-me muito bem de quando eu a abracei e desejei Feliz Natal. Nem por um segundo pensei que este ano ela não estaria aqui. Em uma das noites em São Paulo, quando ela estava doente, eu estava tomando banho na casa da minha tia, onde estávamos, e pensei em como o Natal seria triste este ano, com minha mãe doente, pensando que poderia ser o último...Que ingênua eu fui...Ainda achei que teríamos mais um.
Passar pelas festas de final de ano sem ela é triste, as festas viram um peso necessário, que quero que passe logo. Tudo me faz pensar muito em como todas as festas e comemorações daqui para frente serão sem ela. Mas antes de pensar nisso, quero pensar nas pessoas que estão aqui. A lição de 2008 foi dura, mas temos que aprender. Sempre é um milagre termos as pessoas que amamos conosco, que bom que hoje estamos aqui, que podemos reunir a família apesar de tudo. E este ano mais que nunca vi como a família é importante, como são eles que te ajudam nos piores momentos da vida, que dividem o fardo com você, que sempre estarão lá, não importa o que você tenha feito, não importa o que a vida tenha trazido para você. É com eles que você conta, quando tudo parece muito pesado. Não sei como você vê sua família, não sei se você acha que algumas pessoas poderiam ser melhores, ou que eles não ligam para você. Tenho certeza absoluta: quando você precisar, eles vão estar lá.
Desejo a todos um feliz natal! Desejo que você aproveite estar com as pessoas que ama, que abrace as pessoas queridas e sinta que ganhou um presente maravilhoso em ter essa pessoa com você. Se em seu Natal falta alguém muito querido, que você saiba lembrar de coisas boas que viveu com essa pessoa e que tenha certeza que hoje ela gostaria que você estivesse bem ao lado daqueles que estão aqui. Que a ausência imensa não te impeça de ver as bençãos. Se por qualquer razão você está passando o Natal longe das pessoas que ama, que a distância não seja a desculpa para que de alguma maneira você não diga as pessoas como elas são importantes.
Desejo que antes dos presentes, da festa, das roupas, das luzes, haja amor, paz, paciência, respeito. Natal deveria ser uma festa de recomeços, de reconciliações, de esperança. Entre o Natal e o próximo ano há uma semana. É uma chance de você pensar em tudo que anda acontecendo, em como você está sendo, pensar que talvez deva valorizar mais o que realmente importa: as pessoas queridas. Que você aproveite este dia para celebrar a vida e as pessoas que estão com você.
Feliz Natal!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

