3652 dias
521 semanas
Quase um terço da minha vida.
DEZ...ANOS...
Sem você.
E houve meses em que eu não conseguia dormir no silêncio porque eu tinha absoluta certeza que não seriam possíveis dias sem você. E hoje cá estou, uma década inteirinha depois, tocando a vida, com sonhos e planos, dormindo em paz. Uma década em que você não está em lugar algum. Desamparada, sem minha mãe, pra sempre.
E tudo que já me aconteceu se resume em antes e depois daquele 12 de agosto. Nunca mais nada foi do mesmo jeito, nem eu, nem as flores, nem os sorrisos, nem as lágrimas, nem as coxinhas, nem as lasanhas, nem os meus cortes de cabelo, nem um dia. Tudo passa pela consciência da sua ausência. Tudo de bom, e tudo de ruim. E ainda bem que são raras as noites em que você não passa pelos meus sonhos, uma voz, um olhar que seja, abraços apertados. Ainda sonho que você viajou para longe. Ou que de repente descobri que você estava este tempo todo num hospital. Uma ausência que ainda confunde meu inconsciente.
A primeira vez que senti sua ausência foi antes mesmo de você ir. Foi um dia lá daquele agosto quando me falaram que você iria embora em poucos dias. Foi a primeira vez na vida que me assustei com a dor de sentir o vazio. Com o tempo ele se fecha um pouco, como uma ferida, que se cura e deixa uma profunda cicatriz. E dói nos dias frios. E o mais estranho é que também dói nos dias de calor. Desde de sua ida eu sou feliz mesmo só nos dias mornos.
Lembro ainda dos dias de calor, de antes, de riso, de conversa, de estar na cozinha de casa, ou na sala, cenas cotidianas, ou nem tanto, de praia, de carro, de feira, de supermercado, de andar de braço dado, de contas, de planos, de orgulho. Eu sabia que eu tinha tudo. Que alegria era minha ingenuidade de não saber que eu seria como você, uma jovem adulta sem colo. E que você seria como sua mãe, uma lembrança que fica mais longe a cada dia para o mundo, embora esteja sempre tão intensa aqui em mim. Você sabia como era, você me falava como era. Eu cresci te vendo sofrer sem esse cuidado, que hoje eu sofro. Uma saudade de tudo que não virá.
Nesses 10 anos aconteceu tanto, fiz tantas escolhas, precisei tanto de você. Meu pai também se foi, e com ele levou quase tudo que restava... Dez anos... E criei uma outra vida, reaprendida, em que não há como haver almoços de família, avós, casamento. Uma vida sem rede de proteção. Não tem lado nenhum pra cair. Não tem um número que eu posso ligar a qualquer momento por qualquer razão. Não tem aquele amor. Um desamparo do caramba. Há um tempo eu escolhi aceitar. Não há outra escolha possível. A gente segue.
Essa década me ensinou muito. A maior lição talvez tenha sido que de tudo, tudo mesmo, só permanece a morte e o amor, o resto, todo o resto, im-permanece. Tem sido assim, 3652 dias de im-permanências e permanências, de dias de sol, de chuva, de nuvens, de ventos leves, de furacões, dias de muitos sorrisos em que agradeço por ainda ser feliz e por ainda sentir este amor, e dias de muito pesar em que não me conecto com o mundo e escolho estar apenas comigo. Vejo beleza em todos eles, aprendo com todos eles.
Uma década inteira, em que muitas vezes lembrei apenas dos seus últimos dias, tão intensos. Mas quero lembrar e agradecer sempre por todos os 8104 dias - 22 anos, 2 meses, 7 dias - em que compartilhei a vida com você, vida que você me deu.
domingo, 12 de agosto de 2018
quinta-feira, 9 de agosto de 2018
Agosto Parte 1: 65 anos do meu Pai
O video que menos se parece com ele. Mico? Ele não tinha noção de mico não haha Ele estava só mesmo tentando copiar eu e meu irmão que repetimos "mico" nessa viagem o tempo todo. Ele falava com todos, pedia informação para todos, falava portugues com quem não entendia nada. Eu fiquei brava algumas vezes, mas hoje só lembro de tudo com muita alegria e saudade que aquece o coração. Meu pai era uma figura, ele era muito único. Ele era tímido, mas ás vezes não ligava de chamar atenção. Inteligente pra caramba, mas às vezes ainda ingênuo. Não tinha nunca tempo ruim pra palhaçada, viagens, inventação de moda. Nervoso, impaciente, agitado, não dormia muito, gostava muito de tv, de falar, que todo mundo assistisse as mesmas coisas, e soubesse das mesmas histórias. De plantinhas. De comprar fruta na feira, e escolher bem escolhida. Eu ficava ás vezes brava com as insistências. Ele ficava bravo com as ausências. Esse era meu pai, um pai tão pai, que hoje faria 65.
