terça-feira, 9 de julho de 2013

De volta nos EUA

Já faz um mês que voltei aos Estados Unidos. Desde minha última postagem algumas coisas aconteceram. Lidar com tudo sem ajuda foi impossível e comecei a fazer terapia. Foi muito bom, principalmente para eu entender que não podia parar minha vida para estar com meu pai. E que o processo da doença dele iria acontecer, eu estando lá ou não. Em terapia decidi voltar pros Estados Unidos, antes de completar seis meses de ausência. Sou legalmente uma residente, e ficar muito tempo fora não soa bem. Posso ter problemas com a imigração, o que afetaria drasticamente meu futuro.

Decidi voltar, mas decidi adiar o mestrado. Quando existe uma boa razão, eles permitem que você comece no próximo ano acadêmico. Conversei com o médico do meu pai, e conclui que seria a melhor saída. Não posso passar esse ano inteiro no Brasil, mas é bom eu saber que a qualquer momento posso voltar para ajudar meu pai, sem ter compromissos acadêmicos. E quero me dedicar 100% ao mestrado. Solicitei e me concederam o adiamento.

Não foi fácil sair do Brasil. Por mais que eu tenha me preparado, não posso fazer outras pessoas entenderem. Minha familia é inteira de uma cidade pequena, em que poucos tiveram a iniciativa de sair da cidade. A idéia de uma filha deixar o pai com uma doença grave é bem estranha, e sei que sou julgada. Mas venho aprendendo a não me incomodar muito com isso. Só a gente mesmo conhece nossos passos. Se ninguém nunca vai estar nos meus pés, ninguém nunca vai ter qualquer tipo de base para, nem mesmo, tentar me entender. Desde quando comecei este blog minha vida tomou um rumo tão único, que já passou a muito tempo do ponto em que alguém que morou a vida inteira na mesma cidade possa entender. 

Vim, com força e coragem. Nem chorei saindo de Cruzeiro. Nem chorei pegando o avião. Chorei só um pouquinho quando minhas amigas Luiza e Kátia foram se despedir de mim no aeroporto, e uma delas me disse que eu era uma boa filha. Chorei porque a realidade parece dizer o contrario. Apesar de tudo, eu me acho boa filha sim. E me sinto mal por não poder fazer mais. Queria sim poder ficar o tempo todo com meu pai, ajudá-lo, até quando ele precisasse. Mas infelizmente na vida a gente tem que tomar decisões maduras, que não são apenas baseadas no Querer. 

E ainda bem, a vida sempre nos surpreende. Vim pros Estados Unidos com a idéia de voltar para o Brasil, quando meu pai precisar. E eis que ele está muito bem! Talvez seja o intervalo da quimio (que deixa ele bem anêmico). Meu pai está bem mais animado que antes, resolve suas coisas, cozinha, faz compras. A perna e a barriga ainda estão inchando, mas ele está conseguindo se virar. Isso me deixou muito feliz, pois aconteceu bem quando todos nós precisavamos. Quando eu estava lá, eu fazia tudo! Eu quase não conseguia enxergar como seria possivel minha ausencia neste momento, mas eis que novamente descubro, ainda bem, não somos insubstituiveis. 

Mas claro, sr Freud, as coisas não são tão simples assim. Nas ultimas duas semanas venho tendo o mesmo tipo de sonho. Coisas acontecem, e alguém me avisa que minha mãe está morrendo. E eu sinto uma tristeza absurda! E no sonho, vou ve-la e a gente conversa. Em um sonho ela me disse que queria passar o dia das mães comigo. No sonho de hoje eu tinha que pegar um avião, mas estava adiando para estar com ela quando ela morresse. Acho que claramente tem tudo a ver com meu pai, e o fato de eu estar longe.

Para completar meu avô, pai do meu pai, não está bem. Já está sem noção das coisas, e fica mais na cama. Tentei ajudar um pouco quando estava lá, já que era a única neta na cidade. Mas agora não posso mais. Está sendo um momento muito dificil para a família. 