De férias, em Cruzeiro, na casa da minha mãe

Estou em Cruzeiro de férias há mais de uma semana, e venho evitando escrever no blog. Escrever aqui me faz pensar, e como é fácil passar por cima das coisas tristes, fingir, e ir empurrando tudo para frente. Quando eu estava em São Paulo, alguns dias antes de entrar de férias, fiquei preocupada e desanimada com as férias...Queria descansar logo desse ano tão louco e cruel, mas acordar em casa todos os dias sem minha mãe fazendo barulho na cozinha e ter tempo de pensar na vida me parecia horrível demais. Além disso deixei para as férias a difícil tarefa de arrumar as roupas dela. Ainda está tudo lá, como ela deixou...
Mas me surpreendi: estar em Cruzeiro tem sido bom. Ficar em casa me faz sentir muito próxima da minha mãe. Já disse isso aqui, minha casa foi construída por meu pai e minha mãe. O local dos móveis, os móveis, tudo na cozinha, todos os lençóis, toalhas, tudo tudo foi escolhido por ela, e quase tudo está do jeito que ela deixou. Sinto-me bem em meio a isso tudo. E em Cruzeiro tudo me lembra minha mãe saudável, viva, alegre, e essa lembrança é boa, mesmo que venha com saudade, é boa.
Aqui estou com minha família, ajudo meu pai que não fica mais com a casa tão vazia. Aqui tenho minhas duas cachorrinhas que foram adotadas por minha mãe, que tanto gostava delas. Estou me sentindo tão bem em Cruzeiro que essa semana andei alimentando a vontade de voltar para cá, torcendo para que as coisas melhorem aqui, que tenha trabalho. Meu Deus, a vida é muito curta para perder tempo no trânsito, para morar longe demais das pessoas queridas!
É ruim pensar que ela poderia estar aqui ou que o Natal está chegando sem ela. Quando eu encontro alguém conhecido na rua e a pessoa me pergunta como eu estou, eu sempre digo: “Estou bem”, com muita sinceridade e verdade. Realmente estou. Sinto que sou forte, que minha família é forte, que podemos agüentar muito mais do que pensamos. E é verdade quando dizem que o tempo nos ajuda a passar por uma grande perda. Faz quatro meses, e estamos próximos do Natal. Mas sinto que agora estou me acostumando com tudo isso mesmo. Tudo foi tão rápido que até pouco tempo eu ainda sentia um choque por dia, e era sempre quando eu andava sozinha na rua ou quando eu ia dormir. Era só ficar sozinha e com poucos pensamentos, que eu sentia uma angústia imensa, uma raiva da vida que fez minha família passar por momentos horríveis em hospitais, que fez minha mãe passar por situações de sofrimento, e perder a vida assim, sem chance de fazermos nada. Depois que tudo aconteceu, não teve noite em São Paulo que eu tive sono antes da 1 da manhã. Ir para cama só com muito sono ou ouvindo TV ou Rádio. (Em Cruzeiro tenho sono cedo...aqui me sinto melhor mesmo). Hoje não sinto tanto esse choque, sinto uma tristeza calma e uma saudade grande, mas não revolta.
Não nos resta nada a não ser aceitar o que não podemos mudar. Como é possível a gente se iludir tanto com a vida? Estranhamos tanto a morte, mas ela é o que há de mais comum. As pessoas seguem caminhos diferentes, pensam diferente, têm oportunidades diferentes, mas a morte é certa, e não há tempo, não há aviso. Minha mãe era tão saudável e jovem, sua vida mostrava que ela viveria muitos anos, e ai veio a doença e ela se foi. Rapidamente é possível pensar em muitas tragédias desse ano, em tantas pessoas que perderam pessoas queridas de maneira brutal. Não consigo imaginar como alguém consegue viver depois de perder de uma só vez a casa, os pais, o marido, dois filhos, como uma senhora que apareceu esse mês na TV, vítima das chuvas em Santa Catarina...
Semana passada fui com meu pai a um médico, em uma cidade próxima. Ao ler na ficha que meu pai era viúvo, o médico se lembrou da minha mãe e perguntou o que havia acontecido. Ao saber de tudo, ele nos mostrou um cartaz na parede do consultório, sobre uma instituição. A instituição levava o nome de seu filho, que faleceu há 3 anos, quando tinha 19 anos, com leucemia. O médico nos falou algumas coisas sobre a morte, sobre luto. Disse que quando seu filho morreu ele sentiu que não conseguiria ir para frente, mas foi. Criou a instituição, e um ano depois adotou uma menina. Eu me emocionei ouvindo a história. Imaginei como este médico passou por experiências parecidas com as minhas com minha mãe, e em como deve ser triste perder um filho. Não tem idade, não tem aviso, não tem privilégios...É assim...
Ontem eu assisti uma parte de uma entrevista com o Padre Fábio de Melo. Não sou católica e nem sei muito sobre ele. Sei que ele tem um trabalho muito bonito com música, e no programa falou sobre um livro seu chamando: “Quando o sofrimento bater à sua porta”. Ele contou que perdeu uma irmã em um acidente, e o entrevistador falou que perdeu uma irmã assassinada. O padre falou o que pensa sobre as grandes tragédias da vida, pela quais todo mundo passa. Disse que não importa o que aconteça, a gente não pode chorar a vida inteira, a gente não pode se fazer de vítima das situações, não podemos nos perguntar POR QUE para sempre. A pergunta é: "E agora, o que faço com isso?" Ele disse: "Já que não podemos mudar a vida, deixemos que ela nos mude." Concordo.
A morte choca, a ausência de alguém tão importante e antes tão presente, é difícil de encaixar no dia-a-dia. É difícil. É muito fácil ser calma, ser paciente, dar atenção às pessoas, dar risada, aproveitar todos os momentos, quando tudo está bem. Quando uma parte da vida desaba é difícil se manter firme o tempo todo. Mas temos que tentar, temos que ir para frente. Para a morte não há solução, e a ausência eterna de alguém tão importante dói. Mas não acontece só com a gente, e infelizmente não acontece uma única vez. Esse ano eu aprendi que temos que viver bem com as pessoas e aproveitar os momentos bons, porque aquela história de que o futuro é incerto é verdade.
Estamos bem. Como eu já disse muitas vezes minha mãe foi uma mãe muito boa, uma pessoa que ensinou muito. Sempre foi muito forte perante tudo na vida, todas as tristezas e dificuldades. Perdeu a mãe quando era criança, passou por problemas sérios por isso, mas tinha esperança na vida, acreditava nas pessoas. Se eu estou bem, se nós conseguimos fazer planos hoje, é por ela. Ela me ensinou a passar por tudo isso, a viver mesmo sem ela...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Sem tempo...

