Quando eu fui para os Estados Unidos em julho de 2011, fui com muitas dúvidas. Eu e meu marido tomamos a decisão de última hora, depois de uma tentativa frustrada de morar em São Paulo. Eu queria continuar estudando, fazer mestrado. Ele não se adaptou à vida paulistana, de muito trânsito e barulho.
Meu plano inicial era tentar fazer mestrado no USP, já tinha proximidade com uma professora, já estava por dentro do processo de seleção. Mas no final eu decidi por um desafio diferente. E foi por isso que decidi ir para os Estados Unidos. Sem saber se seria possível, sem saber muito bem como fazer, peguei o avião falando para todo mundo que eu iria estudar. Mas eu fui bem sem noção de nada. Sabia que tinha um longo caminho, precisava de tempo para aprender inglês para as provas de seleção, para me regularizar no país e para organizar toda a papelada para minha candidatura para as universidades. Foi 1 ano e meio de MUITA ansiedade e incerteza.
Claro que eu queria muito estudar em uma universidade muito boa, que fosse igual ou melhor que a USP. Mas eu não sabia, de jeito nenhum, se seria possivel. Eu passei algumas semanas pesquisando os programas de mestrado que eu poderia me interessar e descobri a área de Educação Internacional Comparada. Eu tinha feito pesquisa durante a graduação em educação e psicologia, e seria muito legal ganhar essa perspectiva internacional, estando agora em outro país. Duas das universidades que oferecem este programa me chamaram muita atenção: Columbia e Harvard. Comecei a construir esse sonho dentro de mim, estudar em uma das duas. Era um sonho tão grande, e tão impossível, que eu não contei pra quase ninguém. Um dia, em agosto de 2011, no meio da madrugada, precisava compartilhar com alguém e mandei um e-mail pro meu irmão, com um link do programa de Harvard, dizendo que aquele era meu sonho secreto, seguido por risos.
Sonhava, mas meus primeiros meses nos EUA não foram fáceis. Culpa por deixar a família, medo de me arrepender do caminho que escolhi, de acabar não conseguindo estudar, o que seria meu único modo de mais tarde arrumar um bom emprego por lá. Eu arrumei um trabalho de meio periodo em uma padaria brasileira, o que foi muito bom para guardar dinheiro para os gastos que viriam com os documentos e inscrições para o mestrado. Mas eu não queria que aquele trabalho temporário se transformasse em algo permanente.
Assim que cheguei nos EUA, me matriculei em uma aula de inglês numa Community College. Três vezes por semana eu ia nessa faculdade ter aulas de inglês com alunos americanos do primeiro ano de diversos cursos de graduação. No outro semestre me matriculei em uma aula de inglês como segunda língua (ESL) na Clark University, onde fiz aulas de cultura americana e inglês com alunos internacionais da faculdade. Também me liguei a uma instituição para trabalho voluntário, onde eu ia uma vez por semana brincar com crianças de família que moravam em abrigos. Preenchi meu tempo com o que eu achava poderia me levar onde eu queria.
No meio dos dois cursos, em janeiro de 2012, assinei um papel que era o selo da minha decisão de ficar nos EUA, me casei. Com isso dei entrada nos meus papéis de residência, o que me trouxe muitas angústias por meses, já que burocracia é sempre UÓ, e fiz tudo sozinha, sem pagar advogado. No final, olhando para tráz, posso dizer que foi um caminho rápido. O sistema de imigração americano, tão sobrecarregado, me surpreendeu. O green card chegou depois de 10 meses.
No começo de 2012 tracei um plano do que eu deveria fazer para ter todo o necessário até o final do ano, os prazos de inscrição das Gradschools, os departamentos das universidades onde se estuda mestrado e doutorado.
Estudei algumas meses especificamente para o TOEFL, a prova de proficiência em inglês. Em agosto fiz a prova e tirei 114, acima dos 100 pontos que as melhores universidades pedem. Depois estudei para o GRE, que seria meu grande desafio. GRE é a prova geral que todos os candidatos a mestrado e doutorado tem que fazer, que mede habilidade em inglês e área de exatas. Era meu grande desafio pois eu seria comparada com os alunos americanos, eu tinha uma natural desvantagem. Acabei parando no percentil 83. Não é uma pontuação estelar, mas era o suficiente para ter chances de ser aceita nas univerisdades que eu queria.
