segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

De férias, em Cruzeiro, na casa da minha mãe

Estou em Cruzeiro de férias há mais de uma semana, e venho evitando escrever no blog. Escrever aqui me faz pensar, e como é fácil passar por cima das coisas tristes, fingir, e ir empurrando tudo para frente. Quando eu estava em São Paulo, alguns dias antes de entrar de férias, fiquei preocupada e desanimada com as férias...Queria descansar logo desse ano tão louco e cruel, mas acordar em casa todos os dias sem minha mãe fazendo barulho na cozinha e ter tempo de pensar na vida me parecia horrível demais. Além disso deixei para as férias a difícil tarefa de arrumar as roupas dela. Ainda está tudo lá, como ela deixou...
Mas me surpreendi: estar em Cruzeiro tem sido bom. Ficar em casa me faz sentir muito próxima da minha mãe. Já disse isso aqui, minha casa foi construída por meu pai e minha mãe. O local dos móveis, os móveis, tudo na cozinha, todos os lençóis, toalhas, tudo tudo foi escolhido por ela, e quase tudo está do jeito que ela deixou. Sinto-me bem em meio a isso tudo. E em Cruzeiro tudo me lembra minha mãe saudável, viva, alegre, e essa lembrança é boa, mesmo que venha com saudade, é boa.
Aqui estou com minha família, ajudo meu pai que não fica mais com a casa tão vazia. Aqui tenho minhas duas cachorrinhas que foram adotadas por minha mãe, que tanto gostava delas. Estou me sentindo tão bem em Cruzeiro que essa semana andei alimentando a vontade de voltar para cá, torcendo para que as coisas melhorem aqui, que tenha trabalho. Meu Deus, a vida é muito curta para perder tempo no trânsito, para morar longe demais das pessoas queridas!
É ruim pensar que ela poderia estar aqui ou que o Natal está chegando sem ela. Quando eu encontro alguém conhecido na rua e a pessoa me pergunta como eu estou, eu sempre digo: “Estou bem”, com muita sinceridade e verdade. Realmente estou. Sinto que sou forte, que minha família é forte, que podemos agüentar muito mais do que pensamos. E é verdade quando dizem que o tempo nos ajuda a passar por uma grande perda. Faz quatro meses, e estamos próximos do Natal. Mas sinto que agora estou me acostumando com tudo isso mesmo. Tudo foi tão rápido que até pouco tempo eu ainda sentia um choque por dia, e era sempre quando eu andava sozinha na rua ou quando eu ia dormir. Era só ficar sozinha e com poucos pensamentos, que eu sentia uma angústia imensa, uma raiva da vida que fez minha família passar por momentos horríveis em hospitais, que fez minha mãe passar por situações de sofrimento, e perder a vida assim, sem chance de fazermos nada. Depois que tudo aconteceu, não teve noite em São Paulo que eu tive sono antes da 1 da manhã. Ir para cama só com muito sono ou ouvindo TV ou Rádio. (Em Cruzeiro tenho sono cedo...aqui me sinto melhor mesmo). Hoje não sinto tanto esse choque, sinto uma tristeza calma e uma saudade grande, mas não revolta.
Não nos resta nada a não ser aceitar o que não podemos mudar. Como é possível a gente se iludir tanto com a vida? Estranhamos tanto a morte, mas ela é o que há de mais comum. As pessoas seguem caminhos diferentes, pensam diferente, têm oportunidades diferentes, mas a morte é certa, e não há tempo, não há aviso. Minha mãe era tão saudável e jovem, sua vida mostrava que ela viveria muitos anos, e ai veio a doença e ela se foi. Rapidamente é possível pensar em muitas tragédias desse ano, em tantas pessoas que perderam pessoas queridas de maneira brutal. Não consigo imaginar como alguém consegue viver depois de perder de uma só vez a casa, os pais, o marido, dois filhos, como uma senhora que apareceu esse mês na TV, vítima das chuvas em Santa Catarina...
Semana passada fui com meu pai a um médico, em uma cidade próxima. Ao ler na ficha que meu pai era viúvo, o médico se lembrou da minha mãe e perguntou o que havia acontecido. Ao saber de tudo, ele nos mostrou um cartaz na parede do consultório, sobre uma instituição. A instituição levava o nome de seu filho, que faleceu há 3 anos, quando tinha 19 anos, com leucemia. O médico nos falou algumas coisas sobre a morte, sobre luto. Disse que quando seu filho morreu ele sentiu que não conseguiria ir para frente, mas foi. Criou a instituição, e um ano depois adotou uma menina. Eu me emocionei ouvindo a história. Imaginei como este médico passou por experiências parecidas com as minhas com minha mãe, e em como deve ser triste perder um filho. Não tem idade, não tem aviso, não tem privilégios...É assim...
Ontem eu assisti uma parte de uma entrevista com o Padre Fábio de Melo. Não sou católica e nem sei muito sobre ele. Sei que ele tem um trabalho muito bonito com música, e no programa falou sobre um livro seu chamando: “Quando o sofrimento bater à sua porta”. Ele contou que perdeu uma irmã em um acidente, e o entrevistador falou que perdeu uma irmã assassinada. O padre falou o que pensa sobre as grandes tragédias da vida, pela quais todo mundo passa. Disse que não importa o que aconteça, a gente não pode chorar a vida inteira, a gente não pode se fazer de vítima das situações, não podemos nos perguntar POR QUE para sempre. A pergunta é: "E agora, o que faço com isso?" Ele disse: "Já que não podemos mudar a vida, deixemos que ela nos mude." Concordo.
A morte choca, a ausência de alguém tão importante e antes tão presente, é difícil de encaixar no dia-a-dia. É difícil. É muito fácil ser calma, ser paciente, dar atenção às pessoas, dar risada, aproveitar todos os momentos, quando tudo está bem. Quando uma parte da vida desaba é difícil se manter firme o tempo todo. Mas temos que tentar, temos que ir para frente. Para a morte não há solução, e a ausência eterna de alguém tão importante dói. Mas não acontece só com a gente, e infelizmente não acontece uma única vez. Esse ano eu aprendi que temos que viver bem com as pessoas e aproveitar os momentos bons, porque aquela história de que o futuro é incerto é verdade.
Estamos bem. Como eu já disse muitas vezes minha mãe foi uma mãe muito boa, uma pessoa que ensinou muito. Sempre foi muito forte perante tudo na vida, todas as tristezas e dificuldades. Perdeu a mãe quando era criança, passou por problemas sérios por isso, mas tinha esperança na vida, acreditava nas pessoas. Se eu estou bem, se nós conseguimos fazer planos hoje, é por ela. Ela me ensinou a passar por tudo isso, a viver mesmo sem ela...