Estou com muita vontade de escrever aqui...Cada vez que o tempo passa tudo vai ficando muito lá dentro e isso não é bom. Mas final do semestre não está dando tempo de escrever, embora tenha muito para colocar aqui ainda.
Agradeço as pessoas que entram aqui sempre, e que se preocupam comigo e com minha família. Assim que der, escrevo aqui...Tenho muitas coisas para escrever, contar algumas histórias e relembrar algumas coisas. Preciso!

Ontem voltei no hospital, no Instituto do Câncer, revi muitas pessoas, conversei com o médico que acompanhou minha mãe...Chorei o tempo todo, mas me senti bem. Um lugar em que vivi coisas tão intensas. Meu próximo post vai ser sobre isso...

Hoje pensei bastante em como é triste a gente não saber se vai conseguir viver tudo que a gente quer, com as pessoas que realmente importam...

domingo, 2 de novembro de 2008

"Nossos mortos morrem todos os dias"

Achei a frase do título num site, e nada mais verdadeiro. O luto é uma experiência tão dolorosa porque é constante, diária, e a gente sabe que o que está causando a dor não vai mudar. Ela não vai voltar...o tempo não vai voltar...
Todos os dias minha mão morre, várias vezes. Estou fazendo atividades cotidianas, de repente paro, o silêncio toma minha cabeça e automaticamente minha mente é ocupada pela falta. Sinto um choque, uma sensação estranhamente corporal, o peito aperta, sinto vontade de chorar mas não choro, um segundo de desespero me invade. "Isso não pode realmente ter acontecido", penso. A sensação é tão ruim que me esforço ao máximo para pensar em outra coisa, e continuar fingindo. Quando vou dormir, tenho que estar com muito sono, se não o escuro e o silêncio potencializam essa sensação, e é horrível.
Cada vez fica mais dificil ir para Cruzeiro, porque lá a ausência dela é constante, a toda segundo. Eu tento fugir de sentir a dor do vazio, mas sei que quanto mais eu enfrentar essa dor, mais cedo vou me acostumar a senti-la, e mais cedo a ausência vai estranhamente fazer parte.

Esses dias andei pensando nessa experiência de "viver a morte" e ter alguém tirado de nós. Falei para muitas pessoas nesses meses que só não perde alguém quem vai embora cedo. Viver muito é uma dádiva. Quantas experências boas podemos ter, como deve ser legal atravessar periodos da história, ver a sociedade mudar, ter história para contar...Como eu queria que minha mãe vivesse ainda o dobro. Mas quanto mais a gente vive mais pessoas queridas nós vemos ir embora.
Tenho 4 avôs: minha avó paterna, meu avô paterno, meu avô materno e uma bisavó (mãe do pai da minha mãe). Minha bisavó tem mais de 90 anos. Já enterrou o marido com quem viveu por mais que meio século. Já enterrou filho, que nem imagino como deve ser duro. Já enterrou uma neta. Ela é a chefe de uma familia gigante, teve mais de 10 filhos, tem muitos netos, bisnetos, e já tem tataranetos. Pessoas se vão, pessoas chegam...
Meu avô materno perdeu sua mulher há 40 anos, e até hoje chora por ela. Ele perdeu uma filha e agora chora pelas duas. Meu avô paterno tem 82 anos. Perdeu sua mãe com a mesma idade que eu perdi a minha. Ele também chora se falar dela. Ele já perdeu irmãos, e quando vai contar quais dos colegas de trabalho estão vivos, fica triste ao ver que a maioria já se foi. Minha avó paterna perdeu a mãe quando tinha 15 anos. Já perdeu a maioria dos irmãos e o pai. Uma de suas irmãs teve um tumor no cérebro e viveu 20 anos cega. Um outra irmã teve câncer de mama, que foi para os ossos e a fez sofrer muito...

