terça-feira, 4 de abril de 2017
55 voltas no sol
A Terra já deu exatas 55 voltas no sol desde o dia que nasceu a primeira filha menina do seu Zé e da dona Benedita. E foi até acontecimento comum, na família da roça que tinha tanto filho e filha. E no cenário do mundo então, com milhões e milhões de pessoas, foi caso bem mesmo ordinário. Mas no livrinho da vida da Aline, do Tiago, e de um bocado mais de gente, aquele foi o dia de um milagre. Nasceu a menina de olhos grandes de jabuticaba, e ela cresceu meio que sofrendo, sem mãe, sem muito apoio, e meio que desamparada, se tornou um ser iluminado, daqueles que chamam por aí de "mãe". E ela fez do mundo um lugar melhor para algumas pessoas, e os deu amor, não em forma de palavras ou abraços, mas em forma de cuidado, zelo, e atenção. E lá pela volta número 46 foi o dia que mesmo parecendo qualquer outro, expirou-se a mágica. Como uma vela que se apaga. Como uma nuvem que tampa o sol. Como o trem que vai embora e nos deixa na estação. Acabou. E foi tanto amor que ele ficou, jogado por ai, em petálas lilás e estrelas cadentes. E hoje celebro com um sorriso o dia 4 de abril, o dia em que minha vida se tornou uma boa vida mesmo antes de eu nascer. O dia que chegou quem mudou o mundo, para um bocado de gente. E até a minha vez de dar a última volta no sol vou sentir saudades que nem cabem nesse universo.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
A hora em que os pontos se unem
![]() |
(Trinity Church - Boston/Aline, 2016) |
É como ler um livro, ou ver um filme, e a historia não fazer sentido. Só entendemos a história no final, quando todos os pontos se juntam. Envolvidos em nosso sofrimento e dor que dura a vida toda, não conseguimos ver os pontos. Parece mesmo crueldade, tirar assim do convívio quem amamos tanto. Mas estão lá, todos os pontos, com começo, meio e fim, invisíveis ao nosso olhar. Até que chegue a nossa hora, unem-se os nossos pontos, e tudo faz sentido, e a historia se completa, e não há mais dor, só há paz e calma.
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(Desculpas pelo texto com as piores conjugações da historia. Acho que desaprendi subjuntivo. É que falar do que expressa incerteza é dificil pra caramba. Um dia volto e corrijo.
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Quantas vidas se vive numa vida
Quando a gente olha pro passado, e é do tipo que sofre de esquecimento de detalhes, é bem como se lêssemos um livro ou assistíssemos um filme. E acontece uma experiência quase extra corporal, esquizofrênica, existencial, birutinha. A gente se vê, como se vê o outro, que tem um pouco da gente, que carregamos um pouco na gente, mas que não é bem 100% a gente. Uma coisa bem louca mesmo.
E a gente fica vermelho de ver as cenas mais estranhas da adolescência, e a vergonha quase explode quando o personagem varia entre um personagem e você mesmo. E acontece isso também com as cenas mais tristes: dá aquela vontade de chorar, e de repente o choro vira um rio porque não é só uma cena triste, CARAMBA, era você ali chorando no chão banheiro do hospital, e o mundo acabando. Sobrevivi isso ai mesmo?
Eu sonho muito, toda noite, e meus sonhos são tipo série: vem em temporadas. Cada temporada tem um tema, coisa de inconsciente falante pra compensar a quietude da pessoa aqui. Eu tenho uns sonhos em que estou na escola do ensino médio, e mistura as pessoas de lá, com as da faculdade, com gente dos EUA. Uma bagunça e mistureba que o sonho faz que eu não consigo fazer em pensamento porque eu ando achando que em cada lugar/década era uma Aline. E até pouco tempo atras eu achava que a faculdade tinha sido ontem, e o ensino médio tinha sido na vida passada. Que nada...