No meio de 2012 escolhi as universidades para as quais me candidataria: Harvard, Columbia, UPenn, Boston College, Tufts, Stanford e Universidade de New York. Era uma lista bem ambiciosa. Todas são universidades muito boas, que recebem muitas candidaturas. Mas achei que deveria mirar bem alto, é o que dizem que devemos fazer.
Solicitei meus históricos pra USP, mandei para um tradutor juramentado. Este material foi escaneado e enviado eletronicamente para algumas das universidades. Outras pediam em papel, que foram pelo correio. Outras duas ainda pediam que o material fosse enviado para uma instituição em NY que avalia o histórico transformando tudo para o sistema americano, notas e créditos. Tudo isso foi cansativo, e CARO. Meu irmão ocupadíssimo me ajudou muito, levando e buscando papéis da usp, do tradutor, correio, ufa!
Depois solicitei para três professores da minha graduação cartas de recomendação, que deveriam ser detalhadas sobre meu desempenho em suas aulas ou em pesquisa que fizemos juntos. Pedir favor não é comigo, e me da nervoso de atrapalhar as pessoas. Imagina ter que pedir que um professor universitário escreva uma carta, entre em SETE sistemas eletrônicos de universidades, responda SETE formulário e faça upload da carta. Pois é, mas tive que fazer, e os professores foram muito prestativos. Contei com a ajuda da minha amiga Kátia também, no acesso aos professores.
A última parte foi escrever meus Statements of Purpose. Para cada universidade, eu teria que escrever o que já fiz na área, o porquê eu queria estudar naquele programa naquela universidade. Escrevi, reescrevi, meu marido leu corrigindo erros de gramática. Eu não sabia ao certo como fazer, mas segui o que as universidades pediam.
Passei as primeiras semanas de dezembro nos sites das universidades, preenchendo formulários, pedidos de bolsa, carregando os documentos (histórico, currículo e statement of purpose), pagando as taxas, arrumando erro de envio do ETS (quem organiza as provas TOEFL e GRE). Quando vim para o Brasil eu tinha quase terminado tudo, ainda bem, porque ai começou as mil idas a hospitais com meu pai, e não teria muito tempo.
Eu planejei passar sete semanas no Brasil, voltar, trabalhar para guardar um dinheiro e em agosto começar o curso, onde quer que fosse. Mas ai adiei meu retorno, para não sei quando. No começo de março comecei a receber minhas aceitações e negações. Stanford não me aceitou. Mas todas as outras me aceitaram! Fiquei muito surpresa e feliz! Particularmente feliz por eu ter tentado, mesmo sem saber se seria possível. Dia 8 de março cheguei em casa a noite, depois de passar a tarde com o meu avô no hospital. Foi um dia dificil, cansativo, em que eu estava particularmente triste. Vi no celular que recebi um e-mail de Harvard, dizendo que a decisão da minha candidatura estava online. Meu pai estava assistindo TV e me contando alguma coisa. Abri o computador muito rapidamente, ele nem sabia o que estava acontecendo, meu coração estava na boca. Assim que coloquei minha senha, uma página abriu e começava assim: Congratulations! Comecei a chorar, na frente do meu pai. Era a realização de um grande sonho, em meio a coisas tão dificeis.
Já pensei VÁRIAS VEZES em como eu estaria tão feliz se nada disso estivesse acontecendo com meu pai. Mas claro, nada é perfeito. Baseada em minha vida nos últimos anos, acredito que existe um certo tipo de balanço na vida. A vida tira, a vida dá. Sabe aquela história que quando tudo está muito bem você pode se preparar que algo ruim está a caminho? O contrário também vale. Vindo para o Brasil eu tinha quase absoluta certeza que eu iria conseguir em uma universidade muito boa, uma vez que as coisas andavam bem ruins. A vida iria me recompensar.
Mas agora me vejo numa situação muito dificil. Preciso ir embora antes de agosto, para o curso. Até existe a possibilidade de eu pedir para adiar um ano o começo do curso, mas de qualquer jeito não posso ficar muito tempo longe dos EUA por conta do Green Card. Mas não me vejo deixando meu pai aqui. Pensar nisso tudo tem sido motivo de grande angústia. Odeio isso, mas ficar martelando tudo no cabeça o tempo todo é inevitável.
Sou grata a vida por me dar um presente tão bom, que é uma super dose de esperança na vida. Mas as vezes me pego brigando demais com ela, por ter colocando meus planos em suspenso. Quero muito que toda essa situação fique mais clara nas próximas semanas, e eu possa tomar uma decisão. Muitas coisas em jogo.
