quinta-feira, 17 de abril de 2014

"...Indo e vindo infinito"

A maior lição da vida talvez seja aprender a lidar com a finitude. Tudo vai acabar, tudo vai mudar. A tentativa de manter tudo do mesmo jeito geralmente traz mais sofrimento. Esses dias andam estranhos porque a finitude ta escancarada.

Há dois meses foi meu pai. Há duas semanas foi o pai do meu tio, um senhor muito forte e festeiro, que de repente foi vencido por um cancer agressivo. Fui no enterro, e não consegui ficar ate o fim. Vi os filhos e netos - pessoas com quem eu geralmente me encontrava em festas de natal, ano novo, dias das mães ou dias dos pais - tristes, em silencio.

Meu avô, pai do meu pai, está acamado. Ha um tempo sofre de um tipo de demencia, e umas semanas atras caiu, quebrou o femur. Teve que fazer uma cirurgia. Alguns dias eu vou la no final da tarde, e me sinto bem. Gosto de conversar com ele, mesmo quando a conversa nao parece ter sentido. Acho triste que ele tenha chegado ao fim da vida assim. Ele sempre disse: "so nao quero um dia ficar na cadeira de rodas, dando trabalho". E acabou acontecendo. Mesmo sendo triste, acho tao bonitinho o jeito dele, o jeito da minha vó cuidando. Ele sempre agradece, muitas vezes diz que esta tudo bem, que a comida esta boa, que esta bem. Parece que ele quer agradar, deixar a gente tranquilo. As vezes ele fala coisas sem sentido. Alguns dias ele chama muito meu pai. Nao sei porque, nao sei se ele entendeu a morte do filho.

Esta é minha ultima semana aqui, e a casa esta mais vazia. O carro esta quase vendido. Ja fechamos as contas do meu pai, uma delas tinha 23 anos. Já doamos quase todas as roupas da casa. Vou ainda cancelar o telefone, tv, internet. Vou cancelar o número de telefone que temos desde a década de 80!

Ainda bem que tem um monte de bebê nascendo por ai, gente ficando grávida!

"Não chore não, dona Senhora, uma criança nasceu, o mundo começou outra vez."
(Um trecho do Grande Sertão Veredas, sempre dito por minhas amigas).




domingo, 13 de abril de 2014

Sonhos nos empurram pra frente


Devemos sempre colecionar muitos e muitos sonhos. Em alguns momentos da vida são eles que vão nos forçar a seguir em frente. Nossos sonhos estão la pra nos salvar.

Os últimos dias têm sido difíceis. Semana que vem já vou embora, e queria ter feito mais aqui, ter arrumado mais coisas. Mas a verdade é que esvaziar esta casa é MUITO difícil. É a dissolução de um porto seguro, é o corte de uma raiz muito grande e forte. Dói.

Minha vontade agora neste momento é de ficar aqui, nesta casa, cuidando dela, arrumando os móveis, cuidando das plantas e dos cachorrinhos. Ficar mais próxima do meu irmão. Ficar aqui pra sempre. Seria uma forma desesperada de manter alguma coisa mais comigo. Mas eu sei que seria também uma estagnação, quase uma paralisia. 

Há um tempo já aprendi que minha vida não é aqui em Cruzeiro, pelo menos por enquanto.

Ai que entram meus sonhos. E me salvam. Eles me fazem olhar pra frente, e me desvencilhar dessa força que me pede pra parar e desistir.

terça-feira, 1 de abril de 2014

Instabilidade

Acabei de perceber: nos últimos cinco anos eu não morei por mais de um ano na mesma casa. Um treinamento e tanto para mim, que cresci praticamente na mesma casa. Ando me sentindo tao ansiosa, angustiada, dor nos braços, dor pulsante na testa, falta de ar, pressão mais alta, sensaçao de dor no peito. Talvez seja estresse. Pensei aqui que eu ja deveria estar acostumada com mudanças, com casas se desfazendo, depois desses cinco anos de treinamento. Mas na verdade por trás de cada mudança, havia aqui, sempre aqui, uma casa, bem firme no chão, com as mesmas plantas de 15 anos atrás, com meu quarto de parede rosa, com minha prateleira de bonequinhas.

Por vinte anos a casa esteve aqui. E agora ela também vai se desfazer, se diluir. Estou jogando fora quase tudo que guardei, agora ja nao tenho espaço para o permanente. Vou ter que reduzir tudo a duas malas.

Abril ja chegou. Logo vou, recomeçar.