Achei umas fotos "antigas", la da metade dos anos 2000s. Me assustei com quem eu nem sabia que era: alegre, morena, loira, magra. Tímida, insegura. Me deu inveja daquela menina que quase não falava com estranhos, que não levantava a mão na faculdade, mas que tinha comidinha da mãe, riso do pai. Vi a Pitty, que hoje tem 9 anos e tem a carinha branca, cheia de pelinhos pretinhos. Quanta juventude! Queria falar pra aquela menina: eu sei que voce sabe do privilégio que tem. Muito bem! Mas curte mesmo! Abrace sua mãe, fale com seu pai, faça aquela pergunta na aula, converse com os professores. Tome vergonha na cara, e deixe pra trás o que não compensa. Aprenda a cozinhar. Tire mais fotos com sua mãe. E guarde melhor na memória os momentos "comuns". Ficar na internet é legal, e ficar sozinha te faz bem. Mas tem coisa que a gente lembra anos depois, que quase sempre não são aqueles pensamentos seus com você mesma.
Menina, dizem que a gente só tem uma vida. É mentira! A sua está quase acabando, e logo começa a minha. Vou prestar mais atenção aqui também, porque quando a minha acabar, quero passar o bastão pra Aline do futuro ser feliz.
E a gente fica vermelho de ver as cenas mais estranhas da adolescência, e a vergonha quase explode quando o personagem varia entre um personagem e você mesmo. E acontece isso também com as cenas mais tristes: dá aquela vontade de chorar, e de repente o choro vira um rio porque não é só uma cena triste, CARAMBA, era você ali chorando no chão banheiro do hospital, e o mundo acabando. Sobrevivi isso ai mesmo?
Eu sonho muito, toda noite, e meus sonhos são tipo série: vem em temporadas. Cada temporada tem um tema, coisa de inconsciente falante pra compensar a quietude da pessoa aqui. Eu tenho uns sonhos em que estou na escola do ensino médio, e mistura as pessoas de lá, com as da faculdade, com gente dos EUA. Uma bagunça e mistureba que o sonho faz que eu não consigo fazer em pensamento porque eu ando achando que em cada lugar/década era uma Aline. E até pouco tempo atras eu achava que a faculdade tinha sido ontem, e o ensino médio tinha sido na vida passada. Que nada...
Achei umas fotos "antigas", la da metade dos anos 2000s. Me assustei com quem eu nem sabia que era: alegre, morena, loira, magra. Tímida, insegura. Me deu inveja daquela menina que quase não falava com estranhos, que não levantava a mão na faculdade, mas que tinha comidinha da mãe, riso do pai. Vi a Pitty, que hoje tem 9 anos e tem a carinha branca, cheia de pelinhos pretinhos. Quanta juventude! Queria falar pra aquela menina: eu sei que voce sabe do privilégio que tem. Muito bem! Mas curte mesmo! Abrace sua mãe, fale com seu pai, faça aquela pergunta na aula, converse com os professores. Tome vergonha na cara, e deixe pra trás o que não compensa. Aprenda a cozinhar. Tire mais fotos com sua mãe. E guarde melhor na memória os momentos "comuns". Ficar na internet é legal, e ficar sozinha te faz bem. Mas tem coisa que a gente lembra anos depois, que quase sempre não são aqueles pensamentos seus com você mesma.
Menina, dizem que a gente só tem uma vida. É mentira! A sua está quase acabando, e logo começa a minha. Vou prestar mais atenção aqui também, porque quando a minha acabar, quero passar o bastão pra Aline do futuro ser feliz.
Há apenas 12 anos...
sábado, 24 de dezembro de 2016
Natal de esperanças
Houve uma época em que natal era meu dia favorito do ano. Eu contava os meses no calendário! E demorava! Novembro passava devagar. Dezembro começava com os dias arrastando. Montávamos a árvore de natal, a mesma e única que sempre tivemos. Tirávamos da caixa em cima do armário um Papai Noel que com pilha andava sacudindo o sininho. Comprávamos roupa nova, e passávamos a noite geralmente com a família do meu pai, na casa da sua irmã, minha tia Valéria. E era mágico, porque éramos criança. E éramos muitos. Seis netos da dona Gilda, e sete netos da dona Alaíde. Onze. E família por família ia chegando, dando oi, sentando. Teve um ano que tinha até Papai Noel. Teve ano que teve karaoke. Teve ano que todo mundo pulou na piscina. E todo ano a meia noite a gente fazia uma oração, pedindo que no próximo todos estivéssemos ali. E a gente comia, e abria os presentes. Mais tarde, tinha o amigo invisível, que era na verdade minha parte favorita. Era risada que doía a barriga.
