quarta-feira, 20 de julho de 2016

1988

Seis netos, dois de cada filho. Filhos do Valdir, Valter, e Valéria. Netos da Gilda e do Luiz. Uma família "intensa", vamos dizer assim. Com mães super mães, que fazem o possível e impossível pros filhos, mas que também cobram. Família ciumenta, falante.

Os filhos casaram todos em um ano, e os primeiros netos foram chegando assim, um atras do outro: novembro de 1985, maio de 1986, e junho de 1986. Menos de 2 anos depois, veio a segunda leva: janeiro de 1988, janeiro de 1989, julho de 1991.

Fizeram muitas coisas juntos: natais, aniversários, festas, brincadeiras, dormir um na casa do outro, aprender a andar de bicicleta, pular fogueira, brigar, brincar, brincar na piscina, passar ferias na praia em casas que acabavam superlotadas. Uma pequena grande confusão. Fogos no bombril. Andar em Ubatuba fingindo bater a cabeça no orelhão. Dinheiro no sabão. Tudo foi bem, muito bem. Quando tudo vai bem, as vezes a gente se esquece que a regra não é essa.

2008
E começou com a mulher do Valdir, nora da Gilda, cunhada da Valéria. Foi cancer, foi um susto, foi rápido. As coisas mudaram. Foi a perda, e foi também o tempo passando. Os netos crescendo. As vezes é dificil criar asas, difícil ver os filhos criando asas. Cada um criou asas da sua forma.

2014
Um tempo depois, foi o Valdir. Cancer, de novo. Batalha perdida. No mesmo ano, a Valeria perdeu o sogro. Um senhor tao forte, vivo, saudável, falante, engraçado. Foi cancer, foi rápido.

2015
Um ano e meio depois, foi embora o vô Luiz, dessa vez foi a idade, era sua hora. Ficou pouco não resolvido, pouco não vivido. No mesmo ano, o Valter também perdeu o sogro. Também de idade, um senhorzinho que até o ultimo segundo sabia de tudo que acontecia, não perdeu a noção do mundo, nem por um minuto.

Em 2016, foi ontem, foi o Leandro, filho da Valéria, meu primo. O quarto neto, 28 anos. Quanta vida, quantos sonhos, quantos dias felizes. Neto que mais soube aproveitar a vida, que mais se divertia. Talvez o que menos se preocupava com o futuro, que bom. O mais bonito. Corinthiano. Batalhou por pouco mais de 1 ano. Foi cancer, foi rapido. Batalhou tantas quimios, cirurgias, prognosticos ruins, a angustia, dores, mal estar. E lutou com ele seus pais, seu irmao, sua namorada, tantos amigos. Como tinha amigos! Amigos da hora da bagunça, amigos da hora da dor. Não pude me despedir (essa ideia que eu tive que morar longe...).

O pai dele foi quem dirigiu meu pai de volta de Sao Paulo a Cruzeiro quando minha mãe se foi. Depois, repetiu comigo, quando foi a vez do meu pai. Eu sinto uma dor de pensar que em menos de três anos, seria com ele, com um filho. Dor que esta longe do meu entendimento.

Lê, voce deixa um vazio que se junta a tudo da minha infância que ja foi embora. Seu jeitinho de andar, seu jeito de chamar seu irmão, sua voz de descontentamento quando ficava frustrado, as caronas muitas que peguei pra SP. No Natal te vi tao bem, carequinha, mas forte, brincando. Achei que tudo iria terminar bem. Me disse que tinha que vir conhecer "essa Boston ai", queria ver jogo do Tom Brady. Te falei que da próxima te levava uma camiseta. Sinto não ter tido tempo, sinto não poder ver seu filho de olhos azuis. Sinto tanto, e ate agora não sei como isso pode ter acontecido.

Mas acima de tudo sinto pela sua familia, esses que estavam com voce nas noites de dor e angustia, que fizeram tudo por voce. Que pararam a vida, que nao pouparam dinheiro, nem tempo, nem idas e vindas, nada, nada. Eles nao desistiram da cura. Hoje meu maior pedido é que seus pais achem novamente o animo, a alegria de dias simples. Que a lembranca sua seja o amor, que nao acaba, que é sim mais forte que a fé e esperança, porque elas acabam, quando o que resta é o amor. Que eles encontrem sentido nessa dor, que a tomem pra eles, que a carreguem e a controlem todos os dias, para que ela nao os paralizem, mas que os facam seguir em frente por voce. Que o sonho que eles tinham para voce, seja agora o sonho que voce tinha para eles: que eles sobrevivam. É uma tarefa dura, tarefa de uma vida inteira.

E que venha logo a cura, por vocês todos. Cansamos tanto. Que todos nós, 5 netos, 2 filhos, genro e  nora da dona Gilda estejamos aqui para ver. E vamos suspirar, com alivio e saudade.



"E amanhã posso chorar por não poder te ver
Mas o seu sorriso vale mais que um diamante
Se você vier comigo, aí nós vamos adiante
Com a cabeça erguida e mantendo a fé em Deus
O seu dia mais feliz vai ser o mesmo que o meu
A vida me ensinou a nunca desistir
Nem ganhar, nem perder mas procurar evoluir
Podem me tirar tudo que tenho
Só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz
Pra quem eu amo
E eu sou feliz e canto e o universo é uma canção
E eu vou que vou
História, nossas histórias
Dias de luta, dias de glória"


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