segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Paramos nos 60, ontem seriam 61

Ontem seria aniversário do meu pai. Ele faria 61 anos. Ano passado eu nao estava la com ele, mas ele teve um aniversario especial. Ele recebeu em casa muitos amigos, que trabalharam por anos com ele. Levaram salgadinhos, bolos, refrigerante. Tiraram muitas fotos. Meu pai me contou chorando de alegria, muito feliz. Foi uma despedida.

Eu sabia que as chances de ele repetir um aniversario eram muito poucas, e ano passado escrevi este texto no facebook:


Aniversario é sobre reconhecer a dádiva de mais um ano de vida. Ano passado foi estranho. Quem tem a chance de comemorar a vida, sabendo que ela logo vai acabar?

Este ano nao teve mensagem no whatsapp, nem ligacao, nem nada. A distancia entre nós ficou muito maior, e a cada 3 de agosto, ao inves de comemorar a dadiva da vida, vamos lembrar de como fomos obrigados a parar de contar nos 60. Quanto tempo dura o resto de nossas vidas? Foram seis meses. Muito pouco tempo.

Ontem fui num parque, que estava cheio de pais e filhos. Muitos ensinando seus filhos a andar de bicicleta, outros correndo. Pensei demais no meu pai. Como ele foi um super pai!

Ele ensinou eu, meu irmão e todos meus primos a andar de bicicleta. Ele gostava demais de passear e viajar, não tinha tempo ruim. Meu aniversario é em junho, e quando eu era criança, sempre tinha uma mini festa junina. Meu pai soltava fogos, construía fogueiras, fazia a festa da criançada colocando fogo no bombril e fazendo uma chuva de faiscas.

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Um dia, quando meu irmão era bebê, meu pai teve um dia de folga e me levou pra passear. Foi uma das poucas vezes que me lembro de sairmos só eu e ele. Demos umas voltas pela vizinhanca, e chegamos na casa dos meus avos. La nós tiramos varias fotos. Eu lembro de sentir que ele tinha orgulho de mim, e eu era tao pequena!

Uma das imagens que tenho do meu pai mais novo é de quando ele ia, todo sábado de manhã, alugar fitas de video game com meu irmão.

Quando eu me fui para Sao Paulo, fazer faculdade, meu pai estranhou muito. Ele me deixou na pensao em SP, e foi embora dirigindo chorando, junto com minha tia e minha mãe. Ele sempre dizia que chorava de saudade de quando a gente era pequeno. Ele sempre me contava de como ele sentiu a primeira vez que me viu. Eu olhei pra ele, com olhos arregalados, grandes! Ele achou magico que eu, tao bebe, conseguia olhar daquele jeito pra ele, como se eu tivesse reconhecido meu pai. Foi a primeira vez que nos vimos. Entre a primeira e a ultima vez foram apenas 27 anos. Tao pouco tempo!

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Meu pai escondia frutas nas malas minhas e do meu irmão, quando a gente voltava pra SP. Ele cismava que fruta do interior era mais saudáveis. A gente não queria levar, porque pesava na mala, mas ele, teimoso, dava um jeito de esconder.

Meu pai era mestre em deixar roupas branquinhas, consertar sapatos e botas.

Ele falava bastante, e escrevia mensagens de textos gigantes também.

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Eu queria muito, muito mesmo, que os 60 anos pudessem ser 90. Mesmo que eu morasse longe, mesmo que a gente se visse poucas vezes no ano. Queria poder contar coisas pra ele, mandar fotos minhas quando maquiada ou arrumada pra sair. Queria que ele visse minhas orquideas. Queria ele aqui quando eu terminasse o mestrado, quando eu tivesse filhos, e quando meus filhos se formassem.

Quanto tempo é pouco tempo? Foi muito pouco tempo.



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