No começo de agosto meu marido se muda para NY, e vou mudar com ele. Vai ser meu endereço nos EUA até meu mestrado no próximo ano. Estou animada para estar em outras ares, explorar uma nova cidade. Mas ter duas realidades tão diferentes é pesado! Esse mês não está sendo fácil, porque é um mês de dupla transição. Passei seis meses no Brasil, e ainda estou me reacostumando aqui. De repente aquela realidade de doença e hospital não está no dia a dia, mas está mais forte dentro de mim. Não vai embora. É dificil não ver a morte como um tema recorrente. É muito dificil não me pegar pensando em como a vida é sensivel.  

Tentando não me preocupar demais com o futuro. Sei que tudo vai acontecer na hora certa para acontecer. E eu estarei no lugar certo também.
 



5 comentários:

  1. Boa noite... Passando novamente para ler suas "atualizações"... rs Espero que não se importe...

    Mesmo sem lhe conhecer, fiquei feliz em saber que retomou sua vida. Além de lhe fazer bem, com certeza, também fará bem ao seu pai.

    Eu moro em São Paulo, e no meu primeiro comentário, acho que lhe disse que estou com uma grande amiga passando pela mesma doença. Ela está fazendo tratamento no AC Camargo e está conseguindo ótimos resultados, graças a Deus. Vou lhe deixar um e-mail, e caso precise de alguma coisa aqui de SP, não hesite em me procurar, ok? Fiz um e-mail rapidinho, para deixar aqui na internet... Pode me escrever que lhe mando meu e-mail usual (da empresa) e o meu telefone.
    Um grande abraço e fique com Deus
    (mariblue20@hotmail.com.br)

    ResponderExcluir
  2. Acompanho seu blog desde fev/2012 quando descobri que minha mãe estava com câncer de intestino com metástase hepática. e aconteceu em maio maio, dia 31, do mesmo jeito que foi com sua mãe. Dói muito. Nem me imagino com sua força, passar por tudo aquilo de novo, com outro pessoa tão amada. Esta coragem só pode vir de Deus! Fique em paz!

    ResponderExcluir
  3. “Franz Kafka, conta a história, certa vez encontrou uma menininha no parque onde ele caminhava diariamente. Ela estava chorando. Tinha perdido sua boneca e estava desolada. Kafka ofereceu ajuda para procurar pela boneca e combinou um encontro com a menina no dia seguinte no mesmo lugar. Incapaz de encontrar a boneca, ele escreveu uma carta como se fosse a boneca e leu para a garotinha quando se encontraram. “Por favor, não se lamente por mim, parti numa viagem para ver o mundo. Escreveu para você das minhas aventuras”. Esse foi o início de muitas cartas. Quando ele e a garotinha se encontravam ele lia essas cartas compostas cuidadosamente com as aventuras imaginadas da amada boneca. A garotinha se confortava. Quando os encontros chegaram ao fim, Kafka presenteou a menina com uma boneca. Ela era obviamente diferente da boneca original. Uma carta anexa explicava: “minhas viagens me transformaram…”. Muitos anos depois, a garota agora crescida encontrou uma carta enfiada numa abertura escondida da querida boneca substituta. Em resumo, dizia: “Tudo que você ama, você eventualmente perderá, mas, no fim, o amor retornará em uma forma diferente”.
    ~ May Benatar, no artigo “Kafka and the Doll: The Pervasiveness of Loss” (publicado no Huffington Post)

    ResponderExcluir
  4. Poxa vc e uma guerreira,hj fui de manha levar meu pai pela 1ºvez na quimioterapia.Foi muito doloroso,ele era o mais magro dos pacientes.Sai de la despedaça mas como vc consegue tanta força?
    E estranho..tanto esforço que o paciente e a familia fazem sem saber ao menos se esse esforço valera a pena.Obrigada
    Viviane -Rio de Janeiro

    ResponderExcluir
  5. Acabo de levar meu pai para quimioterapia tem 2horas,foi a primeira vez.Sao tantos sentimentos:dor,esperança,desesperança,tristeza,desanimo,fe.Que tem horas que fico em estado de letargia.Vc tem muito o que ensinar mesmo,mas e muito dolorosa essa doença:quimio e quimio e no final nao sabemos se todo o esforço tera algum resultado.Bj

    ResponderExcluir

Obrigada por seu comentário! Ele será logo publicado.