sábado, 11 de outubro de 2008

Mudanças...

Poucas pessoas gostam de mudanças. Sempre bate aquela insegurança de que qualquer atitude tire você do rumo certo. Perante escolhas, não adianta, acho que sempre vamos tender a ficar como estamos. Nesses dias de eleições pensei nisso: se o prefeito não cometeu nenhum grande erro e tenta se reeleger, não importa quão boas sejam as propostas dos outros candidatos, o atual ganha...Medo de mudanças, é assim...

Como é boa a segurança da rotina, por mais tediosa que seja. Aliás, quem diz gostar de mudanças não gosta de deixar de ser assim, vai sempre querer mudança. Vem o medo de mudar de atitude, o medo de estacionar...Quando a gente muda de escola, muda de casa, muda de cidade, quando a gente decide não ir mais àquele lugar que íamos sempre....difícil mesmo, sempre!

Toda virada de ano eu sentia medo do que poderia acontecer naquele novo ano. Sempre deu tudo certinho, tudo caminhou quase do mesmo jeito, sempre estavam ali às mesmas pessoas....Dai em 2008 aconteceu. O quadrado quebrou. Perdi (não é exagero falar) a pessoa mais importante, a base, onde eu, meu irmão e meu pai nos apoiamos sempre. Embora eu pense sempre que tudo esteja se ajeitando, não está. Sei que tempo é tudo, mas que bagunça!

Mas espera aí, será que nada havia mudado até então? Até meus 7 anos eu morei em uma casa com um quintal imenso, todo gramado, cheio de flores, tinha até abacateiro e bananeira. Quando nos mudamos, quando saímos de lá, lembro de olhar meu quarto, meu quarto de sempre, e pensar: “Como será não dormir mais aqui?”. Lembro também de visitar a nova casa, que nem pronta estava e pensar como seria acordar e olhar para aquela rua. Depois de 11 anos, já com 18 anos, olhei para esta rua querendo não pensar em como seria ficar longe daquela casa e das pessoas que eu mais amo no mundo por 2 ou 3 semanas. Saí de casa naquele dia de 2005 sabendo que nada seria como antes, afinal depois da faculdade dificilmente eu voltaria a morar ali. Pensei em como seria morar em uma cidade grande, sem vizinhos que conhecessem meu nome, sem minha mãe para fazer comida ou cuidar de mim quando eu ficasse doente. Passou-se uma semana eu já estava de volta para passar um final de semana. Passaram-se 4 meses e eu já estava de volta para passar férias, e percebi que as mudanças foram muitas, mas ainda conseguia aproveitar o que me sobrava do conforto do lar.

Passaram-se 4 anos, 2008, meu irmão também se mudou, e mudou minha vida em SP também. Passei a me sentir mais perto de Cruzeiro, mais perto da família. Então passaram-se 3 meses, e novamente eu soube que nada seria como antes. Novamente sai daquela rua, com meu pai, minha mãe, meu irmão, querendo não pensar que não voltaríamos os quatro. Saímos como que fugindo. Na verdade estávamos correndo atrás de ajuda, desesperadamente. Minha mãe saiu fraquinha, chorou. Parentes e amigos que estavam ali no portão choraram. Eu não chorei. Não! Voltaríamos os quatro, como sempre foi. Não foi. Mudou, tudo.

Sempre temi que o próximo ano trouxesse mudanças demais, mudanças que não fossem possíveis de se suportar. Mas muito mudou até 2008. Estudei sempre na mesma escola em Cruzeiro. Convivi 11 anos com as mesmas pessoas. E um dia, lá pelo fim de 2003, nós deixamos a sala de aula chorando. Sabíamos que fomos pegos pelo inevitável. Não tinha como ser para sempre. E desde então, infinitas despedidas já ocorreram, e muitas delas nem percebi. Na verdade eu percebi! Acordava percebendo que as coisas estavam diferentes, mas sempre tentando não tratar como despedida, para não ter a consciência do fim, da grandiosidade daquele momento.
Sempre foi assim: rompimento, tristeza, disfarce, adaptação, sentimento de que nada aconteceu, fingir que sempre foi assim.

Sempre é possível viver. Hoje eu vivo, estudo, acordo, dou risada. Estou vivendo. A vida é a mesma? Não. A vida é pior? Sim. Não tem como não ser pior. Hoje sou muito menos criança. A vida está menos colorida, tenho menos ilusões. E há um vazio na casa, há um vazio dentro de nós. Mas mesmo com isso a gente se acostuma. Acho triste, mas sei que daqui um tempo vou sentir que minha mãe sempre faltou. Desde pequena eu ouço sobre a morte da mãe de minha mãe. Pareceu-me que ela sempre faltou. É difícil pensar em minha mãe e seus irmãos com mãe presente. A dor fica, a saudade só cresce, mas a gente se acostuma com a ausência. A gente se acostuma a fazer as atividades que a pessoa fazia, e parece que com o tempo tudo sempre foi assim. Acho triste pensar isso, mas acredito que acontece desse modo. Vivemos muitas coisas juntos, eu tinha certeza que ainda viveríamos muitas coisas. Mas daqui para frente, vai ser tudo sem ela. Por isso eu vivo, por isso eu fico bem. Quero que minha mãe viva muito ainda. E agora ela só pode viver quando a gente vive. Ela se preocupava muito comigo, com meu irmão, com seus irmãos, com meu pai, com seus sobrinhos, com seu pai, etc...Sei que ela sofreu muito em sentir que iria embora, porque sabia que iríamos sofrer muito sem ela. Por isso muitas vezes lembro dela e sorrio. Lembro dela e levanto da cama, mesmo com muita vontade de ficar dormindo. Ela não pode mais viver. Temos que fazer isso por ela.

E quanto às mudanças? Por mais que a gente tente permanecer como está, elas virão. E por mais dura que sejam, não temos escolha! Temos que vivê-las. Mas como não sofrer com o que fica para trás? Sofrer é necessário. Chorar, mas continuar, sempre!

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos" (Fernando Pessoa)

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