A maior lição da vida talvez seja aprender a lidar com a finitude. Tudo vai acabar, tudo vai mudar. A tentativa de manter tudo do mesmo jeito geralmente traz mais sofrimento. Esses dias andam estranhos porque a finitude ta escancarada.
Há dois meses foi meu pai. Há duas semanas foi o pai do meu tio, um senhor muito forte e festeiro, que de repente foi vencido por um cancer agressivo. Fui no enterro, e não consegui ficar ate o fim. Vi os filhos e netos - pessoas com quem eu geralmente me encontrava em festas de natal, ano novo, dias das mães ou dias dos pais - tristes, em silencio.
Meu avô, pai do meu pai, está acamado. Ha um tempo sofre de um tipo de demencia, e umas semanas atras caiu, quebrou o femur. Teve que fazer uma cirurgia. Alguns dias eu vou la no final da tarde, e me sinto bem. Gosto de conversar com ele, mesmo quando a conversa nao parece ter sentido. Acho triste que ele tenha chegado ao fim da vida assim. Ele sempre disse: "so nao quero um dia ficar na cadeira de rodas, dando trabalho". E acabou acontecendo. Mesmo sendo triste, acho tao bonitinho o jeito dele, o jeito da minha vó cuidando. Ele sempre agradece, muitas vezes diz que esta tudo bem, que a comida esta boa, que esta bem. Parece que ele quer agradar, deixar a gente tranquilo. As vezes ele fala coisas sem sentido. Alguns dias ele chama muito meu pai. Nao sei porque, nao sei se ele entendeu a morte do filho.
Esta é minha ultima semana aqui, e a casa esta mais vazia. O carro esta quase vendido. Ja fechamos as contas do meu pai, uma delas tinha 23 anos. Já doamos quase todas as roupas da casa. Vou ainda cancelar o telefone, tv, internet. Vou cancelar o número de telefone que temos desde a década de 80!
Ainda bem que tem um monte de bebê nascendo por ai, gente ficando grávida!
"Não chore não, dona Senhora, uma criança nasceu, o mundo começou outra vez."
(Um trecho do Grande Sertão Veredas, sempre dito por minhas amigas).
quinta-feira, 17 de abril de 2014
domingo, 13 de abril de 2014
Sonhos nos empurram pra frente
Devemos sempre colecionar muitos e muitos sonhos. Em alguns momentos da vida são eles que vão nos forçar a seguir em frente. Nossos sonhos estão la pra nos salvar.
Os últimos dias têm sido difíceis. Semana que vem já vou embora, e queria ter feito mais aqui, ter arrumado mais coisas. Mas a verdade é que esvaziar esta casa é MUITO difícil. É a dissolução de um porto seguro, é o corte de uma raiz muito grande e forte. Dói.
Minha vontade agora neste momento é de ficar aqui, nesta casa, cuidando dela, arrumando os móveis, cuidando das plantas e dos cachorrinhos. Ficar mais próxima do meu irmão. Ficar aqui pra sempre. Seria uma forma desesperada de manter alguma coisa mais comigo. Mas eu sei que seria também uma estagnação, quase uma paralisia.
Há um tempo já aprendi que minha vida não é aqui em Cruzeiro, pelo menos por enquanto.
Ai que entram meus sonhos. E me salvam. Eles me fazem olhar pra frente, e me desvencilhar dessa força que me pede pra parar e desistir.
terça-feira, 1 de abril de 2014
Instabilidade
Acabei de perceber: nos últimos cinco anos eu não morei por mais de um ano na mesma casa. Um treinamento e tanto para mim, que cresci praticamente na mesma casa. Ando me sentindo tao ansiosa, angustiada, dor nos braços, dor pulsante na testa, falta de ar, pressão mais alta, sensaçao de dor no peito. Talvez seja estresse. Pensei aqui que eu ja deveria estar acostumada com mudanças, com casas se desfazendo, depois desses cinco anos de treinamento. Mas na verdade por trás de cada mudança, havia aqui, sempre aqui, uma casa, bem firme no chão, com as mesmas plantas de 15 anos atrás, com meu quarto de parede rosa, com minha prateleira de bonequinhas.
Por vinte anos a casa esteve aqui. E agora ela também vai se desfazer, se diluir. Estou jogando fora quase tudo que guardei, agora ja nao tenho espaço para o permanente. Vou ter que reduzir tudo a duas malas.
Abril ja chegou. Logo vou, recomeçar.
Por vinte anos a casa esteve aqui. E agora ela também vai se desfazer, se diluir. Estou jogando fora quase tudo que guardei, agora ja nao tenho espaço para o permanente. Vou ter que reduzir tudo a duas malas.
Abril ja chegou. Logo vou, recomeçar.
domingo, 23 de março de 2014
Oi Pai!