Eu quero viver bastante, tenho muitos planos e sonhos. Quero viver muito para ter filhos, contar a eles sobre minha mãe. Quero que eles entendam o que ela significa para mim. Quero que eles saibam como ela queria estar com eles, porque sei que é assim que as pessoas se eternizam: ficam vivas enquanto há pessoas que foram tocadas por elas.

Mas peço sabedoria para saber ter muitos anos. Que eu saiba mudar, que eu saiba perder. Desejo isso a você também.

sábado, 1 de novembro de 2008

Sobre a morte

No dia 11 de agosto, um dia antes de minha mão falecer, ela foi transferida do Instituto de Câncer para o Pronto Socorro do Hospital das Clínicas, onde seria avaliada a possibilidade de uma cirurgia de emergência. Entrei no Pronto Socorro com ela aquele dia com muitas lembranças daquele lugar. Foi pelo pronto socorro que ela entrou no HC, no dia 27 de Maio, la no comecinho, quando ela ainda sentia poucos sinais da doença. Ali ela ficou internada por 12 dias, em meados de junho, para tratar a trombose. Ali foi onde ela respirou pela última vez. Ainda vou um dia escrever melhor sobre esse lugar, que para mim resume bem o que é um pesadelo. O que acontece se você coloca muitos pacientes em macas, precisando de atendimento imediado, em um corredor largo e feio, por onde passam pessoas baleadas e vítimas de acidentes graves, com muitos enfermeiros e médicos residentes já sem paciência para atender todo mundo? Um caos.
Mas não vou falar sobre isso hoje. Quero contar uma cena desse dia 11 de agosto. Entrei no pronto socorro ajudando o enfermeiro a empurrar a maca onde minha minha mãe estava. Ela respirava com a ajuda de uma balão de oxigênio, e não estava 100% consciente. A enfermeira que a recebeu a levou para uma das salas de emergência. Esta sala podia receber a qualquer momentos pessoas que precisavam ser atendidas com emergência e por isso eu não podia ficar la dentro o tempo todo. Fiquei na porta, olhando angustiada para minha mãe, que estava com os olhos fechados e respirando com dificuldade. Ao meu lado, uma senhora com uns 60 anos, que vou chamar aqui de Joana, também olhava para a sala com preocupação. Quando as enfermeiras fechavam a porta, nós duas tentávamos enxergar pela fresta. Começamos a conversar. Dona Joana me contou que lá dentro, do lado da minha mãe, estava sua mãe, uma senhorinha de 85 anos, que tinha leucemia. Joana me contou que sua mãe tinha acordado cansada demais naquela manhã, e ela achou melhor levá-la para o hospital. Quando consegui olhar quem era a senhorinha, me supreendi ao avistar uma senhora sentada na maca, se movimentando bem. Ela estava segurando uma máscara de oxigênio. Era uma senhorinha com todos os cabelos brancos. Não consegui não compará-la com minha mãe. Minha mãe, 40 anos mais jovem que ela, tão bonita, com tanto tempo pela frente, estava ali, deitada, sem saber o que estava fazendo ali, não conseguia mais conversar com a gente, os médicos já tinham nos dito que ela tinha pouco tempo. Ela estava ali com sua vida indo embora tão cedo, e aquela senhora com mais de 80 anos, vitima também da mesma doença, estava bem, sentada, conversando. Joana estava muito preocupada com sua mãe, mas eu, de maneira egoísta, pensei que eu tinha mais razões para ficar triste, para me desesperar...