E foi assim. Anos após anos. Os onze foram crescendo, e o tempo acelerando, e o natal foi chegando mais rápido. E com o tempo fomos iludidos: mais de uma década, e a cada ano a oração era atendida. Minha tia mudou de cidade, mas continuou com a festa. E estávamos todos ali. E seguíamos.
E foi assim...até 2008, quando faltou. Faltou minha mãe. E aquele natal não existiu. E foram mais três natais em que eu passei fora do Brasil. E em 2012 estava animada para passar com a família, quando dias antes do natal, meu pai descobriu que estava doente, e a noite teve um nó na garganta, porque eu achei que seria o ultimo natal do meu pai. Mas não foi. Foi em 2013, seu último natal. E em 2014, eu não passei com minha família por conta do mestrado. E não estavam la nem meu pai, nem o seu Dorival, marido da dona Alaide. E as duas famílias se reuniram, já em pedaços. E em 2015 eu estava lá, e faltou meu avô Luiz.
E minha tia, com lágrimas nos olhos, na oração, pediu - dessa vez, quase implorou - que no próximo natal estivéssemos todos ali. Ela tinha medo, porque seu filho mais novo, o Lê, estava ali, animado, mas carequinha, por conta da quimioterapia. E tiramos umas fotos repetindo poses antigas, uma de 1989! E foi um natal feliz, que vou guardar para sempre comigo.
E hoje, no natal de 2016, eu aqui, longe, só penso em como aquele dia ano passado virou mais uma lembrança boa, que se junta àqueles natais, de luz, risadas, gargalhadas, infância. Hoje não há alegria, mas há luz. Hoje lembramos dos que foram antes de nós. E da bênção que foi a família estar sempre junto por tanto tempo. Talvez há árvores, abraços, orações, pedidos de conforto. Eu espero ano que vem estar com minha família.
Que hoje haja esperança. Se o sentido do Natal era antes o riso das crianças, que hoje a esperança esteja nas lembranças, na certeza que se há dor é porque há amor. E muito. E ele nos cura, e nos leva pra frente.
Muita luz e paz para todos.
E foi assim. Anos após anos. Os onze foram crescendo, e o tempo acelerando, e o natal foi chegando mais rápido. E com o tempo fomos iludidos: mais de uma década, e a cada ano a oração era atendida. Minha tia mudou de cidade, mas continuou com a festa. E estávamos todos ali. E seguíamos.
E foi assim...até 2008, quando faltou. Faltou minha mãe. E aquele natal não existiu. E foram mais três natais em que eu passei fora do Brasil. E em 2012 estava animada para passar com a família, quando dias antes do natal, meu pai descobriu que estava doente, e a noite teve um nó na garganta, porque eu achei que seria o ultimo natal do meu pai. Mas não foi. Foi em 2013, seu último natal. E em 2014, eu não passei com minha família por conta do mestrado. E não estavam la nem meu pai, nem o seu Dorival, marido da dona Alaide. E as duas famílias se reuniram, já em pedaços. E em 2015 eu estava lá, e faltou meu avô Luiz.
E minha tia, com lágrimas nos olhos, na oração, pediu - dessa vez, quase implorou - que no próximo natal estivéssemos todos ali. Ela tinha medo, porque seu filho mais novo, o Lê, estava ali, animado, mas carequinha, por conta da quimioterapia. E tiramos umas fotos repetindo poses antigas, uma de 1989! E foi um natal feliz, que vou guardar para sempre comigo.
E hoje, no natal de 2016, eu aqui, longe, só penso em como aquele dia ano passado virou mais uma lembrança boa, que se junta àqueles natais, de luz, risadas, gargalhadas, infância. Hoje não há alegria, mas há luz. Hoje lembramos dos que foram antes de nós. E da bênção que foi a família estar sempre junto por tanto tempo. Talvez há árvores, abraços, orações, pedidos de conforto. Eu espero ano que vem estar com minha família.
Que hoje haja esperança. Se o sentido do Natal era antes o riso das crianças, que hoje a esperança esteja nas lembranças, na certeza que se há dor é porque há amor. E muito. E ele nos cura, e nos leva pra frente.