Um video que achei no meu celular, que meu pai me mandou no final de 2013. Que bonitinho!
Fiquei um tempo agora a noite vendo fotos e videos, tentando diminuir um pouco a saudade que bateu super grande de repente. Vi vários videos que fizemos na viagem a NY. Lembro que eu achava chato fazer videos. Meu pai queria gravar para mostrar para a familia dele. Um dia eu disse pra ele não fazer, porque ninguém gostava de ver videos. Mal sabia eu que um dia seria eu mesma que estaria aqui, torcendo pra achar mais um videozinho, qualquer palavrinha! Ainda bem que ele nem me ouviu, e gravou varias coisas!!!!
sábado, 22 de março de 2014
Vencer a morte com VIDA
The Laughing Heart (Charles Bukowski)
your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.
Sempre gostei deste poema, que conheci logo
depois da morte da minha mãe. É sobre ser positivo, sem negar os problemas. É sobre focar nas chances que a vida dá, ao invés de se desesperar
com o que perdeu. O poema diz: “Você não pode derrotar a morte, mas pode
derrotar a morte durante a vida, algumas vezes”. É tão simples, e tão complexo!
A morte é certa, perder pessoas importantes na vida é certo. Nossa única
certeza absoluta é a morte. Mas a gente pode sim vencer a morte em vida, COM
vida. Quem foi embora deixou para trás tanto futuro não vivido, deixou tanta
vida, que quem fica precisa viver em dobro. Vive por quem foi embora.
Como meu pai gostava da vida! Ele se
deliciava em pequenas coisas. Amava ir ao supermercado, gostava da feira de
sábado (que no interior a gente chama de Mercado rs). Mesmo doente, ele se
arrumava, colocava uma roupa disfarçando sua magreza, e ia feliz da vida fazer
suas comprinhas. Recentemente, já em 2014, ele me forçou a ir com ele. Eu não
queria que ele fosse, estava muito quente, e ele já estava bem fraco. Andei com ele se
apoiando em meus braços por algumas barracas de frutas. Ele estava feliz da
vida!
Ele adorava passeios, mesmo os mais simples,
em lugares próximos. Ubatuba, São Lourenço. Gostava de andar em Sao Paulo, nas
lojinhas na Teodoro Sampaio. Ainda foi além do que sempre sonhou, conheceu Nova York. Ele
curtiu muito a viagem! Tirou centenas de fotos, conversou com várias pessoas,
andou pra caramba.
Ele gostava muito de televisão. Brigava com o sono. Quantas vezes a gente acordava para desligar a tv,
com ele já roncando, e ele brigava, dizendo que estava ainda assistindo.
Gostava de Jô Soares. Assistia Globo news quase o tempo todo, e sempre vinha com algum
assunto do Saia Justa, Manhattan Connection, Estudio I. Ele gostava de aprender a falar coisas em inglês.
Curtia suas plantinhas, as orquídeas.
Decorava a casa com detalhezinhos no banheiro, e nas paredes. Ficava feliz
demais com novas aquisiçōes, e enchia nosso whatsapp de fotos.
Arrumar sapatos e tirar manchas de roupas
brancas eram passatempos.
Meu pai trabalhou dupla jornada até se
aposentar, em 2010. Ele acordava às 5 da manhã, pegava ônibus para ir dar aulas. A tarde começava no outro trabalho, e ia até o começo da noite. Ele trabalhou bastante!
Quando eu era criança ele chegava a trabalhar nos três períodos, dando aula.
Ele sempre foi muito estressado! Na minha cabeça eu achava que meu pai iria
embora um dia durante uma aula, teria um ataque de coração, e pronto. Eu nunca,
nunca achei que ele iria assim, de forma tão calma, tão lenta, tão anunciada.
Ele teve quase quatro anos depois de se aposentar para acalmar. Mesmo doente, ele queria viver muito mais! Ele sempre dizia
que pedia para Deus dar a ele um pouco mais de tempo, tempo com qualidade, para
ele aproveitar mais as coisas. O
tempo foi curto! Mesmo com as dores e mal estar, ele nunca quis
desistir. Ele gostava demais da vida, e das pessoas que compartilharam
com ele este mundo.
Esta semana fui em Ubatuba. Acredito que
tenha sido a primeira vez nos meus 27 anos que fui sem ele. Não chorei nem uma
vez. Não consegui ver a ausência. Me lembrei sim da última vez que eu tinha
ido, no comecinho de 2013. Fomos só eu e ele, logo depois de passar por São
Paulo, onde ele fez os primeiros exames no Hospital do Cancer. A gente já sabia
que ele estava doente, mas ele estava bem. Meu irmão foi também se encontrar
com a gente, e aproveitamos! Esta semana voltei para o mesmo lugar, e vi muita
vida. Vida por todos os lados. Muito sol, azul, paz. Não havia silêncio, havia o mar,
bonito do mesmo jeito. Lembrei que uma amiga me mandou uma mensagem dizendo que
o mar pra ela é renovação. É estranho, porque é renovação, mas também continuação.