Escrevi tanto, tanto. Precisava organizar aqui dentro.
quarta-feira, 27 de março de 2013
terça-feira, 12 de março de 2013
Meu pai está com câncer, estágio IV
Quando eu conto, as pessoas dizem: "Mas de novo?". Também me perguntei isso por algum tempo, hoje já passou. Estou vivendo cada dia, um por vez.
Apareceram nódulos no fígado do meu pai em um ultrassom do começo de 2012. Fiquei com muito medo. Eu estava nos Estados Unidos, e estando longe o medo fica mais assustador. Quando ele levou os exames para um gastro de Cruzeiro, foi um alívio. O médico disse que não era nada preocupante. Alguns meses depois, meu pai voltou no médico, reclamando de um certo mal estar abdominal. Novamente o médico disse que não era nada preocupante, mesmo tendo agora o resultado de uma tomografia. Então meu pai decidiu ver um médico de outra cidade, e dessa vez ele se assustou. Já era novembro de 2012. O médico pediu então uma ressonância.
No começo de dezembro comecei a ouvir de algumas pessoas que meu pai estava mais magro. Faltavam 5 dias para eu chegar ao Brasil para passar natal e etc quando meu pai pegou o resultado da ressonância, e eu já sabia. Magreza sem explicação, os nódulos tinham crescido de um exame para outro. Neoplasia. Inflitração. Lesão secundária. Minha maior sensação foi de repeteco, as mesmas palavras de 4 anos atrás martelando. Minha única tranquilidade era saber que eu estava vindo para o Brasil.
Meu primeiro mês no Brasil foi bem ruim. Fiquei muito sozinha em casa, sem vontade de ver ninguém, querendo fugir do assunto. Eu tinha esperado TANTO minha vinda, queria matar a saudade de tanta gente, aproveitar ao máximo. Mas nossos planos seguem seus próprios caminhos. Meu pai não queria contar para ninguém, e eu não queria ver ninguém.
Passamos vários dias de janeiro em SP fazendo exames, muitos e muitos. Até hoje não se concluiu exatamente onde começou o câncer, possivelmente em algum lugar entre o pâncreas e a vesícula. Tem metástases no figado e uma pequena lesão pulmonar. O médico disse que a quimioterapia pode controlar a doença, mas não curar. Ele está bem magro, com acúmulo de líquido no abdomen.
As quimios estão sendo feitas numa cidade mais próxima de Cruzeiro, já se foram 2 sessões. Ainda não sabemos se elas fizeram algum efeito.
Tento preencher meus dias o máximo possível. Limpo, cozinho, dou aulas de inglês, lavo roupa, resolvo coisas pro meu pai. Não posso parar para pensar que entro num estado de estresse insuportável. Acho que resolveu, tanto que não choro, de jeito nenhum, estranhamente.
Um dia eu cai. Na primeira quimio, sai da sala para comprar um lanchinho. Quando fechei a porta de vidro, parei 5 segundos para olhar meu pai, magrinho, rindo com as enfermeiras, sentado na cadeira branca recebendo os medicamentos e me deu uma terrivel sensação de deja vu. Uma cena que eu nao esperava fosse voltar para minha vida, jamais. E tantas coisas parecidas com a história da minha mãe em 2008, o liquido no abdomen, a falta de cirurgia, os olhares dos médicos, a quimio paliativa.
Não acho que seja por acaso, a vida acha que eu ainda não aprendi.
Agora estou por tempo indeterminado no Brasil. Estou tendo a chance de passar mais tempo com minha família e ajudar meu pai. Por outro lado, eu sai completamente do meu planejamento de preparação para começar o mestrado nos EUA no segundo semestre e larguei meu marido lá.
E então semana passada uma coisa muito boa aconteceu para minha vida, um sonho muito grande se realizou. Mas escrevo sobre isso outro dia. A vida tira, a vida dá...
**********
Nota em 2018: Muita gente chega neste blog por esta postagem. Agradeço às pessoas que deixam mensagens! Vejo que minha história é tão parecida com a de muita gente, com amigos, pais, irmãos com câncer. É uma batalha, cheia de dor, ansiedade, esperança. Força pra vocês! Na minha história perdi meu pai e minha mãe para esta doença, e hoje alguns anos depois, cheia de saudade, e dias doloridos, ainda tenho também vários dias felizes, de realizações e vitórias. A vida nos ensina a sermos fortes, em meio a dias de fraqueza. Seja paciente com sua dor. Desejo força, sempre!