Muita luz e paz para todos.
quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
Receita de família
Pega todas as ambiguidades da vida. Junta com crianças que são sempre crianças mesmo com 60 anos, e pega dependência, e pega ciúmes, e pega controle, e pega cobrancas, e pega amor. E coloca aí ter um ser que cresce dentro de outro. E tanto amor que não cabe numa pessoa. E mistura tudo isso num contínuo de tempo que de tão velho, não tem começo nem fim: são gerações e gerações. E tudo é quase que um jogo de sorte: quem nasceu primeiro, quem precisou mais da mãe, quem nasceu na época das vacas gordas ou magras; não faz muito sentido quem vai ser o que, quem vai ser vilão, quem vai ser mocinho. Uma mistureba só!
E adiciona aos poucos novos membros, que vem de outras famílias, carregando suas próprias bagagens, que ocupam papéis novos: talvez noras nem tão queridas, genros não preferidos, e sogros e sogras, e afilhados, e divórcios, e segundos casamentos, e segundo genros e noras. E todas as relações se misturam, se entrelaçam, de década em década. Com tantas mudanças no mundo. Com individuos tentando ser gente, cada um de uma forma, cada um dando valor diferente ao tempo, ao dinheiro, á carreira. Traumas são repassados, ou não. Curas acontecem, ou não. Alguns se desprendem de ciclos doentios, e criam do nada ciclos tão saudáveis que parecem até de mentira.
E acrescenta ainda heranças, e genética, e mudanças, e distâncias. E saúde, e perdas gigantescas, e envelhecer, e todos os obstáculos da vida. E todos os sentimentos que são tão claros de se ler, e um tantão de outros que só sabe mesmo quem sente. E joga um bocado de culpa, remorso, churrascos, obrigações, preferências, risos, sopa quente, cemitérios, igrejas. Quem era cuidado vira cuidador. Nomes. Laços tão fortes que causam danos e curas irreparáveis. Te fazem chorar igual criança mesmo já sendo marmanjão. E também dão sentido pra vida. Qualquer família nesse mundo dá um livro, drama, romance, intriga, mistério, comédia.
E adiciona aos poucos novos membros, que vem de outras famílias, carregando suas próprias bagagens, que ocupam papéis novos: talvez noras nem tão queridas, genros não preferidos, e sogros e sogras, e afilhados, e divórcios, e segundos casamentos, e segundo genros e noras. E todas as relações se misturam, se entrelaçam, de década em década. Com tantas mudanças no mundo. Com individuos tentando ser gente, cada um de uma forma, cada um dando valor diferente ao tempo, ao dinheiro, á carreira. Traumas são repassados, ou não. Curas acontecem, ou não. Alguns se desprendem de ciclos doentios, e criam do nada ciclos tão saudáveis que parecem até de mentira.
E acrescenta ainda heranças, e genética, e mudanças, e distâncias. E saúde, e perdas gigantescas, e envelhecer, e todos os obstáculos da vida. E todos os sentimentos que são tão claros de se ler, e um tantão de outros que só sabe mesmo quem sente. E joga um bocado de culpa, remorso, churrascos, obrigações, preferências, risos, sopa quente, cemitérios, igrejas. Quem era cuidado vira cuidador. Nomes. Laços tão fortes que causam danos e curas irreparáveis. Te fazem chorar igual criança mesmo já sendo marmanjão. E também dão sentido pra vida. Qualquer família nesse mundo dá um livro, drama, romance, intriga, mistério, comédia.
E mesmo com todas as ambiguidades, com guerras e amores, ainda assim sempre se quer o bem. Porque família é quem divide com você o passado, desde seu abrir dos olhos. Quem viu você crescer, quem conheceu sua bisavó e sua mãe. Quem você viu engatinhar, e vê se formando na faculdade. Quem era crianca com você. São aquelas histórias que não importa a distância estarão sempre misturadas na sua. Quem vai dividir com você as melhores festas e as piores dores, não por empatia, mas sim porque são também as festas e dores deles. Vão te chatear, e vai parecer que não gostam de você, ou que não se importam, ou que você não se importa. Mas sabe? Há amor. Mesmo que na intensidade haja sofrer, vale a pena o esforço de quebrar os ciclos de erros e rancores que se repetem geração após geração. Vale o esforço de aceitar quem é tão diferente, mas tão parte de você. Vale também você poder ser você, com qualquer defeito ou qualidade. Com suas escolhas sérias ou inconsequentes que deixariam seu avô de cabelo em pé. Ou escolher outra religião, ou escolher ser único. Não importa. Mesmo quem tenta correr. Mesmo quando te fazem correr. Há amor, ás vezes disfarçado de qualquer outra coisa. Há amor. Quebre os ciclos apenas, porque os laços, esses aí não dá não, pode tentar, pode se esforçar: os laços não se quebram.