Naquela bagunça de Pronto Socorro, minha mãe acabou indo para outra sala, e a mãe de Joana foi para outra também. Mais tarde meu irmão e meu pai receberam permissão para entrar no Pronto Socorro, pelo agravamento do estado da minha mãe. Por volta de 23 horas, meu pai estava no telefone, eu e meu irmão estávamos sentados em frente a sala onde nossa mãe estava. De repente, levamos um susto com alguns médicos empurrando com pressa uma maca com uma senhora, e Joana estava atrás, chorando, gritando, desesperada. Os médicos entraram com sua mãe na sala, e Joana ficou descontrolada do lado de fora. Eu, meu irmão e mais algumas pessoas que ali estavam corremos para ajudá-la. Pegamos uma cadeira, meu irmão pegou água. Joana só falava: "Não posso perder minha mãezinha! Não acredito que vou perder minha mãe". Ela falava isso sem parar, respirava forte, falava perdendo o ar. Alguém nos disse que sua mãe teve uma parada cardíaca de repente, e foi levada para a sala para reanimação. Uma médica foi falar com Joana, dizendo que os médicos estavam cuidando de sua mãe. Eu e meu irmão tentamos conversar com Joana, acalmá-la, mas ela estava tão descontrolada que não conseguia nos ouvir. Eu e meu irmão nos olhávamos, não dissemos nada sobre nosso mãe, mas pensamos na ironia daquilo tudo. Estávamos consolando uma senhora de 60 anos, que perdia sua mãe de 85, e o médico já tinha avisado que nossa mãe estava indo embora...
Eu com 22 anos, meu irmão com 19. Minha mãe com 46, podendo ainda viver o dobro do que até ali tinha vivido. Como ainda tínhamos planos! Como planejamos coisas achando que tínhamos controle sobre o futuro. Meu pai, com 54 anos, planejou se aposentar, ter mais tempo para viajar com ela, curtir os netos com ela. Eu sei que meu pai nunca pensou na possibilidade de ver minha mãe morrer. Eu sei que ele achava que ia antes dela.
Eu e meu irmão estávamos ali acalmando Joana, desesperada, não acreditando que tinha chegado a hora do que ela com certeza temeu por toda sua vida. Alguns minutos depois uma médica deu a noticia para Joana: sua mÃe teve uma parada cardiaca e não resistiu.
Essa história me fez pensar em duas coisas.
Eu e meu irmão conversamos sobre isso naquele dia. Concluimos que sempre é cedo para se perder uma mãe. Sempre a gente quer que dure mais, sempre a gente perde muito, muito, muito. Minha mãe se foi muito nova, sua ida vai deixar um vazio em todos os momentos das nossas vidas que eram para ser felizes. Joana queria que sua mãe visse seu bisneto nascer, queria que a mãe estivesse no casamento de sua filha mais nova...Sempre é cedo...Sempre a perda é infinitamente gigante...
Pensei também em como nos enganamos com a hora da morte. Quando vi Joana tive certeza que ela estava desesperada, mas que eu perderia minha mãe antes dela. Não foi assim.

Quando descobrimos a doença, minha mãe passou a temer muito a morte. Durante os 81 dias, ela não conseguia dormir, ficava as vezes olhando para o nada, só pensando. Sei que ela pensava na morte, pensava em como ela parecia mais próxima desse momento, em como sua vida estava sendo ceifada, sem dó, sem aviso, sem que pudéssemos fazer nada. Eu sabia que a doença dela era grave, mas eu não pensava que fosse ser tão rápido. Quando a médica me disse que minha mãe tinha poucos dias levei um susto porque não sabia que pudesse ser assim. Achei que ainda estariamos juntos no natal, pensei que ela ainda iria para Cruzeiro, que veria sua casa ainda...
Temos uma certeza na vida, a única certeza, todos vamos morrer. É pessimismo dizer isso, mas estamos todos morrendo, a cada dia um dia a menos...Ter uma doença grave vai diminuir esses dias, mas ainda é vida...
Em abril fui com minha mãe visitar uma pessoa com uma doença grave, para quem os médicos deram pouco tempo. A familia não contou para a pessoa sobre a doença. Chamei meu namorado para um canto e disse a ele: "Estranho pensar que é a ultima vez que minha mÃe está vendo essa pessoa". Hoje quase me arrepio em pensar que foi a última vez que elas se viram, mas quem se despediu da vida foi minha mãe, e a pessoa está viva e bem, e ainda não sabe da doença. Me arrepio não em pensar que esta pessoa está viva. Acredito na vida, e não acredito em previsões médicas, de jeito nenhum. Espero que essa pessoa supreenda mais e mais. Me arrepio em pensar em como naquele momento minha mãe estava bem, em como sua morte não era nem um pouco possível.