Apareceram nódulos no fígado do meu pai em um ultrassom do começo de 2012. Fiquei com muito medo. Eu estava nos Estados Unidos, e estando longe o medo fica mais assustador. Quando ele levou os exames para um gastro de Cruzeiro, foi um alívio. O médico disse que não era nada preocupante. Alguns meses depois, meu pai voltou no médico, reclamando de um certo mal estar abdominal. Novamente o médico disse que não era nada preocupante, mesmo tendo agora o resultado de uma tomografia. Então meu pai decidiu ver um médico de outra cidade, e dessa vez ele se assustou. Já era novembro de 2012. O médico pediu então uma ressonância.
No começo de dezembro comecei a ouvir de algumas pessoas que meu pai estava mais magro. Faltavam 5 dias para eu chegar ao Brasil para passar natal e etc quando meu pai pegou o resultado da ressonância, e eu já sabia. Magreza sem explicação, os nódulos tinham crescido de um exame para outro. Neoplasia. Inflitração. Lesão secundária. Minha maior sensação foi de repeteco, as mesmas palavras de 4 anos atrás martelando. Minha única tranquilidade era saber que eu estava vindo para o Brasil.
Meu primeiro mês no Brasil foi bem ruim. Fiquei muito sozinha em casa, sem vontade de ver ninguém, querendo fugir do assunto. Eu tinha esperado TANTO minha vinda, queria matar a saudade de tanta gente, aproveitar ao máximo. Mas nossos planos seguem seus próprios caminhos. Meu pai não queria contar para ninguém, e eu não queria ver ninguém.
Passamos vários dias de janeiro em SP fazendo exames, muitos e muitos. Até hoje não se concluiu exatamente onde começou o câncer, possivelmente em algum lugar entre o pâncreas e a vesícula. Tem metástases no figado e uma pequena lesão pulmonar. O médico disse que a quimioterapia pode controlar a doença, mas não curar. Ele está bem magro, com acúmulo de líquido no abdomen.
As quimios estão sendo feitas numa cidade mais próxima de Cruzeiro, já se foram 2 sessões. Ainda não sabemos se elas fizeram algum efeito.
Tento preencher meus dias o máximo possível. Limpo, cozinho, dou aulas de inglês, lavo roupa, resolvo coisas pro meu pai. Não posso parar para pensar que entro num estado de estresse insuportável. Acho que resolveu, tanto que não choro, de jeito nenhum, estranhamente.
Um dia eu cai. Na primeira quimio, sai da sala para comprar um lanchinho. Quando fechei a porta de vidro, parei 5 segundos para olhar meu pai, magrinho, rindo com as enfermeiras, sentado na cadeira branca recebendo os medicamentos e me deu uma terrivel sensação de deja vu. Uma cena que eu nao esperava fosse voltar para minha vida, jamais. E tantas coisas parecidas com a história da minha mãe em 2008, o liquido no abdomen, a falta de cirurgia, os olhares dos médicos, a quimio paliativa.
Não acho que seja por acaso, a vida acha que eu ainda não aprendi.
Agora estou por tempo indeterminado no Brasil. Estou tendo a chance de passar mais tempo com minha família e ajudar meu pai. Por outro lado, eu sai completamente do meu planejamento de preparação para começar o mestrado nos EUA no segundo semestre e larguei meu marido lá.
E então semana passada uma coisa muito boa aconteceu para minha vida, um sonho muito grande se realizou. Mas escrevo sobre isso outro dia. A vida tira, a vida dá...
**********
Nota em 2018: Muita gente chega neste blog por esta postagem. Agradeço às pessoas que deixam mensagens! Vejo que minha história é tão parecida com a de muita gente, com amigos, pais, irmãos com câncer. É uma batalha, cheia de dor, ansiedade, esperança. Força pra vocês! Na minha história perdi meu pai e minha mãe para esta doença, e hoje alguns anos depois, cheia de saudade, e dias doloridos, ainda tenho também vários dias felizes, de realizações e vitórias. A vida nos ensina a sermos fortes, em meio a dias de fraqueza. Seja paciente com sua dor. Desejo força, sempre!
terça-feira, 15 de janeiro de 2013
Agora pode ser lindo, mesmo com todo o cinza
Sonhei que estava em uma excursão,
num lugar montanhoso. Era uma mistura da Capadócia (claro, veio da novela Salve
Jorge haha) com o Grand Canyon (o livro que eu estou lendo fez alguma referência às
montanhas americanas).