3 de Agosto de 2018
terça-feira, 26 de junho de 2018
Inteira e forte
Meus amores eternos
(Teresa Gouvea)
"Carrego meus mortos no coração, alheia aos ouvidos que não suportam a honra que cabe nessa escolha. Andam comigo nos meus gestos, nos sabores que reconheço, nas fotografias que contam nossas histórias e nas várias partes que compõem quem me tornei. Sabedora dessa honra dou permissão para que vivam através da minha fala e da minha saudade, não me incomodam ou fragilizam, ao contrário, me tornam inteira e forte". (Teresa Gouvea)
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=996158513885612&id=102570029911136
(Teresa Gouvea)
"Carrego meus mortos no coração, alheia aos ouvidos que não suportam a honra que cabe nessa escolha. Andam comigo nos meus gestos, nos sabores que reconheço, nas fotografias que contam nossas histórias e nas várias partes que compõem quem me tornei. Sabedora dessa honra dou permissão para que vivam através da minha fala e da minha saudade, não me incomodam ou fragilizam, ao contrário, me tornam inteira e forte". (Teresa Gouvea)
https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=996158513885612&id=102570029911136
segunda-feira, 4 de junho de 2018
32 obrigadas!
Assopro as velhinhas e não peço nada. Apenas digo obrigada!
Pela fresta de sol que quebra o ar frio
Pelo café quente das manhãs de sábado
Pelos aviões
Pela vontade de acordar
Pelas verdades da vida que me fizeram forte
Pela vontade de aprender, que é tão constante e tão aleatória
Por todos os minutos de silêncio
Pelos amigos que insistem em ser amigos com tantas distâncias
Pelos conformismos necessários
Por todas as montanhas que já vi e verei na vida, as verdinhas, as branquinhas, e as vermelhas
Pelos renascimentos de cada ano com a primavera
Por ser tão fácil achar pão, em qualquer lugar do mundo
Por tudo que não vai embora com o final da vida
Pelo riso sem razão
Por um marido que cozinha, lava, e limpa a casa
Pelos cachorrinhos
Pelas lentes de contato
Por uma sogra bem pra frente
Pela memória ruim
Por ter tudo que eu preciso
Pela água quente e gelada, no momento certo
Por alguém aceitar me pagar para fazer o que eu gosto
Pela Internet e todas as formas de comunição instantânea que vem com ela
Pelos genes que não herdei
Pelo lar em que cresci
Por meu irmão
Pelas praias de água quente
Pelos aprendizados que vem com as ruguinhas
Por gostar tanto da minha própria companhia
Por meus tios, tias, primos, e primas, todos
Pela certeza que medimos a vida com nossas próprias medidas
Por ainda haver sentido
Agradeço
Pela fresta de sol que quebra o ar frio
Pelo café quente das manhãs de sábado
Pelos aviões
Pela vontade de acordar
Pelas verdades da vida que me fizeram forte
Pela vontade de aprender, que é tão constante e tão aleatória
Por todos os minutos de silêncio
Pelos amigos que insistem em ser amigos com tantas distâncias
Pelos conformismos necessários
Por todas as montanhas que já vi e verei na vida, as verdinhas, as branquinhas, e as vermelhas
Pelos renascimentos de cada ano com a primavera
Por ser tão fácil achar pão, em qualquer lugar do mundo
Por tudo que não vai embora com o final da vida
Pelo riso sem razão
Por um marido que cozinha, lava, e limpa a casa
Pelos cachorrinhos
Pelas lentes de contato
Por uma sogra bem pra frente
Pela memória ruim
Por ter tudo que eu preciso
Pela água quente e gelada, no momento certo
Por alguém aceitar me pagar para fazer o que eu gosto
Pela Internet e todas as formas de comunição instantânea que vem com ela
Pelos genes que não herdei
Pelo lar em que cresci
Por meu irmão
Pelas praias de água quente
Pelos aprendizados que vem com as ruguinhas
Por gostar tanto da minha própria companhia
Por meus tios, tias, primos, e primas, todos
Pela certeza que medimos a vida com nossas próprias medidas
Por ainda haver sentido
Agradeço
sábado, 3 de março de 2018
Piangers: A morte não é uma tragédia, tragédia é quando a gente não viveu
Video
http://revistadonna.clicrbs.com.br/coluna/piangers-morte-nao-e-uma-tragedia-tragedia-e-quando-gente-nao-viveu/
sábado, 27 de janeiro de 2018
A ordem certa dos dias

Já fui feliz. De acordar sorrindo nos dias em que nada me esperava a não ser 8 horas sentada numa mesa. De falar sem parar, e sorrir para estranhos, e balançar a perna ouvindo rádio. Esqueci dos buracos, das distância. Fingi que sou preenchida, de tanto sentido, que transborda. Talvez seja a lua que mudou. Talvez seja a constatação que não importa o que eu sinta, contanto que eu dê nomes a eles. Os seguidos finais de semana com o silêncio, um dos meus amigos preferidos. E os poucos amigos que são minha rede. Talvez seja ouvir uma voz, ou descer do avião. Sentir o sol no rosto e fechar os olhos. A música que fala com você. Sentir minha humanidade em comum com quem nasceu do outro lado do planeta. Dar passagem na rua, e oferecer o lugar.
