Quando eu fui para os Estados Unidos em julho de 2011, fui com muitas dúvidas. Eu e meu marido tomamos a decisão de última hora, depois de uma tentativa frustrada de morar em São Paulo. Eu queria continuar estudando, fazer mestrado. Ele não se adaptou à vida paulistana, de muito trânsito e barulho.
Meu plano inicial era tentar fazer mestrado no USP, já tinha proximidade com uma professora, já estava por dentro do processo de seleção. Mas no final eu decidi por um desafio diferente. E foi por isso que decidi ir para os Estados Unidos. Sem saber se seria possível, sem saber muito bem como fazer, peguei o avião falando para todo mundo que eu iria estudar. Mas eu fui bem sem noção de nada. Sabia que tinha um longo caminho, precisava de tempo para aprender inglês para as provas de seleção, para me regularizar no país e para organizar toda a papelada para minha candidatura para as universidades. Foi 1 ano e meio de MUITA ansiedade e incerteza.
Claro que eu queria muito estudar em uma universidade muito boa, que fosse igual ou melhor que a USP. Mas eu não sabia, de jeito nenhum, se seria possivel. Eu passei algumas semanas pesquisando os programas de mestrado que eu poderia me interessar e descobri a área de Educação Internacional Comparada. Eu tinha feito pesquisa durante a graduação em educação e psicologia, e seria muito legal ganhar essa perspectiva internacional, estando agora em outro país. Duas das universidades que oferecem este programa me chamaram muita atenção: Columbia e Harvard. Comecei a construir esse sonho dentro de mim, estudar em uma das duas. Era um sonho tão grande, e tão impossível, que eu não contei pra quase ninguém. Um dia, em agosto de 2011, no meio da madrugada, precisava compartilhar com alguém e mandei um e-mail pro meu irmão, com um link do programa de Harvard, dizendo que aquele era meu sonho secreto, seguido por risos.
Sonhava, mas meus primeiros meses nos EUA não foram fáceis. Culpa por deixar a família, medo de me arrepender do caminho que escolhi, de acabar não conseguindo estudar, o que seria meu único modo de mais tarde arrumar um bom emprego por lá. Eu arrumei um trabalho de meio periodo em uma padaria brasileira, o que foi muito bom para guardar dinheiro para os gastos que viriam com os documentos e inscrições para o mestrado. Mas eu não queria que aquele trabalho temporário se transformasse em algo permanente.
Assim que cheguei nos EUA, me matriculei em uma aula de inglês numa Community College. Três vezes por semana eu ia nessa faculdade ter aulas de inglês com alunos americanos do primeiro ano de diversos cursos de graduação. No outro semestre me matriculei em uma aula de inglês como segunda língua (ESL) na Clark University, onde fiz aulas de cultura americana e inglês com alunos internacionais da faculdade. Também me liguei a uma instituição para trabalho voluntário, onde eu ia uma vez por semana brincar com crianças de família que moravam em abrigos. Preenchi meu tempo com o que eu achava poderia me levar onde eu queria.
No meio dos dois cursos, em janeiro de 2012, assinei um papel que era o selo da minha decisão de ficar nos EUA, me casei. Com isso dei entrada nos meus papéis de residência, o que me trouxe muitas angústias por meses, já que burocracia é sempre UÓ, e fiz tudo sozinha, sem pagar advogado. No final, olhando para tráz, posso dizer que foi um caminho rápido. O sistema de imigração americano, tão sobrecarregado, me surpreendeu. O green card chegou depois de 10 meses.
No começo de 2012 tracei um plano do que eu deveria fazer para ter todo o necessário até o final do ano, os prazos de inscrição das Gradschools, os departamentos das universidades onde se estuda mestrado e doutorado.
Estudei algumas meses especificamente para o TOEFL, a prova de proficiência em inglês. Em agosto fiz a prova e tirei 114, acima dos 100 pontos que as melhores universidades pedem. Depois estudei para o GRE, que seria meu grande desafio. GRE é a prova geral que todos os candidatos a mestrado e doutorado tem que fazer, que mede habilidade em inglês e área de exatas. Era meu grande desafio pois eu seria comparada com os alunos americanos, eu tinha uma natural desvantagem. Acabei parando no percentil 83. Não é uma pontuação estelar, mas era o suficiente para ter chances de ser aceita nas univerisdades que eu queria.
No meio de 2012 escolhi as universidades para as quais me candidataria: Harvard, Columbia, UPenn, Boston College, Tufts, Stanford e Universidade de New York. Era uma lista bem ambiciosa. Todas são universidades muito boas, que recebem muitas candidaturas. Mas achei que deveria mirar bem alto, é o que dizem que devemos fazer.