O lugar era lindo, mas eu estava
cansada. Queria ir embora. Não me lembro exatamente qual grupo estava comigo,
mas tenho a sensação de que eram pessoas conhecidas. E fiquei muito irritada
quando alguém disse que ainda faltava um último lugar para visitarmos. Talvez
durante o dia de hoje eu me lembre do nome desse lugar, porque no sonho o nome
era repetido, toda hora, todo tempo. Era um nome meio grego. Era um nome muito
parecido com a palavra AGORA. Talvez não fosse exatamente isso, mas o fato de
eu me lembrar desta exata palavra, quer dizer alguma coisa.
Entramos numa caverna, um lugar
feito de mármore. Passamos por uma passagem muito estreita, alguns degraus
cortados geometricamente, e chegamos num lugar que não consigo descrever, mas
vou tentar. Um lugar aberto, todo meio cinza. Acho que tinha um lago. Mas a
parte linda da paisagem era o céu. Não era azul, não era claro. Era preto,
cinza e branco. E do céu vinham feixes de luz e uma música, e as nuvens
passavam muito rápido com o vento. Escutei alguém dizer que a lua estava linda,
mas eu não vi a lua. A sensação que eu tive ao olhar para o céu foi
indescritível. E eu comecei a chorar. E escutei outras pessoas chorando. E
abracei pessoas ali que eu não me lembro quem eram. Eu só pensava em como
aquele era o lugar mais bonito do mundo, e em como qualquer um que chegasse ali
acharia lindo e choraria de emoção.
Sai do lugar, não me lembro pra
onde fui. Mais coisas aconteceram, não me lembro.
Mas ao escrever aqui, e depois
de pensar um pouco, consigo ver muito significado neste sonho. Nas ultimas
semana tenho estado chateada demais com minha estadia no Brasil. Eu planejei
por muito tempo, que viria pra cá, passaria algum tempo em Cruzeiro, algum
tempo em São Paulo. Veria amigos, familia, passearia com meu pai e irmão. Já
tinha feito um pacto comigo de aproveitar cada segundo para ver pessoas. Mas as
coisas acontecem fora do nosso controle.
Meu pai está doente, fiquei
sabendo uma semana antes de eu vir. Não vou embora no dia 7 de fevereiro, como
planejado. Não sei quando vou embora. Estamos indo em hospitais, fazendo
exames. Ainda não sei o que vai acontecer, mas a melhor opção seria um tratamento
demorado e sofrido. A outra opção seria uma repetição do que aconteceu com
minha mãe. Uma situação incerta. Muitas angústias. E minha sensação é de que a
situação não é nada boa.
Por conta dessa situação, essa
incerteza, a mudança de planos total do que eu faria aqui e do que eu faria
neste semestre nos Estados Unidos, uma adaptação as coisas daqui, as últimas
semanas não foram fáceis. Não consegui ver ninguém. Minha vontade de conversar
estava zero. Passei muitos dia em casa, martelando minha vida, sozinha. Meu
interesse em outras pessoas foi embora, estava muito afundada em mim mesma.
Mas no último final de semana as
coisas começaram a mudar. Não sei porque, mas comecei a ser mais positiva.
Passei mais tempo com família, já marquei de ver amigos. E ai vem esse sonho.
Acho que o sonho é sobre
aproveitar AGORA. Sobre como existem coisas bonitas, mesmo neste momento tão
estranho. Como aproveitar aqui, Cruzeiro, minha casa, meu pai, é o que eu devo
fazer. Preocupar-se demais com o futuro e o que ele vai trazer nos
impossibilita de ver o que há de bom agora, mesmo que não seja muita coisa.
Existem coisas belas mesmo nas nuvens cinzas. Até acho que existe muita poesia
no medo da morte, na sensação tão gritante de finitude de tudo que me rodeia,
que fica me assombrando todo dia.
A
vida é curta mesmo. Eu já devia ter aprendido a dar valor ao que tenho hoje, e
nada mais. AGORA pode ser lindo, mesmo com todo o cinza.
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
Sobre o peso do passado nos objetos
Meus pais construiram esta casa
do chão. Em 1994 nos mudamos para cá, com a sala, a cozinha, um banheiro e um
quarto prontos. Por algum tempo, meus pais, meu irmão e eu dormiamos no mesmo
cômodo. Até que a escada e um quarto foram construidos, e meus pais se mudaram
para lá. Depois mais um quarto, para onde eu e meu irmão nos mudamos. Depois,
com os três quartos prontos, cada um já tinha seu cantinho. Depois de todos os
cômodos já habitados, ainda faltavam muitos detalhes. Eu dormia sob telhas. E o
chão era só cimento. Depois de alguns anos, colaram piso e os forros de
madeira. Cresci numa casa em construção!
