The Laughing Heart (Charles Bukowski)
your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
Sempre gostei deste poema, que conheci logo
depois da morte da minha mãe. É sobre ser positivo, sem negar os problemas. É sobre focar nas chances que a vida dá, ao invés de se desesperar
com o que perdeu. O poema diz: “Você não pode derrotar a morte, mas pode
derrotar a morte durante a vida, algumas vezes”. É tão simples, e tão complexo!
A morte é certa, perder pessoas importantes na vida é certo. Nossa única
certeza absoluta é a morte. Mas a gente pode sim vencer a morte em vida, COM
vida. Quem foi embora deixou para trás tanto futuro não vivido, deixou tanta
vida, que quem fica precisa viver em dobro. Vive por quem foi embora.
Como meu pai gostava da vida! Ele se
deliciava em pequenas coisas. Amava ir ao supermercado, gostava da feira de
sábado (que no interior a gente chama de Mercado rs). Mesmo doente, ele se
arrumava, colocava uma roupa disfarçando sua magreza, e ia feliz da vida fazer
suas comprinhas. Recentemente, já em 2014, ele me forçou a ir com ele. Eu não
queria que ele fosse, estava muito quente, e ele já estava bem fraco. Andei com ele se
apoiando em meus braços por algumas barracas de frutas. Ele estava feliz da
vida!
Ele adorava passeios, mesmo os mais simples,
em lugares próximos. Ubatuba, São Lourenço. Gostava de andar em Sao Paulo, nas
lojinhas na Teodoro Sampaio. Ainda foi além do que sempre sonhou, conheceu Nova York. Ele
curtiu muito a viagem! Tirou centenas de fotos, conversou com várias pessoas,
andou pra caramba.
Ele gostava muito de televisão. Brigava com o sono. Quantas vezes a gente acordava para desligar a tv,
com ele já roncando, e ele brigava, dizendo que estava ainda assistindo.
Gostava de Jô Soares. Assistia Globo news quase o tempo todo, e sempre vinha com algum
assunto do Saia Justa, Manhattan Connection, Estudio I. Ele gostava de aprender a falar coisas em inglês.
Curtia suas plantinhas, as orquídeas.
Decorava a casa com detalhezinhos no banheiro, e nas paredes. Ficava feliz
demais com novas aquisiçōes, e enchia nosso whatsapp de fotos.
Arrumar sapatos e tirar manchas de roupas
brancas eram passatempos.
Meu pai trabalhou dupla jornada até se
aposentar, em 2010. Ele acordava às 5 da manhã, pegava ônibus para ir dar aulas. A tarde começava no outro trabalho, e ia até o começo da noite. Ele trabalhou bastante!
Quando eu era criança ele chegava a trabalhar nos três períodos, dando aula.
Ele sempre foi muito estressado! Na minha cabeça eu achava que meu pai iria
embora um dia durante uma aula, teria um ataque de coração, e pronto. Eu nunca,
nunca achei que ele iria assim, de forma tão calma, tão lenta, tão anunciada.
Ele teve quase quatro anos depois de se aposentar para acalmar. Mesmo doente, ele queria viver muito mais! Ele sempre dizia
que pedia para Deus dar a ele um pouco mais de tempo, tempo com qualidade, para
ele aproveitar mais as coisas. O
tempo foi curto! Mesmo com as dores e mal estar, ele nunca quis
desistir. Ele gostava demais da vida, e das pessoas que compartilharam
com ele este mundo.
Esta semana fui em Ubatuba. Acredito que
tenha sido a primeira vez nos meus 27 anos que fui sem ele. Não chorei nem uma
vez. Não consegui ver a ausência. Me lembrei sim da última vez que eu tinha
ido, no comecinho de 2013. Fomos só eu e ele, logo depois de passar por São
Paulo, onde ele fez os primeiros exames no Hospital do Cancer. A gente já sabia
que ele estava doente, mas ele estava bem. Meu irmão foi também se encontrar
com a gente, e aproveitamos! Esta semana voltei para o mesmo lugar, e vi muita
vida. Vida por todos os lados. Muito sol, azul, paz. Não havia silêncio, havia o mar,
bonito do mesmo jeito. Lembrei que uma amiga me mandou uma mensagem dizendo que
o mar pra ela é renovação. É estranho, porque é renovação, mas também continuação.
Então lembrei de um outro texto que achei há poucos dias: “Somos como crianças construindo um castelo de areia. Enfeitamos
com belas conchinhas, galhos e pedaços de vidro colorido. O castelo é nosso, fora
do alcance de outros. Somos capazes de atacar se outros ameaçarem destrui-lo.
Ainda assim, além de qualquer apego, nós sabemos que a maré vai inevitavelmente
subir e destruir nosso castelo de areia. O segredo é aproveitá-lo, mas sem
extremo apego, e quando for a hora, deixá-lo se dissolver de volta ao mar”.
(Ani Pema Chodron).
Como é dificil aceitar mesmo, de verdade, as
mudanças, e a dissolução do nosso castelo! A gente constrói, planeja,
acreditando que tudo vai seguir um plano. Bobagem! Coisas ruins vão acontecer. Se a gente estacionar, se entregar à
escuridão, desistir, acaba a nossa vida. O tempo que nos foi dado é precioso.
Minha mãe teve 46 anos, meu pai 60. A mãe da minha mãe teve pouco mais de 30. O
sobrinho da minha amiga teve 3 anos.
Eu quero realizar muitos sonhos! O maior dele
é ser feliz no tempo que me for dado. Não quero ficar num trabalho sem sentido,
que me faça infeliz. Não quero mais viver me preocupando com o que vão achar se
eu dizer não. Não quero juntar roupa, nem papel. Não quero viver na ilusão de
que algo aqui me pertence. Não quero esperar tudo estar 100% para poder dar uma
festa. Hoje eu gargalhei algumas vezes, nem lembro o porquê. Não é fácil
gargalhar, mas é preciso. É estranho pensar em ser feliz sem meu pai e minha mãe, morando
longe de toda minha família. Mas não tenho outra escolha!
Algumas pessoas me olham estranho, e não
sabem o que dizer. Não sei se é pena, ou espanto. Quase quero dizer: “Calma, eu
sou forte. E você também é”.
Durante o dia sou mais forte ainda. O barulho
de carros, cachorros, conversas, tudo preenche um pouco o silêncio que meu pai
deixou. Meu pai falava bastante, escrevia bastante mensagens. A vida perto dele
era barulhenta! Mas a noite, na hora de dormir, o silêncio grita alto! Ai parece que quero dormir com a TV ligada, quero fazer como ele fazia.
Quero plantar as orquídeas que ele não pode
plantar.
Quero preencher a estranha solidão que a
ausência deles traz, com luz, com todas as conchinhas e vidros coloridos
possíveis. E que a maré leve tudo de volta ao mar quando for a hora.
Para ser feliz de verdade mesmo temos que
aceitar que a vida é difícil, que as coisas vão mudar, que a inconstância é a única constante.
Esperança que a vida prevaleça sempre!
Lindo demais, Lindinha! Sem palavras...vc e seu irmão preenchem de vida tds os lugares em que estão! Sinto um privilégio indescritível por ter conhecido a sua família! Amo mto vcs!
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