Um vai e vem. Talvez seja o começo da estação que eu gosto. E depois o fim. Talvez sejam as horas de sono, vai saber. Talvez sejam todas as fotos que tirei ano passado, e o que só fica em foto. Ou o que só importa agora, e nem vai mais existir daqui 50 anos. Talvez seja o café. Talvez seja o agora. Ou os dias em que há mais futuro que qualquer presente. Do passado nem ligo; minha memória deixa tudo escondido. Amém.
Todo mundo quer ser feliz. Mas a gente prega peças. A gente não se deixa ser feliz, porque felicidade é um negócio custoso. Carregar um sorrisão num mundo tão capenga parece um desatino. Como vou ser feliz se falta tanto? Tanto em mim, tanto no mundo, tanto no sentido das coisas. Como ser feliz se há tanto no que não me tornei? Tanto nas conversas que nunca vou ter. Tanto na forma como não deixo as pessoas verem o quanto me importo. Custa calar essas conversas internas. Custa ignorar que o mundo está falhando. Custa parar e estar agora.
Vamos lá, um dia por vez!
Só hoje me permito ser feliz ou triste, do jeito que venha.
Me permito ser o que eu sou
Mesmo que não seja o suficiente
Mesmo que não tenha feito nada para merecer nem a luz nem a escuridão.
Serei o que o dia me reserva.
Sem alterar a ordem das coisas, nem dos dias, nem dos sentidos.
E que haja sempre a certeza que quase tudo passa.
Os dias bons e os ruins.
E que ja aprendi a lição da única coisa que não passa.
Que o universo continue pulsando, na velocidade e tempo certos.
-----------
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas,
no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor."
Guimarães Rosa - "Grande sertão Veredas"
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
Inquietações
(Dezembro 2016)
São tantas.
Quieta, ouvindo os carros na rua.
Quase todos dormem, prontos para uma noite e um novo dia velho.
Como ontem.
Como antes de ontem.
Quem divide o tempo comigo?
Tempo quieto, quero, sempre.
Quieta, e sempre inquieta.
Quantas!
Inquietações, são tantas.
Um tanto sobre o que eu quis, outro tanto sobre o que não muda, mesmo se quisesse.
Por que?
Posso acreditar que ao ouvir dentro de mim, tomo controle, e mando embora?
Inquieta, quero ouvir tudo que sinto, de uma vez só.
Quero aquietar e controlar.
Mas não pode, moça quietinha.
Fique calma.
Deixe que sinta, sem forma, sem palavras.
Deixe a tristeza aqui, quieta.
Amanhã ela passa.
Tudo passa.
Quem sobrevive?
Ninguém!
Ninguém sobreviverá.
Tudo passa.
Mas tudo bem.
Aquieta-se.
São tantas.
Quieta, ouvindo os carros na rua.
Quase todos dormem, prontos para uma noite e um novo dia velho.
Como ontem.
Como antes de ontem.
Quem divide o tempo comigo?
Tempo quieto, quero, sempre.
Quieta, e sempre inquieta.
Quantas!
Inquietações, são tantas.
Um tanto sobre o que eu quis, outro tanto sobre o que não muda, mesmo se quisesse.
Por que?
Posso acreditar que ao ouvir dentro de mim, tomo controle, e mando embora?
Inquieta, quero ouvir tudo que sinto, de uma vez só.
Quero aquietar e controlar.
Mas não pode, moça quietinha.
Fique calma.
Deixe que sinta, sem forma, sem palavras.
