terça-feira, 24 de junho de 2008

Bom quando não havia razões para temer...

O medo que sinto é antigo. É o mesmo que sentimos, quando criança, de que ela saia e não volte mais. Eram medos intensos! Mas eram baseados em fantasias. Medos infantis.

De repente esse medo começou a me atormentar de maneira muito forte. E é baseado em realidade, aquela bem concreta, bem fria...De repente eu tinha mil planos, e sonhava muito. Mas agora não penso em mais nada, pensar num futuro muito longe daqui me deixa desesperada.
Quando eu estou com ela me sinto bem, sei que estamos vivendo, rindo, conversando, até esqueço tudo isso. Não sinto nem um pingo de vontade de chorar perto dela. Mas quando estou longe, quanto tento fazer o que eu fazia há 1 mês, e não consigo, percebo que o mundo mudou. Quando estou sozinha e sou obrigada a pensar em alguma coisa, esse medo imenso e real vem. Então não escapo de pensar no futuro, penso nos meus planos e sei que se for sem ela não tem graça. Porque tudo que até aqui eu consegui, tem muito dela. Meus sonhos sempre foram os sonhos dela. Sempre ligo para ela, quando alguma coisa boa acontece.
Sei que ainda estou na fase do susto. Sei que daqui a pouco tudo isso vai ser inserido no cotidiano da família, e por mais que seja uma doença forte, que exige um tratamento severo, não temos outra escolha a não ser lutar.

Falei do medo. Ele existe, e é normal senti-lo. Mas a esperança está vencendo! Viver um dia de cada vez, e nunca desanimar!

Obrigada a todos que estão nos ajudando de alguma forma, e obrigada pelas orações!!!

sábado, 14 de junho de 2008

É CÂNCER.

Dia 12/06/08, uma tarde de quinta-feira.
Chegaram três médicos, jovens, residentes possivelmente.
- Dona Maria, você prefere que eu converse com eles perto de você ou longe? Nos dá permissão?
Claro que ela falou que preferia que fosse longe. Mesmo que ela já soubesse de tudo (e nós também) aquele clima sugeria que tinha alguma coisa ainda pior.
Fomos então eu, meu pai e meu irmão para uma sacada, que dava vista para uma parte do Instituto Central do Hospital das Clínicas, conversar com os três.
-O que vocês sabem?
Eu não gosto de me passar por ingênua, e logo comecei a falar:
-A gente sabe que ela tem metástases no fígado, que vieram de um tumor no intestino.
-Mas vocês sabem o que é isso? Vocês entendem a palavra METÁSTASE?
-Isso quer dizer que não está no estágio inicial.(Claro que a gente sabe que é grave, a gente só tenta acreditar que não é tão grave)
Ele concordou. Ainda completou para dar mais realidade àquilo tudo:
-É isso mesmo. Ela está com cêncer de cólon, com metástases hepáticas. E está avançado.

Acho que os três se preparam para dar uma notícia horrível para pessoas que não sabiam de nada. Na verdade já sabíamos daquilo há 3 semanas. Metástases, ainda mais no plural, só podem indicar a presença de um tumor maligno em outro lugar. Mas foi a primeira vez que um médico usou a palavra CÂNCER.

No dia 23/05/08 minha mãe estava internada, ainda no interior. Ela estava anêmica há mais de um mês, e vinha perdendo peso. Comia pouco, pois sempre sentia um desconforto após as refeições. Ela tinha feito uma tomografia do abdômen e a médica resposável chamou meu pai para conversar. Eu sentia que alguma coisa tinha dado errado. Claro que tinha! Talvez esse tenha sido o pior dia da minha vida até agora. Senti uma sensação horrivel no estômago, uma ansiedade maior que todas as outras.
Meu pai e meu namorado foram falar com a médica. Nâo tive coragem.
Assim que sairam, meu pai me falou que tinha aparecido umas "coisinhas" no figado. Falei com a médica na calçada da rua.
Ela falou sobre as metástases e sobre a necessidade de levarmos ela para um hospital melhor, onde ela pudesse passar por um oncologista. Por 2 minutos eu a ouvi atentamente, tentando esclarecer algumas dúvidas. Mas não aguentei até o fim da conversa. Comecei a chorar desesperadamente, o chão realmente saiu de baixo de mim. Eu senti que uma batalha muito dificil começava ali, e que estava em jogo a pessoa que eu mais preciso na vida, em quem eu sempre me apoiei. Pensei em muitas coisas, que nem sei organizar aqui...
Mas o choro passou rápido. Senti uma sensação estranha tomando conta de mim, senti meu sangue quente, comecei a andar de um lado para o outro, não conseguia parar. Uma força muito forte me invadiu. Eu sabia que a gente tinha que lutar contra aquilo. Lembro de meu pai pedir que eu parasse de andar, se não eu ia cair, mas eu não conseguia. Liguei para minha tia, pedi que ela me ajudasse a arrumar uma vaga pra ela em um hospital em São Paulo.
Minha mãe foi embora para casa naquele dia 23/05. Ninguém em casa dormiu naquela noite. Eu acordava toda hora, com o coração e a respiração muito forte, sentindo meu estômago estranho.
Não contamos a verdade para ela naquele dia, mas ela sentiu. Começamos a falar muito indiretamente sobre tumor, sobre quimioterapia, para tornar o assunto comum e natural. Hoje ela sabe de tudo.

E hoje estamos esperando o oncologista nos mostrar o caminho do tratamento. O câncer e o tratamento têm características muito peculiares para cada caso. Não sei se será feita uma cirurgia ou se a primeira coisa será a quimioterpia. Possivelmente essa semana já começa.

Eu sei que é grave! Sei que pelos médicos as chances de dar 100% certo não são animadoras. Mas acredito muito que cada caso é um caso. Minha mãe está com muita força de vontade e muita fé em Deus! Sei que isso é essencial para o tratamento. Claro que em alguns momentos a gente fica mais fraco e só pensa em coisas ruins, mas passa logo. Não pensei seriamente na possibilidade de não dar certo, porque acredito realmente que vai dar certo!!! Não estamos revoltados ou desesperados, e isso já é ótimo!

E estou feliz em saber que muitas pessoas estão orando por ela! O poder disso faz com que nada seja impossível.

Estou fazendo esse blog porque muitas coisas estão passando na minha cabeça e preciso escrever. Sei que é um pouco de exposição, mas não me importo.
Esse blog é para ser lido, então nâo se importem em comentar!

E peço muita oração, sempre!!!