Houve uma época em que natal era meu dia favorito do ano. Eu contava os meses no calendário! E demorava! Novembro passava devagar. Dezembro começava com os dias arrastando. Montávamos a árvore de natal, a mesma e única que sempre tivemos. Tirávamos da caixa em cima do armário um Papai Noel que com pilha andava sacudindo o sininho. Comprávamos roupa nova, e passávamos a noite geralmente com a família do meu pai, na casa da sua irmã, minha tia Valéria. E era mágico, porque éramos criança. E éramos muitos. Seis netos da dona Gilda, e sete netos da dona Alaíde. Onze. E família por família ia chegando, dando oi, sentando. Teve um ano que tinha até Papai Noel. Teve ano que teve karaoke. Teve ano que todo mundo pulou na piscina. E todo ano a meia noite a gente fazia uma oração, pedindo que no próximo todos estivéssemos ali. E a gente comia, e abria os presentes. Mais tarde, tinha o amigo invisível, que era na verdade minha parte favorita. Era risada que doía a barriga.
E foi assim. Anos após anos. Os onze foram crescendo, e o tempo acelerando, e o natal foi chegando mais rápido. E com o tempo fomos iludidos: mais de uma década, e a cada ano a oração era atendida. Minha tia mudou de cidade, mas continuou com a festa. E estávamos todos ali. E seguíamos.
E foi assim...até 2008, quando faltou. Faltou minha mãe. E aquele natal não existiu. E foram mais três natais em que eu passei fora do Brasil. E em 2012 estava animada para passar com a família, quando dias antes do natal, meu pai descobriu que estava doente, e a noite teve um nó na garganta, porque eu achei que seria o ultimo natal do meu pai. Mas não foi. Foi em 2013, seu último natal. E em 2014, eu não passei com minha família por conta do mestrado. E não estavam la nem meu pai, nem o seu Dorival, marido da dona Alaide. E as duas famílias se reuniram, já em pedaços. E em 2015 eu estava lá, e faltou meu avô Luiz.
E minha tia, com lágrimas nos olhos, na oração, pediu - dessa vez, quase implorou - que no próximo natal estivéssemos todos ali. Ela tinha medo, porque seu filho mais novo, o Lê, estava ali, animado, mas carequinha, por conta da quimioterapia. E tiramos umas fotos repetindo poses antigas, uma de 1989! E foi um natal feliz, que vou guardar para sempre comigo.
E hoje, no natal de 2016, eu aqui, longe, só penso em como aquele dia ano passado virou mais uma lembrança boa, que se junta àqueles natais, de luz, risadas, gargalhadas, infância. Hoje não há alegria, mas há luz. Hoje lembramos dos que foram antes de nós. E da bênção que foi a família estar sempre junto por tanto tempo. Talvez há árvores, abraços, orações, pedidos de conforto. Eu espero ano que vem estar com minha família.
Que hoje haja esperança. Se o sentido do Natal era antes o riso das crianças, que hoje a esperança esteja nas lembranças, na certeza que se há dor é porque há amor. E muito. E ele nos cura, e nos leva pra frente.
Muita luz e paz para todos.
Bom dia
ResponderExcluirFeliz ano novo. Muita paz. Um abraço.
Edilson
Lindo demais, Lindinha! Só hj fui ler esse post! Tocante, profundo e verdadeiro como sempre! Vc é uma luz!
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