Então lembrei de um outro texto que achei há poucos dias: “Somos como crianças construindo um castelo de areia. Enfeitamos
com belas conchinhas, galhos e pedaços de vidro colorido. O castelo é nosso, fora
do alcance de outros. Somos capazes de atacar se outros ameaçarem destrui-lo.
Ainda assim, além de qualquer apego, nós sabemos que a maré vai inevitavelmente
subir e destruir nosso castelo de areia. O segredo é aproveitá-lo, mas sem
extremo apego, e quando for a hora, deixá-lo se dissolver de volta ao mar”.
(Ani Pema Chodron).
Como é dificil aceitar mesmo, de verdade, as
mudanças, e a dissolução do nosso castelo! A gente constrói, planeja,
acreditando que tudo vai seguir um plano. Bobagem! Coisas ruins vão acontecer. Se a gente estacionar, se entregar à
escuridão, desistir, acaba a nossa vida. O tempo que nos foi dado é precioso.
Minha mãe teve 46 anos, meu pai 60. A mãe da minha mãe teve pouco mais de 30. O
sobrinho da minha amiga teve 3 anos.
Eu quero realizar muitos sonhos! O maior dele
é ser feliz no tempo que me for dado. Não quero ficar num trabalho sem sentido,
que me faça infeliz. Não quero mais viver me preocupando com o que vão achar se
eu dizer não. Não quero juntar roupa, nem papel. Não quero viver na ilusão de
que algo aqui me pertence. Não quero esperar tudo estar 100% para poder dar uma
festa. Hoje eu gargalhei algumas vezes, nem lembro o porquê. Não é fácil
gargalhar, mas é preciso. É estranho pensar em ser feliz sem meu pai e minha mãe, morando
longe de toda minha família. Mas não tenho outra escolha!
Algumas pessoas me olham estranho, e não
sabem o que dizer. Não sei se é pena, ou espanto. Quase quero dizer: “Calma, eu
sou forte. E você também é”.
Durante o dia sou mais forte ainda. O barulho
de carros, cachorros, conversas, tudo preenche um pouco o silêncio que meu pai
deixou. Meu pai falava bastante, escrevia bastante mensagens. A vida perto dele
era barulhenta! Mas a noite, na hora de dormir, o silêncio grita alto! Ai parece que quero dormir com a TV ligada, quero fazer como ele fazia.
Quero plantar as orquídeas que ele não pode
plantar.
Quero preencher a estranha solidão que a
ausência deles traz, com luz, com todas as conchinhas e vidros coloridos
possíveis. E que a maré leve tudo de volta ao mar quando for a hora.
Para ser feliz de verdade mesmo temos que
aceitar que a vida é difícil, que as coisas vão mudar, que a inconstância é a única constante.
Esperança que a vida prevaleça sempre!
quinta-feira, 6 de março de 2014
As pessoas não ficam nos objetos
Como é estranho uma pessoa sumir de repente. Assim como todo mundo, meu pai se foi e deixou tudo para trás. Todas as coisinhas que ele gostava - as plantinhas, os tênis e bermudas moderninhas, os óculos de sol (sua mania), o aparelho de medir pressão, os enfeites do banheiro - tudo ficou para trás, no mesmo lugar em que ele deixou.
Passei uma semana nos Estados Unidos, onde comecei a aprender uma grande lição, desapegar. Fui pra la porque vamos nos mudar de Nova York para Boston, mas pela falta de onde deixar as coisas precisamos nos desfazer de muitas coisas. Tivemos poucos dias para arrumar a mudança, entao no susto me desfiz de roupas que eu guardava por mais de uma década, que eu nem usava, guardava por guardar.
Lá tive sentimentos muito ambiguos com relacao a tudo que aconteceu com meu pai. As vezes eu sentia meu coracao parar quando eu me lembrava que meu pai nao estava mais aqui, mas ao menos tempo sentia um alivio de nao existir mais aquele preocupacao gigante que eu tinha estando longe. Estranhamente eu me senti muito próxima dele, como se ele realmente estivesse ido comigo.
Chegar de volta na minha casa em Cruzeiro foi dificil. Minha cada dói. Com a morte do meu pai vai com ele uma casa inteira. Meus pais contruiram esta casa e colocaram tudo que está aqui dentro. Escrevi um post sobre isto ano passado, quando eu já me preocupava com este momento, desfazer de quase tudo que faz parte da minha vida (http://esperanca-sempre.blogspot.com/2013/01/sobre-o-peso-do-passado-nos-objetos.html)
Semana passada, durante o carnaval, meu irmao esteve aqui, e ja separamos muitas coisas! Juntamos 10 sacos de lixo, separamos as coisas de cozinha que vamos guardar e o que vamos doar, ja fizemos mentalmente uma separacao entre os moveis tambem. Tiramos tudo do guarda-roupas do meu pai, ja doamos algumas roupas. É um processo dolorido. A gente nao tem espaco para guardar muitas coisas. Meus pais gostavam das coisinhas que tinham, nao eram muito de comprar coisas novas, eram mais de conservar o que tinham. É estranho desfazer das coisas que ele guardavam por tanto tempo. Mas ai vem a maior verdade de sempre: as pessoas nao ficam nos objetos.