Sempre gostei de ter agenda, de escrever todos os compromissos, todas as datas de trabalhos, de provas, escrever meus gastos...Só em outubro consegui voltar a fazer isso. Em agosto e setembro eu olhava minha agenda e me dava uma sensação muito ruim. Que controle nós temos? Quem sou eu para planejar o futuro, se ele realmente pode não chegar?

A verdade é que não podemos fazer nada se chegar a hora, mas ainda bem que nos esquecemos disso. Viver com medo de perder só nos faz viver antes o que será mesmo inevitável...

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A sorte do meu irmão

Hoje acompanhei meu irmão no hospital. Desde quando minha mãe ficou doente ele vinha sentindo muitas dores na região do estomâgo, emagreceu mais que todo mundo, e apresentou umas alterações intestinais, digamos, "suspeitas". Um dia ele foi num pronto atendimento, e o médico pediu que ele fizesse uma endoscopia, pelas dores que vinha sentindo, e uma colonoscopia, pelo histórico familiar (é estranho falar "histórico". Dá uma idéia de passado distante, mas há 5 meses nada disso fazia parte da nossa vida...E há pouco mais de 2 meses minha mãe estava aqui, com a gente...). O médico disse que câncer na região abdominal tem um fator genético forte e que pode dar em gente nova sim... Médico tranquilizador né?

Meu irmão melhorou das dores, mas fomos hoje fazer os exames. A colonoscopia é exame de gente velha, tanto que os médicos perguntaram para ele o porquê de ele estar fazendo. Nenhum médico pede esse exame antes dos 50 anos, se não tem casos de doenças intestinais na família ou se sintomas específicos não estejam ocorrendo. Ninguém nunca pediu à minha mãe.

Entrei em um hospital de novo, como acompanhante, mas nem recordei muitas coisas. Que diferença! Minha mãe quando fez a colonoscopia quase não conseguiu andar do carro até o hospital. Como estava fraca! A enfermeira teve que dar soro para ela antes, e quase que ela não consegue tomar todo o liquido que eles dão para limpar de vez o intestino. Quando minha mãe fez o exame já sabíamos das metástases, e uma enfermeira me disse que havia aparecido "um tumorzinho" no cólon. Lembro que chorei, mesmo que já esperasse, porque a gente sempre confia que exista uma possibilidade, ainda.

Hoje fiquei 3 horas com meu irmão, até que "tudo saísse de vez", e até nos divertimos (com certeza eu mais que ele, coitadinho, a preparação do exame realmente não é fácil).

Quando acabou o exame o médico veio me avisar, disse que estava tudo bem, e que queria falar com meu pai, pois a enfermeira disse que ele estava nervoso. Percebi que o médico tinha algo para me falar, mas nem insisti. Acho que procurei que nada me lembrasse tudo que aconteceu, o que minha mãe passou, sei lá, não sei pensar nisso...