"No one fights dirtier or more brutally than blood; only family knows it’s own weaknesses, the exact placement of the heart. The tragedy is that one can still live with the force of hatred, feel infuriated that once you are born to another, that kinship lasts through life and death, immutable, unchanging, no matter how great the misdeed or betrayal. Blood cannot be denied, and perhaps that’s why we fight tooth and claw, because we cannot—being only human—put asunder what God has joined together." -Whitney Otto
8 de dezembro, dia da familia
terça-feira, 29 de novembro de 2016
Abestalhada (em dois atos)
Setembro 15, 2016 / Novembro 29, 2016
Dá um medo do caramba. E uma tristeza, e um choque. Dias que te lembram, as vezes em rede nacional, que a vida é assim, frágil, rápida. Piscou, acabou. Mesmo no auge, mesmo num mergulho feliz no rio, mesmo a caminho do seu maior sonho. Acabou. E não é assim com todo mundo? Não é esse o fim, não importa nada mais? Hoje vi esse texto, tão lindo, falou comigo:
"Se você não se sente profundamente tocado pelo vislumbre da morte, é porque não olhou de perto. A consciência clara da mortalidade, nossa e dos outros, produz um impacto poderoso em nossa vida, muda drasticamente a relação que temos com as pessoas, com nossas ocupações, com nossas aspirações pro futuro, com as prioridades, com o tempo." —Fábio Rodrigues, na prática "Lembrar da morte".
E lembrei das vezes que olhei a morte de perto. E pensei: será que aprendemos as liçōes da morte? Quando o vislumbre da morte ensina? E quando paralisa? Olhar de perto é ver o fim, é ver a gota de vida indo embora de alguém que é não apenas um ser humano, com história, com sonhos, mas um ser para quem demos uma parte de nós com formas mais puras de amor. Pedacinhos de nós, que se vão, e pronto: quem sou eu? Como fazer disso tudo lição, e não apenas dor?
Pra que planos? Pra que guardar dinheiro? Pra que ter agenda? Para que fingir controle? Para aproveitar mais a vida! Essas consciências deveriam nos fazer mais vivos, mais aproveitadores não só das tardes de sábado, mas também das 10:20 das manhãs de terça. Ser feliz, na intensidade do agora. E isso está bem longe da ideia de sair por ai, esquecer as contas, e comprar cerveja. Viver o hoje, com toda a responsabilidade, pois ela também traz paz. Escrevendo o TCC e não pode mais ver os amigos? Escreva com intensidade, aprenda tudo, faça cada linha da escrita um pequeno tesouro, se doe ao trabalho. Não espere ter dinheiro, ter tempo, estar morando num lugar perfeito, ou trabalhando num lugar perfeito. Voce tem muito mais poder sobre os dias, mesmo aqueles mais sem graça, de alarme, transito, cadeira, reunião, cadeira, transito, tv. Não é bem o que voce faz, mas como. Não se contente com um dia sem sentido. Seja o sentido repleto de profunda dor, saudade, amor, paz, calma, beleza, poesia, ou alegria.
Setembro 15, 2016
To aqui. Abestalhada. Indignada. Maravilhada. Sentada no sofá, sem sono. Pensando na raridade da vida, que a gente toma como certa. Errado! Menino, as pessoas vão embora. E não importa o quanto você os ame, o quanto voce precise deles, o quanto de você é feito deles. Eles vão. Ou vai você. E beira o desespero ne? Que grande merda isso. É caso pra desistência, pra depressão, pra parar tudo e querer descer. Pra que tudo isso então? Pra que pagar conta, ter agenda, ir ao medico, não comer coxinha, beber menos? Pra que? Entre o desespero e a lição, pegue a lição. O tempo é curto, faça o que for, seja feliz! Não se deixe preocupar com esse fim certo. É certo, e ponto. Não se preocupe hoje, não se abestalhe no sofá. Viva o que vale, o hoje e só.