Nao ficam!
Vamos sim manter coisas que vamos usar. Alguns moveis, coisas de cozinha, algumas roupas. Mas a maior parte da casa vai embora para outras pessoas usarem.
Amanhã ja faz 3 semanas que meu pai descansou. Estou aqui na nossa casa. Acho que estar lidando com esta ausencia 24 horas por dia esta me ajudando a acostumar com a dor, porque dói o tempo todo. Meu pai gostava muita de coisinhas do dia a dia, assistir certos programas, ficar num certo lugar, dormir naquele horario. E ele se comunicava bastante! Expressava tudo que sentia, contava das coisas que gostava, do que nao gostava. Por isso sua presenca é tao forte em cada cantinho daqui.
Estou perdida no meio de burocracia, decisoes, buracos, silencios. Hoje a tarde parei para colocar tudo num papel, parece que nao vou dar conta. Espero que eu consiga usar o tempo que tenho no Brasil, e tentar deixar tudo da melhor maneira possivel.
Quero realmente fazer o melhor possivel desta situacao. Eu e meu irmao, enquanto arrumavamos as coisas, falamos muito sobre como realmente é a maior bobagem nossas preocupacoes com as coisas materiais. Meus pais se preocupavam bastante em nao ter como pagar contas, ou ficar sem dinheiro. Fizeram milagre com o salario de professor do meu pai. Fico com pena em pensar que eles foram embora, e deixaram tudo aqui. Ate queria que eles nao tivessem se preocupado tanto. Que tivessem aproveitado mais para eles mesmos. Os dois foram embora muito cedo, podiam ainda ter vivido decadas mais, sem preocupacao em criar os filhos, viajando, vendo eu e meu irmao mais velhos.
Não deu. Acho muito triste que com menos de 30 anos ja nao tenho meus pais, que eram tao tao presentes. Quero muito que eu e meu irmao sigamos em frente, que a gente consiga ir atras dos nossos sonhos, que a gente viva da melhor maneira possivel. Nao é facil. No dia a dia, ocupados, resolvendo problemas, tudo é mais facil. A dor aparece quando a gente esta sozinho, na hora de fechar o olho pra dormir.
Pai, a saudade já está imensa! Saudade de ouvir sua voz. Às vezes acho que la do seu quarto você vai me chamar. Até deixo a TV ligada na hora de dormir, como você fazia.
Mas o tempo ajuda, eu sei.
Passei uma semana nos Estados Unidos, onde comecei a aprender uma grande lição, desapegar. Fui pra la porque vamos nos mudar de Nova York para Boston, mas pela falta de onde deixar as coisas precisamos nos desfazer de muitas coisas. Tivemos poucos dias para arrumar a mudança, entao no susto me desfiz de roupas que eu guardava por mais de uma década, que eu nem usava, guardava por guardar.
Lá tive sentimentos muito ambiguos com relacao a tudo que aconteceu com meu pai. As vezes eu sentia meu coracao parar quando eu me lembrava que meu pai nao estava mais aqui, mas ao menos tempo sentia um alivio de nao existir mais aquele preocupacao gigante que eu tinha estando longe. Estranhamente eu me senti muito próxima dele, como se ele realmente estivesse ido comigo.
Chegar de volta na minha casa em Cruzeiro foi dificil. Minha cada dói. Com a morte do meu pai vai com ele uma casa inteira. Meus pais contruiram esta casa e colocaram tudo que está aqui dentro. Escrevi um post sobre isto ano passado, quando eu já me preocupava com este momento, desfazer de quase tudo que faz parte da minha vida (http://esperanca-sempre.blogspot.com/2013/01/sobre-o-peso-do-passado-nos-objetos.html)
Semana passada, durante o carnaval, meu irmao esteve aqui, e ja separamos muitas coisas! Juntamos 10 sacos de lixo, separamos as coisas de cozinha que vamos guardar e o que vamos doar, ja fizemos mentalmente uma separacao entre os moveis tambem. Tiramos tudo do guarda-roupas do meu pai, ja doamos algumas roupas. É um processo dolorido. A gente nao tem espaco para guardar muitas coisas. Meus pais gostavam das coisinhas que tinham, nao eram muito de comprar coisas novas, eram mais de conservar o que tinham. É estranho desfazer das coisas que ele guardavam por tanto tempo. Mas ai vem a maior verdade de sempre: as pessoas nao ficam nos objetos.