Solicitei meus históricos pra USP, mandei para um tradutor juramentado. Este material foi escaneado e enviado eletronicamente para algumas das universidades. Outras pediam em papel, que foram pelo correio. Outras duas ainda pediam que o material fosse enviado para uma instituição em NY que avalia o histórico transformando tudo para o sistema americano, notas e créditos. Tudo isso foi cansativo, e CARO. Meu irmão ocupadíssimo me ajudou muito, levando e buscando papéis da usp, do tradutor, correio, ufa!
Depois solicitei para três professores da minha graduação cartas de recomendação, que deveriam ser detalhadas sobre meu desempenho em suas aulas ou em pesquisa que fizemos juntos. Pedir favor não é comigo, e me da nervoso de atrapalhar as pessoas. Imagina ter que pedir que um professor universitário escreva uma carta, entre em SETE sistemas eletrônicos de universidades, responda SETE formulário e faça upload da carta. Pois é, mas tive que fazer, e os professores foram muito prestativos. Contei com a ajuda da minha amiga Kátia também, no acesso aos professores.
A última parte foi escrever meus Statements of Purpose. Para cada universidade, eu teria que escrever o que já fiz na área, o porquê eu queria estudar naquele programa naquela universidade. Escrevi, reescrevi, meu marido leu corrigindo erros de gramática. Eu não sabia ao certo como fazer, mas segui o que as universidades pediam.
Passei as primeiras semanas de dezembro nos sites das universidades, preenchendo formulários, pedidos de bolsa, carregando os documentos (histórico, currículo e statement of purpose), pagando as taxas, arrumando erro de envio do ETS (quem organiza as provas TOEFL e GRE). Quando vim para o Brasil eu tinha quase terminado tudo, ainda bem, porque ai começou as mil idas a hospitais com meu pai, e não teria muito tempo.
Eu planejei passar sete semanas no Brasil, voltar, trabalhar para guardar um dinheiro e em agosto começar o curso, onde quer que fosse. Mas ai adiei meu retorno, para não sei quando. No começo de março comecei a receber minhas aceitações e negações. Stanford não me aceitou. Mas todas as outras me aceitaram! Fiquei muito surpresa e feliz! Particularmente feliz por eu ter tentado, mesmo sem saber se seria possível. Dia 8 de março cheguei em casa a noite, depois de passar a tarde com o meu avô no hospital. Foi um dia dificil, cansativo, em que eu estava particularmente triste. Vi no celular que recebi um e-mail de Harvard, dizendo que a decisão da minha candidatura estava online. Meu pai estava assistindo TV e me contando alguma coisa. Abri o computador muito rapidamente, ele nem sabia o que estava acontecendo, meu coração estava na boca. Assim que coloquei minha senha, uma página abriu e começava assim: Congratulations! Comecei a chorar, na frente do meu pai. Era a realização de um grande sonho, em meio a coisas tão dificeis.
Já pensei VÁRIAS VEZES em como eu estaria tão feliz se nada disso estivesse acontecendo com meu pai. Mas claro, nada é perfeito. Baseada em minha vida nos últimos anos, acredito que existe um certo tipo de balanço na vida. A vida tira, a vida dá. Sabe aquela história que quando tudo está muito bem você pode se preparar que algo ruim está a caminho? O contrário também vale. Vindo para o Brasil eu tinha quase absoluta certeza que eu iria conseguir em uma universidade muito boa, uma vez que as coisas andavam bem ruins. A vida iria me recompensar.
Mas agora me vejo numa situação muito dificil. Preciso ir embora antes de agosto, para o curso. Até existe a possibilidade de eu pedir para adiar um ano o começo do curso, mas de qualquer jeito não posso ficar muito tempo longe dos EUA por conta do Green Card. Mas não me vejo deixando meu pai aqui. Pensar nisso tudo tem sido motivo de grande angústia. Odeio isso, mas ficar martelando tudo no cabeça o tempo todo é inevitável.
Sou grata a vida por me dar um presente tão bom, que é uma super dose de esperança na vida. Mas as vezes me pego brigando demais com ela, por ter colocando meus planos em suspenso. Quero muito que toda essa situação fique mais clara nas próximas semanas, e eu possa tomar uma decisão. Muitas coisas em jogo.
Escrevi tanto, tanto. Precisava organizar aqui dentro.
A cada leitura sinto você cada vez mais forte, parabéns, parabéns, parabéns, você sempre será uma pessoa que falarei com orgulho, apesar de tudo, nunca deixou de sonhar. Um abraço.
ResponderExcluirEdilson