terça-feira, 7 de outubro de 2014

Dói até nos dias felizes

Acordei super cedo, meio que atrasada e lembrei do meu sonho inteiro. Eu estava em Cruzeiro, de repente era Sao Paulo, de repente era aqui. Eu estava com meu pai, que estava doente, a barriga inchada. Mas ele estava feliz. Minha mãe tambem estava la, meio que em segundo plano, meio que cuidando dele. No sonho eu estava preocupada porque estava chegando a hora de eu ir embora, mas não podia deixar meu pai. No final, decidi ficar com ele, mas isso significava que eu iria ficar longe do meu irmão. Baguncei tudo no sonho, mas acordei pensando em como o ultimo ano do meu pai, com ele doente, foi dificil, cheio de ambiguidades, culpas, decisões. Lembrei de um dia, bem no comecinho de janeiro de 2014, quando ele teve que ir numa loja cancelar um cartao, e fui com ele. Ele já estava bem fraco, quase não andando sem ajuda. Andamos um quarteirao da loja até o carro, e encontramos por acaso uma conhecida do meu pai. Eu vi no rosto dela que ela estava chocada com a aparencia do meu pai. Acho que tudo foi só acontecendo, e não tive muito tempo de me chocar. Então as vezes, sem eu perceber, eu me choco por esses dias.

Hoje tive aula/atividades extras das 8 da manhã as 8 noite. Puxado, mas gosto muito das aulas e de tudo mais. É um desafio sempre, mas é também bom quando a gente se supera, e sai da zona de conforto. O mestrado tem sido muito bom, mesmo que puxado, me deixando sem tempo pra nada (meu contato com o Brasil diminuiu muito, simplesmente neste ano isso vai ficar comprometido).

A noite, sentei num banco, no canto da estação, para esperar meu ônibus. Não consegui controlar, só chorei. Um choro com muito sentido, mas sem forma. Parece que dentro de mim tem uma tristeza, que aparece muito espontaneamente, mesmo quando tudo está bem. Não é depressão, não estou deprimida. É como se eu me lembrasse de um filme triste e chorasse, mas o filme aconteceu comigo e minha família. Chorei de lembrar do meu pai. Doente, com tantos medos, tantas angustias, querendo a gente sempre por perto, e a gente tendo que fazer outras coisas. Chorei de lembrar de Cruzeiro, da casa vazia, meus cachorrinhos carentes, de quando tive que me despedir de tanta coisa, do meu quarto de décadas. Tantos vazios nas ruas daquela cidade. Lembrei de como me despedi do meu pai, e de como isso é só mais um pedaço das dores e saudades que não vão embora nunca.

Depois lembrei também que um dia esses vazios viram parte da gente, e não doem da mesma forma.