A casa ficou pronta em passos de
formiga. Por alguns momentos, por falta de dinheiro, meus pais paravam a obra.
Em outros momentos, era só bagunça, pó, tinta, cimento, pedreiros, pintores.
Minha casa ficou pronta, 100%,
quando enfim foi pintada por fora e a área da churrasqueira no quintal ficou
pronta. Em 2007, treze anos depois de nos mudarmos para ela. Naquele ano, o
natal e o ano novo foram na minha casa. A primeira e última vez. Em 2008 minha
mãe foi embora.
Em 2005 eu tinha ido morar em
São Paulo, e já comecei a construir uma estranha relação com minha casa. Meu
quarto estava la, inteirinho, cheio de tranqueiras que eu guardei por anos para
servirem de lembrança algum dia. Mas eu dormia ali 4 noites no mês.
Em 2008 meu irmão foi estudar em
Sao Paulo também. E consigo imaginar a angustia da minha mãe em ver a casa
vazia. Vejo hoje como os pais do interior precisam aprender a lidar com isso,
quartos vazios, que são ocupados por alguns dias no mes, e só.
No fim meu pai ficou sozinho
aqui, nesta casa grande. E nada mais mudou. O que foi quebrando, ficou
quebrado. Nada foi repintado.
Cheguei a pouco dia dos Estados
Unidos, depois de um ano e meio fora. Como minha casa me causa estranheza! Tem,
claro, o silêncio, terrivel, que ficou depois da morte da minha mãe, com o qual
até hoje não me acostumei. Além disso, minha casa é uma representação física da
perda, da passagem do tempo, das mudanças.
Ontem revirei meu guarda-roupa e
separei muitas roupas que eu tenho por anos. Ainda preciso jogar fora muita
coisa por ali. Minha familia tem aquela mania de não jogar coisas foras (O que não
é tão ruim, quando não se tem a mania de comprar muita coisa também). Isso faz
minha casa e tudo dentro ter muito significado, muita história, marcada em cada
cantinho. Ainda temos a mesma mesa, o mesmo sofá, o mesmo fogão, de quando nos
mudamos para esta casa em 1994! Além disso, muitas coisas que nem são usadas
foram ficando, aquário vazio, esteira, quadros, televisões, rádio.
Ando com vontade de pegar tudo
que nao tem utilidade, e jogar fora, doar. Começando pelo meu quarto. Sempre
guardei tudo que pudesse um dia servir de lembranças, roupas, objetos, papéis, coisas
que já tem 10, 15, 20 anos. Como uma criança nostálgica, mesmo com pouco
passado, eu sempre achei que um dia eu iria me deliciar, sentada com filhos ou
antigos amigos, olhando para todos aqueles objetos que contavam minha história.
Mas eu não sabia que o passado poderia pesar demais.
Registrar assim tão fortemente o caminho das mudanças, enchergar como fomos
perdendo amigos, pessoas, fé, coragens, é doloroso.
Ando com uma super inveja boa das pessoas que,
ao contrário de mim, ficaram. Pessoas que moram em Cruzeiro, crescem,
trabalham, tudo por aqui. Alguns se mudam da casa dos pais, mas estão sempre
por perto. Alguns acabam criando suas novas famílias na própria casa onde
cresceram.
Mas minha maior inveja boa é das pessoas que
foram em busca de seus sonhos, se mudaram, mas tem lá, uma casa, com seus pais
juntos, envelhecendo. Tem, talvez, uma caixa com coisas que deixou por ali
mesmo, para serem guardadas.
Acho que quem me vê, de fora, deve me achar bem
desapegada. Até de país me mudei. Mas na verdade, sofro demais com esse
processo de deixar para trás, sejam histórias, sejam pessoas, sejam objetos. A vida tem
constantemente tentando me ensinar a deixar ir embora o passado. Acho que a vida está
agora querendo que eu me desapegue desta casa, de vez.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Déjà vu
Estou lutando para não escrever aqui. Sabe quando a gente se engana e acha que se não conta uma coisa para todo mundo, aquela coisa não existe? Varrer a sujeira pra baixo dos panos.