Nao ficam!
Vamos sim manter coisas que vamos usar. Alguns moveis, coisas de cozinha, algumas roupas. Mas a maior parte da casa vai embora para outras pessoas usarem.
Amanhã ja faz 3 semanas que meu pai descansou. Estou aqui na nossa casa. Acho que estar lidando com esta ausencia 24 horas por dia esta me ajudando a acostumar com a dor, porque dói o tempo todo. Meu pai gostava muita de coisinhas do dia a dia, assistir certos programas, ficar num certo lugar, dormir naquele horario. E ele se comunicava bastante! Expressava tudo que sentia, contava das coisas que gostava, do que nao gostava. Por isso sua presenca é tao forte em cada cantinho daqui.
Estou perdida no meio de burocracia, decisoes, buracos, silencios. Hoje a tarde parei para colocar tudo num papel, parece que nao vou dar conta. Espero que eu consiga usar o tempo que tenho no Brasil, e tentar deixar tudo da melhor maneira possivel.
Quero realmente fazer o melhor possivel desta situacao. Eu e meu irmao, enquanto arrumavamos as coisas, falamos muito sobre como realmente é a maior bobagem nossas preocupacoes com as coisas materiais. Meus pais se preocupavam bastante em nao ter como pagar contas, ou ficar sem dinheiro. Fizeram milagre com o salario de professor do meu pai. Fico com pena em pensar que eles foram embora, e deixaram tudo aqui. Ate queria que eles nao tivessem se preocupado tanto. Que tivessem aproveitado mais para eles mesmos. Os dois foram embora muito cedo, podiam ainda ter vivido decadas mais, sem preocupacao em criar os filhos, viajando, vendo eu e meu irmao mais velhos.
Não deu. Acho muito triste que com menos de 30 anos ja nao tenho meus pais, que eram tao tao presentes. Quero muito que eu e meu irmao sigamos em frente, que a gente consiga ir atras dos nossos sonhos, que a gente viva da melhor maneira possivel. Nao é facil. No dia a dia, ocupados, resolvendo problemas, tudo é mais facil. A dor aparece quando a gente esta sozinho, na hora de fechar o olho pra dormir.
Pai, a saudade já está imensa! Saudade de ouvir sua voz. Às vezes acho que la do seu quarto você vai me chamar. Até deixo a TV ligada na hora de dormir, como você fazia.
Mas o tempo ajuda, eu sei.
terça-feira, 18 de fevereiro de 2014
O dia em que meus pais se reencontraram
Minha mãe já estava la há algum tempo, bem acomodada. Já
sabia a rotina, os dias em que deveria dar uma volta. Seus pés já não deixavam marcas no chão, não faziam barulho. Ela andava
calmamente. As vezes aparecia na janela, fazia um aceno com a mão, e abria um
sorrisinho timido. Aquele já era seu lugar, não mais exigíamos sua presença
aqui fora. Ja sabíamos que aquele era o lugar a qual ela pertencia.
Ela ficou longe do meu pai por quase seis anos. Muito tempo.
Ele sentiu. Há quase 35 anos ele viu aquela mocinha de cabelo preto, olhos grandes, e já sabia que
seria ela. Construíram uma família, com casa, cachorros,
passarinhos, filhos, muitas plantas. Brigavam bastante, falavam alto. Passaram por crises de ciúmes, de dinheiro. Ele gostava de andar com ela, e que as pessoas vissem como ela era bonita. Gostavam de mato, serra, montanha. Juntos sentiam muito orgulho dos filhos. Mas não gostavam dos filhos longe.
Quando ela foi embora ele sofreu demais. Chorava. Ele
transformou sua agitação e estresse, em preocupação e ansiedade. A vida ficou
difícil. O silêncio da casa o adoeceu. Tentou se recuperar, viajou,
comprou o que quis, redecorou a casa. Mas não teve jeito.
E foi no dia da amizade, dia do amor. Dia dos namorados em
quase todo o mundo, dia 14 de fevereiro. Com quase a mesma doença, quase da
mesma forma, ele foi embora. E ela veio buscá-lo. Veio com uma luz muito
grande, de trem, e o levou para "além do horizonte, um lugar tranquilo e bonito", como ele cantava em seus ultimos dias.
Agora ele mora com ela. A presença dele ainda causa tumulto.
Faz barulho, machuca o chão. Ele deve estar tentando ajeitar-se na poltrona, ligar a TV bem alto. Mas os móveis se arrastam, falta espaço.
Hoje estou no aeroporto, lugar em que estive algumas vezes
no último ano, e de onde sempre parti com o coração afundando. Hoje meu coração
está mais triste, mas mais tranquilo. Não posso ligar pra ele pra dizer que meu voo está quase saindo. Não estou deixando meu pai para trás. Desta vez ele vai comigo.