4 comentários:

  1. Lindinha...
    tava com saudades de te ouvir aqui, de saber de vc!Estranho...nesses dias vc ocupou grande parte dos meus pensamentos...tava um pouco preocupada, e foi bom saber que está seguindo em frente...com toda a força que aprendi a admirar.

    te amo amiga...

    bjs ka

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  2. Aline querida, concordo com você em gênero número e talvez em grau sobre como encarar a vida após tal perda. Não sabia desses pensamento desse Padre, eu vivi muito tempo na igreja católica e mesmo assim nunca olhei com bons olhos para esses religiosos Pop-Stars. Mas enfim, acho que na realidade a vida não nos muda e sim somos nós que atribuímos um sentido ao que nos acontece. Assim como disse um teórico (psicólogo) chamado Viktor Frankl, a vida nos faz perguntas que devemos saber de que maneira iremos responder à elas. Ou seja, é você quem constrói a sua experiência se quiser sofrer para o resto da vida, essa será a sua resposta e não a da vida. Se quiser viver, você viverá. A experiência é tua e a vida sofre as consequências.
    Beijos e estava com saudades de seus escritos.

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  3. Aline
    É muito bom saber noticias suas. Depois de muito tempo consegui acessar novamente. Espero que qualquer dia voce volte ao Hospital para podermos conversar. Que deus sempre te acompanhe. Um Abraço.

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  4. Edilson!!!!
    Que bom que vc comentou aqui! Muitas saudades de vcs!!! Assim que voltar para SP vou dar uma passada no Perola. Espero que vc esteja bem!
    beijos!!!

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