Contei para pouquíssimas pessoas. Mesmo pessoas muito próximas ainda não sabem. Ainda estou na batalha para que não vire o único assunto, para que não vire novela. Não estou preparada para ter que responder perguntas com as mesmas respostas. Ainda não quero ver pessoas tão próximas chateadas, com pena.
Mas está começando a pesar. Por isso logo logo ressuscito este blog, infelizmente.
Ele nos pegou, de novo.
Contei para pouquíssimas pessoas. Mesmo pessoas muito próximas ainda não sabem. Ainda estou na batalha para que não vire o único assunto, para que não vire novela. Não estou preparada para ter que responder perguntas com as mesmas respostas. Ainda não quero ver pessoas tão próximas chateadas, com pena.
Mas está começando a pesar. Por isso logo logo ressuscito este blog, infelizmente.
Ele nos pegou, de novo.
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Sobre como dizer adeus
Só para tirar um pouquinho a poeira do blog, já que talvez logo ele precise ser ressuscitado...
Sobre como dizer adeus, no caso de doenças terminais. Achei bonito.
http://www.nytimes.com/2012/12/30/fashion/finding-the-words-or-not-to-say-goodbye.html?pagewanted=all&_r=0
Sobre como dizer adeus, no caso de doenças terminais. Achei bonito.
http://www.nytimes.com/2012/12/30/fashion/finding-the-words-or-not-to-say-goodbye.html?pagewanted=all&_r=0
domingo, 13 de maio de 2012
feliz dia das mães
Esses dias li um texto de um rapaz com a historia de sua mãe. Me identifiquei de imediato. Mas um trecho ficou martelando na minha cabeça porque é exatamente o que eu sinto, uma solidão meio estranha. Sei que tenho amigos e pessoas al redor, mas a unica pessoa que estaria la 100% , em qualquer situação, nao vai estar.
"Your mother is a scrapbook for all your enthusiasms. She is the one who validates and the one who shames, and when she’s gone, you are alone in a terrible way."
Texto completo: http://opinionator.blogs.nytimes.com/2012/05/10/the-last-mothers-day/
Feliz dia das mães pra vc que é tão importante na Vida do seu filho! E pra minha mãe também, que carrego dentro de mim.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
4 de abril...
Depois de um tempo resolvi escrever hoje, que era aniversário da minha mãe.
Há alguns meses eu cheguei a seguinte conclusão: superei. Comecei a lembrar na minha mãe com uma saudade boa, parei de pensar em hospital e na doença que ela teve, toquei minha vida, me formei, arrumei um emprego...E quando eu penso em superar a morte de alguém em momento algum eu falo em esquecer. Isso nunca. Todo dia penso nela, mas não choro sempre, a ausência dela não grita no cotidiano, porque a cada dia mais dias são somados ao tipo de vida que tenho agora: vida sem mãe.
Mas mês passado, uma noite, sonhei com ela. Sonhei que ela voltou de viagem, e eu liguei pra ela e disse: "Mãe, que saudades de vc...". E ela me disse: "Aline, deixa disso, faz só dois dias que não te vejo". Nesse dia, do sonho, pensei nela o tempo todo! E naquela semana chorei várias vezes, com uma saudade doida. Em 2011 minha vida mudou muito. Não sou mais estudante, mudei de casa, arrumei um emprego, meu namorado veio morar no Brasil...Acho que estranhei ter uma nova vida que minha mãe nunca viu, nunca vai ver. E concluiu que na verdade ainda não aceito, não aceito, não adianta, não consigo entender a razão disso, como alguém como ela pode ter tido uma doença assim, do nada, que nem deu chance. Acho que eu NUNCA pensei que ela pudesse morrer tão cedo e ainda estou chocada, embora tenha me acostumado com ele choque.
Outra coisa que me fez pensar muito nela também é que, acreditem se quiser, ano passado meu pai descobriu um câncer de próstata, bem inicial (ufa!). Em março ele operou e acredito esteja tudo resolvido já. Mas além dessa doença rondar minha família de novo, nesses momentos que minha mãe faz MUITA falta. Meu pai sofre muito com a ausência dela, sinto que ele nunca mais foi o mesmo, nunca riu do mesmo jeito, e acho isso uma pena. Esses dias eu lembrei de quando eu acordava domingo de manhã e escutava meus pais rindo e conversando, assistindo tv, sem terem levantado ainda. Momentos que não voltam nunca, nunca...
Lembrei daquela frase de São Francisco de Assis que começa assim: "Senhor, dá-me força para aceitar as coisas que não posso mudar...".