Dá um medo do caramba. E uma tristeza, e um choque. Dias que te lembram, as vezes em rede nacional, que a vida é assim, frágil, rápida. Piscou, acabou. Mesmo no auge, mesmo num mergulho feliz no rio, mesmo a caminho do seu maior sonho. Acabou. E não é assim com todo mundo? Não é esse o fim, não importa nada mais? Hoje vi esse texto, tão lindo, falou comigo:
"Se você não se sente profundamente tocado pelo vislumbre da morte, é porque não olhou de perto. A consciência clara da mortalidade, nossa e dos outros, produz um impacto poderoso em nossa vida, muda drasticamente a relação que temos com as pessoas, com nossas ocupações, com nossas aspirações pro futuro, com as prioridades, com o tempo." —Fábio Rodrigues, na prática "Lembrar da morte".
E lembrei das vezes que olhei a morte de perto. E pensei: será que aprendemos as liçōes da morte? Quando o vislumbre da morte ensina? E quando paralisa? Olhar de perto é ver o fim, é ver a gota de vida indo embora de alguém que é não apenas um ser humano, com história, com sonhos, mas um ser para quem demos uma parte de nós com formas mais puras de amor. Pedacinhos de nós, que se vão, e pronto: quem sou eu? Como fazer disso tudo lição, e não apenas dor?
Pra que planos? Pra que guardar dinheiro? Pra que ter agenda? Para que fingir controle? Para aproveitar mais a vida! Essas consciências deveriam nos fazer mais vivos, mais aproveitadores não só das tardes de sábado, mas também das 10:20 das manhãs de terça. Ser feliz, na intensidade do agora. E isso está bem longe da ideia de sair por ai, esquecer as contas, e comprar cerveja. Viver o hoje, com toda a responsabilidade, pois ela também traz paz. Escrevendo o TCC e não pode mais ver os amigos? Escreva com intensidade, aprenda tudo, faça cada linha da escrita um pequeno tesouro, se doe ao trabalho. Não espere ter dinheiro, ter tempo, estar morando num lugar perfeito, ou trabalhando num lugar perfeito. Voce tem muito mais poder sobre os dias, mesmo aqueles mais sem graça, de alarme, transito, cadeira, reunião, cadeira, transito, tv. Não é bem o que voce faz, mas como. Não se contente com um dia sem sentido. Seja o sentido repleto de profunda dor, saudade, amor, paz, calma, beleza, poesia, ou alegria.
"Senhoras e senhores, trago boas novas: Eu vi a cara da morte e ela estava viva" Cazuza
Setembro 15, 2016
To aqui. Abestalhada. Indignada. Maravilhada. Sentada no sofá, sem sono. Pensando na raridade da vida, que a gente toma como certa. Errado! Menino, as pessoas vão embora. E não importa o quanto você os ame, o quanto voce precise deles, o quanto de você é feito deles. Eles vão. Ou vai você. E beira o desespero ne? Que grande merda isso. É caso pra desistência, pra depressão, pra parar tudo e querer descer. Pra que tudo isso então? Pra que pagar conta, ter agenda, ir ao medico, não comer coxinha, beber menos? Pra que? Entre o desespero e a lição, pegue a lição. O tempo é curto, faça o que for, seja feliz! Não se deixe preocupar com esse fim certo. É certo, e ponto. Não se preocupe hoje, não se abestalhe no sofá. Viva o que vale, o hoje e só.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Encucação
Todo dia é assim, a todo momento, pensamentos passam com palavras tortas, as vezes fortes, as vezes leves, na nossa frente. Alguns caem no chão bem rápido, outros ficam flutuando por um instante de vida. Alguns tão bons, confortantes, te fazem rir. Outros, de tão medonhos te fazem fechar os olhos, mas mesmo assim, voce os vê. Eles todos passam, sem parar. Uma constante brisa, as vezes vento, as vezes furacão. Até que... de repente, vão chegando bem pertinho, dão voltas, encostam na testa, e boom! Encuca.
Encucação: condição em que o portador faz cativo um pensamento. Aguda, ou crônica. Ainda não se sabe o tratamento.