Quando meu irmão emfim acordou, quando o efeito do sedativo passou, enquanto a enfermeira verificava sua pressão, um médico muito simpático e atencioso falou com a gente (meu pai, meu irmão e eu). Ele disse que na endoscopia apareceu uma esofagite, uma gastrite e uma pequena úlcera no duodeno, mas que já estava se cicratizando. Ele disse que tudo indica que meu irmão teve essas coisas pelo momento pelo qual estamos passando...muita ansiedade, estresse, etc...Pequenas coisinhas, tudo com solução.
Na colonoscopia apareceu um pólipo, muito pequeno, no reto. Quando o médico falou isso, não me surpreendi. Não sei porquê, mas eu esperava. Faz um tempo que venho alimentando uma certeza que a doença da minha mãe teve uma causa genética muito forte. Tudo que evita câncer de intestino ela fazia, tudo! Comer certos alimentos, não ser sedentária, não beber, etc etc...O pólipo do meu irmão foi retirado durante a colonoscopia, e mandado para biópsia, mas o médico garantiu que é benigno. É importante que meu irmão faça exames anuais, para que se retirem outros possíveis pólipos. O médico disse que não é incomum aparecer pólipos em qualquer pessoa, mas que pelo o que aconteceu com minha mãe, tudo indica que o surgimento de pólipos nesse caso tenha caráter hereditário. Meu irmão tem 19 anos!

O que é um pólipo? Pólipo é uma "semente". Um dia ele pode sumir liberando um pouco de sangue. Um dia ele pode morrer. Um dia ele pode virar um tumor, e se tornar maligno. Quase todos os cânceres colorretais começam assim, e demoram anos para crescer. Hoje quando sai do hospital eu chorei e fiquei muito triste. Sei que agora nós sabemos que temos que fazer esse exame sempre, pois nossos genes tão ai gritando, mas minha mãe não soube, não foi avisada. Um exame tão rápido! Se com minha mâe começou assim, um pólipo pequeno ficou lá em silêncio, cresceu, cresceu, virou câncer e ficou quieto mesmo assim. Mandou células cancerosas para o figado, e lá se alastrou. De repente o corpo dela deu sinal, mas já era tarde...O médico hoje disse: "temos que focar na prevenção, não esperar aparecer sinal para correr atrás". Sim doutor, nós sabemos disso, muito bem, infelizmente. Sabe quanto custa uma vida? Sabe quanto custa ter uma mãe com a gente? Sei que não adianta pensar em por que não fizemos esse exame. Ela nunca faria, não tinha razão. Não teve erro, não tem culpado.

O médico de hoje falou de novo da importância de eu fazer exames, dos irmãos da minha mãe fazerem exames. Sei que é horrível pensar que dentro de nós pode haver algo de ruim crescendo em silêncio, mas temos um alarme tocando aí. Minha mãe não foi em vão... Não é essa doença que vai nos matar. Meu irmão está seguro. E temos que comer mais fibras. Sei que minha mãe me diria isso...
Ai que saudade :-(

domingo, 12 de outubro de 2008

Dois meses...

Faz dois meses que entrei na sala do hospital e te vi respirar fundo. Seus olhos já estavam inchados. A enfermeira disse que você não podia mais me ouvir, mas eu falei. Falei para você ir em paz, descansar, dormir como você vinha pedindo há quatro dias..."me deixa dormir mais um pouquinho”. Falei que seria muito difícil, mas prometi que seguiria em frente, que realizaria tudo que antes de você ficar doente eu te disse que faria. Falei que cuidaria do meu irmão e do meu pai. Falei que você foi um presente para nós...sei que todo mundo acha que tem a melhor mãe do mundo. Para mim, mesmo antes de pensar em te perder, eu sabia que você era a melhor. Eu sempre tive certeza da sorte que eu tinha em ter você. Beijei sua testa, chorando muito, e sai da sala. Vi que você estava calma, só respirava. Naquela manhã eu pedi a Deus que aliviasse seu sofrimento, e Ele agiu. Você não sofre mais, nunca mais vai sofrer. A doença já morreu. Hoje você dorme, um sono sereno, sem dor, sem pesadelos.

Hoje eu sinto uma saudade imensa, uma saudade que beira o desespero, porque sei que nada vai te trazer de volta, nunca mais...Eu penso em você quase o tempo todo, e consigo até ficar feliz, porque sei que tudo sempre deu certo, porque aproveitamos uns aos outros como pudemos. Sei que tivemos muitos bons momentos...E só pensando em você consigo ter forças.

Essa semana eu acordei de um sonho, no qual você tinha morrido. Por 3 segundos eu pensei aliviada: “Ainda bem que era sonho...”. Quando me veio à realidade, pensei: “não acredito que isso realmente aconteceu”.