Agora ele mora onde minha mãe está, em mim. Com o tempo ele vai fazer
morada, vai se acomodar. Meus pais se reencontraram dentro de mim.
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Como se dormisse
Na sexta acordei as 5h30 com meu pai muito agitado, falando sem parar: "vomitei, queima a mão". Ele tinha vomitado, e visivelmente estava muito pior. Acho que estava querendo dizer "queimação", não sei. Ele vomitou por vários minutos. Logo meu tio Valter chegou, e se assustou. Ele iria passar o dia com a gente, para que eu dormisse um pouco.
Meu pai murmurava palavras difíceis de entender. Num momento parece que falou o nome do meu tio. Os oncologistas vieram bem cedo, e o médico que acompanhou meu pai por todo este tempo, que sempre foi tao carinhoso com meu pai, sempre teve uma atitude tao positiva, me disse bem baixinho: "olha, ele está bem ruim". Eu sabia que estava chegando a hora. Avisei minha tia e meu irmão, e todos foram para o hospital.
Meu pai passou a manhã com sua irmã, seu irmão, um sobrinho, sua mãe, seu filho, seu cunhado. Todos foram se despedir. De alguma forma eu achei que ele podia entender, então a gente falava muitas coisas pra ele. Num momento achei que ele falou meu nome. Outra vez cantei uma das musicas que a gente passou a semana cantando, e em movimentos bem fracos eu conseguia ver sua boca falando algumas palavras da música. Certa hora pareceu que ele disse algo como: "Vou morrer"
Mais a tarde ficamos apenas eu, meu irmão e minha tia. A partir de uma certa hora meu pai parou de falar as palavras sem sentido. Apenas respirava fundo. As enfermeiras tentaram colocar uma sonda de alimentação, para ver se conseguiam deixa-lo mais forte, mas a sonda nao passou. Parece que o estomago e o esofago estavam bloqueados com bile, que ele havia vomitado mais cedo.
Por algumas horas ele parecia dormir, estar descansando. Durante o dia seu corpo foi perdendo calor.
Minha prima leticia foi fazer um intercambio em portugal em Agosto do ano passado. Meu pai e ela eram muitos próximos. Mesmo com a distancia eles se falavam direto no celular. Ela iria voltar no final de fevereiro, mas por alguma razao adiantou o voo para o dia 14 de fevereiro. Ela chegou no Rio sexta a tarde, e ficou sabendo que meu pai estava pior. Seu irmao, meu primo Rafael, foi busca-la no aeroporto, e os dois vieram direto para Guaratingueta. Ela queria ver meu pai. A gente ate achou que ela poderia vir no dia seguinte, e que talvez nao fossem deixar ela entrar tao tarde no hospital. Eles chegaram no hospital 10 e pouquinho da noite.
Quando ela viu meu pai se emocionou muito. Ela ainda conversou um pouco com ele, falou algumas coisas do intercambio. Meu primo e sua namorada tambem estavam ali, e tambem estavam muito emocionados.
Alguns minutos depois meu pai comecou a vomitar de novo, desta vez em grande quantidade. Acho que nem era vomito. Era um liquido bem escuro e liquido. Pegamos lençóis. Olhei para meu irmao, a gente sabia que estava chegando a hora. Depois que parou de sair o liquido, a respiração ficou bem bem calma, com intervalos maiores. A cor dele mudou. Coloquei meus dedos para sentir sua pulsaçao, que ainda estava la, bem fraquinha.
Quando descobrimos o cancer eu sabia que iriamos perde-lo para esta doença. Eu nao sabia quando, nao sabia como. Comecei a viver meu luto desde entao, com tantos conflitos, tantas crises. Fiquei viajando de la pra ca, tentando da melhor maneira conciliar tudo. Foi dificil. Meu pai tinha esperança. Ele nao era do tipo que se beneficiaria em saber objetivamente quanto tempo tinha. Ele vivia. Na semana que saiu da UTI ficou muito bem! Animado. Contava para todo mundo que tinha renascido, que tinha tido outra chance. Ele teve uma maior consciencia de que esta doenca poderia sim leva-lo logo, ele viveu uma semana incrivel com a gente. Passamos tempo em casa, fomos ao mercado comprar frutas e flores (ele adorava o mercado de sabado de manhã). Eu achei que estava muito preparada para o pior. Quando saimos de casa no dia 5 com ele passando mal, peguei alguns documentos dele, porque achei que talvez nao voltariamos, e precisaria daqueles papeis comigo.
Achei que estava preparada. Mas quando parei de sentir sua pulsação, um vazio se abriu dentro de mim. É realmente impressionante ver a vida ir embora de alguem tao proximo, tao amado.
