quarta-feira, 10 de maio de 2017

O que vai embora com ela

Há uma parte da minha vida que se foi para sempre, que carrega todos os momentos do futuro que nunca vão acontecer, todos os telefonemas, as lágrimas, os risos. Os conselhos, os puxões de orelha, os cortes de cabelo. Os desentendimentos, as surpresas. O dia das mães pertence a essa parte da minha vida. O mundo não te deixa esquecer que você deve celebrar com sua mãe. Mas ela se foi, e o dia também. Pela nona vez esta semana.

E o tempo é sim um amigo, embora traiçoeiro. O tempo cura a dor, que em vez de ser aquela ferida aberta que sangra sem parar, é agora uma cicatriz feia, que você não pode cobrir. Mas o tempo também te faz perceber a grandeza de tudo que realmente se foi com sua mãe. A lasanha no seu aniversário, a coxinha. O cuidado de quem te colocava em primeiro lugar. Uma rede, que não está mais lá se você cair. E não ter mãe dá uma ansiedade do caramba. Você NÃO pode cair. Não pode ficar doente e precisar de alguém cuidando de você por mais de 2 dias. Não pode perder o emprego. Não pode largar tudo e ir morar com ela.

Quando sua mãe se vai, você fica sozinho de uma maneira muito profunda. É um tipo de solidão existencial. Acompanhada da saudade reversa de tudo que não virá. Poderíamos ter tido ainda pelo menos 40 outros anos. Que saudade do que não viveremos! Não terão mimos que eu compraria pra pra ela. Não terão nossas viagens. Não terei eu contando o que eu fiz, ou vi. Não terá ela me dizendo que tudo ficará bem. Não terá nós duas, envelhecendo, e mudando de opinião com o mundo, e recriando jeitos de ser mãe e filha. Não terá ela virando avó no dia em que eu virar mãe.

Há uma parte da minha vida que nem aconteceu, e já se foi, para sempre. E sinto uma saudade danada!