Tem uma música que agora sempre me faz lembrar da minha mãe, chama Drops Of Jupiter, da banda Train. Ouvi dizer que o vocalista escreveu para sua mãe que morreu, e acho que tem tudo a ver, várias metáforas. (http://letras.terra.com.br/train/40685/). E essa música me ajuda a pensar na minha mãe de uma maneira positiva, sei que ela não está do meu lado, não posso falar com ela, pedir conselhos, correr quando preciso, mas ela está, de alguma maneira, dentro de mim e em todos os lugares. E ela me inspira sempre!
Desde que ela foi embora, em todos os lugares bonitos que eu fui, todas as conquistas que eu tive, os dias felizes e tristes, ela estava comigo. Não em espírito, ou algo assim (não acredito), mas me inspirando, em meus pensamentos, ela é a lembrança mais forte e profunda que tenho dentro de mim.
Há alguns meses eu cheguei a seguinte conclusão: superei. Comecei a lembrar na minha mãe com uma saudade boa, parei de pensar em hospital e na doença que ela teve, toquei minha vida, me formei, arrumei um emprego...E quando eu penso em superar a morte de alguém em momento algum eu falo em esquecer. Isso nunca. Todo dia penso nela, mas não choro sempre, a ausência dela não grita no cotidiano, porque a cada dia mais dias são somados ao tipo de vida que tenho agora: vida sem mãe.
Mas mês passado, uma noite, sonhei com ela. Sonhei que ela voltou de viagem, e eu liguei pra ela e disse: "Mãe, que saudades de vc...". E ela me disse: "Aline, deixa disso, faz só dois dias que não te vejo". Nesse dia, do sonho, pensei nela o tempo todo! E naquela semana chorei várias vezes, com uma saudade doida. Em 2011 minha vida mudou muito. Não sou mais estudante, mudei de casa, arrumei um emprego, meu namorado veio morar no Brasil...Acho que estranhei ter uma nova vida que minha mãe nunca viu, nunca vai ver. E concluiu que na verdade ainda não aceito, não aceito, não adianta, não consigo entender a razão disso, como alguém como ela pode ter tido uma doença assim, do nada, que nem deu chance. Acho que eu NUNCA pensei que ela pudesse morrer tão cedo e ainda estou chocada, embora tenha me acostumado com ele choque.
Outra coisa que me fez pensar muito nela também é que, acreditem se quiser, ano passado meu pai descobriu um câncer de próstata, bem inicial (ufa!). Em março ele operou e acredito esteja tudo resolvido já. Mas além dessa doença rondar minha família de novo, nesses momentos que minha mãe faz MUITA falta. Meu pai sofre muito com a ausência dela, sinto que ele nunca mais foi o mesmo, nunca riu do mesmo jeito, e acho isso uma pena. Esses dias eu lembrei de quando eu acordava domingo de manhã e escutava meus pais rindo e conversando, assistindo tv, sem terem levantado ainda. Momentos que não voltam nunca, nunca...
Lembrei daquela frase de São Francisco de Assis que começa assim: "Senhor, dá-me força para aceitar as coisas que não posso mudar...".
Tem uma música que agora sempre me faz lembrar da minha mãe, chama Drops Of Jupiter, da banda Train. Ouvi dizer que o vocalista escreveu para sua mãe que morreu, e acho que tem tudo a ver, várias metáforas. (http://letras.terra.com.br/train/40685/). E essa música me ajuda a pensar na minha mãe de uma maneira positiva, sei que ela não está do meu lado, não posso falar com ela, pedir conselhos, correr quando preciso, mas ela está, de alguma maneira, dentro de mim e em todos os lugares. E ela me inspira sempre!
Desde que ela foi embora, em todos os lugares bonitos que eu fui, todas as conquistas que eu tive, os dias felizes e tristes, ela estava comigo. Não em espírito, ou algo assim (não acredito), mas me inspirando, em meus pensamentos, ela é a lembrança mais forte e profunda que tenho dentro de mim.
quarta-feira, 28 de julho de 2010
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Minha formatura
Estou meio atrasada, mas no final de março foi minha formatura. Foi o primeiro grande evento da minha vida em que minha mãe não estava. E talvez fosse um de seus maiores sonhos. Não entendo mesmo como foi possível no curso da minha vida a ausência dela nesse dia. Ela foi quem mais me incentivou em tudo, desde sempre.... vida injusta! Mas eu estava la, por ela!

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