Estavamos ali reunidos em volta do meu pai, algumas das pessoas que ele mais amava. Acho sim que ele esperou minha prima chegar.
Antes das 11 da noite ele descansou, na nossa frente. Foi como se dormisse.
Meu pai murmurava palavras difíceis de entender. Num momento parece que falou o nome do meu tio. Os oncologistas vieram bem cedo, e o médico que acompanhou meu pai por todo este tempo, que sempre foi tao carinhoso com meu pai, sempre teve uma atitude tao positiva, me disse bem baixinho: "olha, ele está bem ruim". Eu sabia que estava chegando a hora. Avisei minha tia e meu irmão, e todos foram para o hospital.
Meu pai passou a manhã com sua irmã, seu irmão, um sobrinho, sua mãe, seu filho, seu cunhado. Todos foram se despedir. De alguma forma eu achei que ele podia entender, então a gente falava muitas coisas pra ele. Num momento achei que ele falou meu nome. Outra vez cantei uma das musicas que a gente passou a semana cantando, e em movimentos bem fracos eu conseguia ver sua boca falando algumas palavras da música. Certa hora pareceu que ele disse algo como: "Vou morrer"
Mais a tarde ficamos apenas eu, meu irmão e minha tia. A partir de uma certa hora meu pai parou de falar as palavras sem sentido. Apenas respirava fundo. As enfermeiras tentaram colocar uma sonda de alimentação, para ver se conseguiam deixa-lo mais forte, mas a sonda nao passou. Parece que o estomago e o esofago estavam bloqueados com bile, que ele havia vomitado mais cedo.
Por algumas horas ele parecia dormir, estar descansando. Durante o dia seu corpo foi perdendo calor.
Minha prima leticia foi fazer um intercambio em portugal em Agosto do ano passado. Meu pai e ela eram muitos próximos. Mesmo com a distancia eles se falavam direto no celular. Ela iria voltar no final de fevereiro, mas por alguma razao adiantou o voo para o dia 14 de fevereiro. Ela chegou no Rio sexta a tarde, e ficou sabendo que meu pai estava pior. Seu irmao, meu primo Rafael, foi busca-la no aeroporto, e os dois vieram direto para Guaratingueta. Ela queria ver meu pai. A gente ate achou que ela poderia vir no dia seguinte, e que talvez nao fossem deixar ela entrar tao tarde no hospital. Eles chegaram no hospital 10 e pouquinho da noite.
Quando ela viu meu pai se emocionou muito. Ela ainda conversou um pouco com ele, falou algumas coisas do intercambio. Meu primo e sua namorada tambem estavam ali, e tambem estavam muito emocionados.
Alguns minutos depois meu pai comecou a vomitar de novo, desta vez em grande quantidade. Acho que nem era vomito. Era um liquido bem escuro e liquido. Pegamos lençóis. Olhei para meu irmao, a gente sabia que estava chegando a hora. Depois que parou de sair o liquido, a respiração ficou bem bem calma, com intervalos maiores. A cor dele mudou. Coloquei meus dedos para sentir sua pulsaçao, que ainda estava la, bem fraquinha.
Quando descobrimos o cancer eu sabia que iriamos perde-lo para esta doença. Eu nao sabia quando, nao sabia como. Comecei a viver meu luto desde entao, com tantos conflitos, tantas crises. Fiquei viajando de la pra ca, tentando da melhor maneira conciliar tudo. Foi dificil. Meu pai tinha esperança. Ele nao era do tipo que se beneficiaria em saber objetivamente quanto tempo tinha. Ele vivia. Na semana que saiu da UTI ficou muito bem! Animado. Contava para todo mundo que tinha renascido, que tinha tido outra chance. Ele teve uma maior consciencia de que esta doenca poderia sim leva-lo logo, ele viveu uma semana incrivel com a gente. Passamos tempo em casa, fomos ao mercado comprar frutas e flores (ele adorava o mercado de sabado de manhã). Eu achei que estava muito preparada para o pior. Quando saimos de casa no dia 5 com ele passando mal, peguei alguns documentos dele, porque achei que talvez nao voltariamos, e precisaria daqueles papeis comigo.
Achei que estava preparada. Mas quando parei de sentir sua pulsação, um vazio se abriu dentro de mim. É realmente impressionante ver a vida ir embora de alguem tao proximo, tao amado.
Estavamos ali reunidos em volta do meu pai, algumas das pessoas que ele mais amava. Acho sim que ele esperou minha prima chegar.
Antes das 11 da noite ele descansou, na nossa frente. Foi como se dormisse.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Dor maior que o mundo
Acordei agora pouco confusa, ja estava escuro, e me surpreendi que o mundo ainda existia. Estou devastada. Hoje enterramos meu pai num cemitério "bonito e tranquilo", quase em cima de uma montanha. Estou com meu irmao agora em nossa casa, e tudo aqui dói. Tudo é meu pai. Até dirigir seu carro dói. Queria que todas essas coisas sumissem.