Tem gente que nunca encuca, são resistentes desde criança. Talvez genética, vai saber. Deixam pensamento ir, vir, voltar, dançar, pular, fugir. Tem gente que encuca só de tempos em tempos, e consegue desencucar só de fechar os olhos. Dura 37 segundos. Tem gente que encuca todo dia e precisa de doses diárias de ar, árvores, e céu. E ainda assim, não há cura. Desapercebidamente afeiçoa-se de um pensamento, mesmo que feio, mesmo que triste. E segura o pensamento como doce, não deixa escapar. E olha, e escuta, e cheira, e investiga de todos os lados. E o pensamento que nem é bobo nem nada, aproveita, e se deixar encucar. Pensamento só gosta quando está na cabeça. E martela, e queima, esfria. Investiga-se como se a vida dependesse daquele pensar. Encucação parece bonito, disfarca-se de cuidado, mas não é bom nem pra tosse. Pensamentos devem ir e vir.
Para lembrança podem ser escritos, desenhados, twittados. Mas nunca encucados! Como desencucar, minha gente?
terça-feira, 15 de novembro de 2016
O peso do mundo agigantado
E veio assim, de repente, ás 4:32 da tarde, quando já era noite: um agigantamento do mundo. De tão grande, não conseguiu andar, os passos eram tão pequenos. E chovia, e o guarda-chuva se contorcia, e as botinhas de chuva não davam conta da tempestade. Foi chuva como não se via há tanto tempo. E no chão estavam reflexos de verde, e amarelo, e vermelho, e verde de novo. E todo mundo esperava, seguindo a ordem das coisas. Dorme, trabalha, come, dorme. E os passos ja tão pequenos, ficaram mais lentos, pois o mundo agigantado era carregado nos ombros. Que peso. Foi preciso deitar. E chorar, de dor. Porque doía. Precisou de gelo, e sopa, e silêncio. E lembrou de como é boa a solidão, cheia de conversas internas. Diferente não pode ser. Aumentaram-se as distâncias, para chegar na padaria, no amigo, no vizinho. De tão longe ninguém nem mais via ninguém. Quanta neblina! Perdeu os óculos. E teve, por um segundo, uma lembrança em forma de sombra, fria e cortante: "minha mãe não tem telefone" - a pior forma de se estar sozinho no mundo gigante. Que de tão gigante em distância, escolheu-se no tempo, e virou quase nada. Em 100 anos vai ser tudo areia. E contentou-se em dormir, e esperar um novo dia. Que dia o sol se pōe as 7:15?
PS. Mais uma pequena coincidencia desse mundo misterioso. Fui olhar, "por acaso", aqui o sol vai se por as 7:15 em 4 de abril. Presente da/para minha mãe, que nao tem telefone mas sempre encontra outras formas
PS. Mais uma pequena coincidencia desse mundo misterioso. Fui olhar, "por acaso", aqui o sol vai se por as 7:15 em 4 de abril. Presente da/para minha mãe, que nao tem telefone mas sempre encontra outras formas
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
8 e ∞
E 8 anos depois
Ainda
Entre momentos banais do cotidiano
Entre dois degraus que subo no metro,
logo depois de tirar os sapatos ao entrar em casa,
ou entre fechar os olhos e o sono vir
Tenho 3 segundos de espanto
Quase perco o ar, pulo duas batidas
E vem um mistério
Que de tão grande não se faz em pensamento
Não cabe no pensar, cabe só no sentir.
Eu sinto:
Como minha vida existe sem você?
E tomo o terceiro degrau.
E sonho.
Ou sento no sofa.
E sigo
Cheia de desamparo e coragem.
Ainda
Entre momentos banais do cotidiano
Entre dois degraus que subo no metro,
logo depois de tirar os sapatos ao entrar em casa,
ou entre fechar os olhos e o sono vir
Tenho 3 segundos de espanto
Quase perco o ar, pulo duas batidas
E vem um mistério
Que de tão grande não se faz em pensamento
Não cabe no pensar, cabe só no sentir.
Eu sinto:
Como minha vida existe sem você?
E tomo o terceiro degrau.
E sonho.
Ou sento no sofa.
E sigo
Cheia de desamparo e coragem.
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