Meu pai era simplesmente muito presente, falava muito, comentava tudo, participava de tudo. No velório eu achei que estava bem, recebi muitos abraços, ele era muito querido. Mas agora estou sentindo uma dor enorme e um vazio sem tamanho. Foi embora uma segurança, um porto seguro, uma pessoa que nos amava acima de tudo, que queria tanto o nosso bem. Perder meu pai é perder tanto! É entrar numa vida de mais silêncio. Hoje eu sinto que nao vou ter forças. Eu sei que a gente supera, que o tempo cura, faz a gente se acostumar, mas hoje esta dor esta demais!
Meu pai era meu paizinho, tao carinhoso, tao único, tao intenso.
Dói muito.
Meu pai era simplesmente muito presente, falava muito, comentava tudo, participava de tudo. No velório eu achei que estava bem, recebi muitos abraços, ele era muito querido. Mas agora estou sentindo uma dor enorme e um vazio sem tamanho. Foi embora uma segurança, um porto seguro, uma pessoa que nos amava acima de tudo, que queria tanto o nosso bem. Perder meu pai é perder tanto! É entrar numa vida de mais silêncio. Hoje eu sinto que nao vou ter forças. Eu sei que a gente supera, que o tempo cura, faz a gente se acostumar, mas hoje esta dor esta demais!
Meu pai era meu paizinho, tao carinhoso, tao único, tao intenso.
Dói muito.
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014
Que doença...
Hoje não consegui conversar com meu pai. Ele esta ainda falando o tempo todo, escolhe uma frase e repete por um tempão. Mas hoje ele não responde minhas perguntas. Hoje estou bem angustiada. Acho que eu estava sempre muito firme, lidando com tudo de forma muito fria. Mas gente, que dificil! Olho meu pai tao fraquinho, magrinho, mãos tremendo, olhos sempre semi-abertos, repetindo frases sem sentido. Que doença horrivel! Vai levando devagar toda a vida! Meu pai sempre foi super agitado, gordinho, falante. Sempre gostou de viajar, passear, de comentar coisas que via na televisão. É triste demais ver ele assim.
Me revolto comigo mesma por ser uma pessoa tao preocupada com bobagens no meu dia a dia. Mesmo depois da minha mae ter cancer e morrer, eu nao aprendi que na vida ter saúde é tudo. Se você nao pagar uma conta, nao ter a melhor roupa, nao souber as respostas, nao souber esconder suas olheiras, nada disso é razao para se preocupar, pra perder o sono ou o apetite. Se você acordou, teve o que comer, nao tem dor, consegue fazer suas coisas sem ajuda de ninguem, que vida boa!
As vezes eu falo: "Oi pai!", e ele responde:"Oi filha". Ja é o suficiente para mim, ele sabe que estou aqui. Mas hoje a tarde ele ficou super agitado de repente, falando que o sol estava o queimando. Falei com ele que ele estava seguro comigo, e perguntei meu nome. Ele disse: "Maria Dinalva", minha mãe.
Hoje vou passar minha quinta noite aqui no hospital direto. Não é tão ruim quanto parece. Onde eu durmo é confortável, tem TV, eu trouxe meu computador. E meu pai é bonzinho. As enfermeiras mesmo dizem. Ele nao reclama. Amanha meu irmão vem, mas parece que nao quero sair daqui. Ja fiquei tanto tempo longe, quero que meu pai saiba que estou aqui.
Me revolto comigo mesma por ser uma pessoa tao preocupada com bobagens no meu dia a dia. Mesmo depois da minha mae ter cancer e morrer, eu nao aprendi que na vida ter saúde é tudo. Se você nao pagar uma conta, nao ter a melhor roupa, nao souber as respostas, nao souber esconder suas olheiras, nada disso é razao para se preocupar, pra perder o sono ou o apetite. Se você acordou, teve o que comer, nao tem dor, consegue fazer suas coisas sem ajuda de ninguem, que vida boa!
As vezes eu falo: "Oi pai!", e ele responde:"Oi filha". Ja é o suficiente para mim, ele sabe que estou aqui. Mas hoje a tarde ele ficou super agitado de repente, falando que o sol estava o queimando. Falei com ele que ele estava seguro comigo, e perguntei meu nome. Ele disse: "Maria Dinalva", minha mãe.
Hoje vou passar minha quinta noite aqui no hospital direto. Não é tão ruim quanto parece. Onde eu durmo é confortável, tem TV, eu trouxe meu computador. E meu pai é bonzinho. As enfermeiras mesmo dizem. Ele nao reclama. Amanha meu irmão vem, mas parece que nao quero sair daqui. Ja fiquei tanto tempo longe, quero que meu pai saiba que estou aqui.
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