Deixe a tristeza aqui, quieta.
Amanhã ela passa.
Tudo passa.
Quem sobrevive?
Ninguém!
Ninguém sobreviverá.
Tudo passa.
Mas tudo bem.
Aquieta-se.
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
Foi um gene com defeito
Quase tudo que deu origem a este
blog foi explicado mês passado. Respostas mesmo, pra tantas questões que
martelavam, todas começando com “por quê”. Esse histórico de câncer de familiares
tão próximos, assim como muitos casos de primos de segundo grau na família da
minha avó paterna tem uma causa. Não tem agua com problema, nem maldição, nem usina, nem fumaça,
nem tristeza, nem cigarro, nem qualquer coisa que queiram dar culpa a quem partiu.
É um erro genético.
Descobrimos faz alguns semanas. Minha tia, em meio ao luto gigante de
ter perdido um filho, fez testes. Um deu positivo. O gene TP53 tem um erro. Seu
filho teve, seu irmão - meu pai - teve, sua mãe com certeza tem, mas nunca
ficou doente, graças a Deus! E essa mutação tem um nome, síndrome de Li-Fraumeni, o nome de dois medicos que descobriram o erro.
Basicamente é isso: o gene TP53 protege alguns tipos de células de se
multiplicarem sem controle, o que causa câncer. Havendo uma mutação no gene,
ele não funciona muito bem, e as células ficam sem tanta proteção. Ou seja, as chances
de câncer aumentam consideravelmente. Se uma mulher normal de 30 anos tem 1% de ter cancer de mama, com essa mutação o risco aumenta pra 50%.
O mais interessante disso
tudo: embora esta mutação seja rara no mundo, não é tão rara assim no sul
e sudeste do Brasil. Há uma teoria que uma pessoa desenvolveu uma pequena variação
desta mutação e se instalou no Brasil muitos e muitos anos atrás. De alguma
forma minha família e todas as pessoas no Brasil com esta síndrome tem uma
ancestral comum. Esta história dando sopa por ai, e eu nunca li nadinha sobre
isso! Já procurei tanto sobre a incidência de câncer no Brasil, mas falhei no Google total. Olha este
artigo e video explicando tudinho:
Hoje passei 4 horas num dos melhores centros de câncer do mundo! Meu
lado hipocondríaco se sentiu bem cuidada, obrigada! Conversei com médicos, e
conselheiros genéticos por mais de 2 horas. Eles já tinham uma arvore da minha família,
baseada num questionário que eu tinha respondido antes da consulta. Uma das médicas
é especialista nesta síndrome, e tem grupo de pesquisa com médicos brasileiros.
Me deram várias razões pra fazer ou não o teste, falaram sobre as implicações
caso eu tenha filhos, o que pode mudar na minha vida, o que isso quer dizer pra
minha família. Achei que eles me acharam muito controlada, porque falaram muito sobre o impacto emocional deste possivel diagnóstico. É que já sou
viajada! rs Eu já cheguei decidida a fazer o teste. Conhecimento é poder, gente!
Eu já estava aqui achando que tinha alguma coisa errada. Se esse teste dá negativo, que peso sai de mim! Se der positivo, vou repensar algumas coisas, ter certeza que sempre tenho um convênio danado de bom, vou decidir de vez a não ter filhos. Vou poder me cuidar, fazer exames
frequentes que possam dar conta de uma doença no começo.
Há 9 anos eu estava devastada pela
primeira vez, dando conta de uma vida estranha sem minha mãe. Hoje eu estava lá, tomando
as rédeas da vida, sabendo exatamente que monstro é este, que tamanho, que cor,
e criando estratégias para uma batalha que minha mãe, meu pai, e meu primo não tiveram
como vencer. Talvez eu nem tenha que lutar. Mas se tiver, será no ataque.
Quanto a mim, daqui 3 semanas eles me ligam com o resultado. Talvez seja um dia que eu
esteja na Disney com meu irmão, sendo feliz!
ATUALIZAÇÃO: Meu teste deu negativo! 😀😀😀
ATUALIZAÇÃO: Meu teste deu negativo! 😀😀😀
quarta-feira, 10 de maio de 2017
O que vai embora com ela

E o tempo é sim um amigo, embora traiçoeiro. O tempo cura a dor, que em vez de ser aquela ferida aberta que sangra sem parar, é agora uma cicatriz feia, que você não pode cobrir. Mas o tempo também te faz perceber a grandeza de tudo que realmente se foi com sua mãe. A lasanha no seu aniversário, a coxinha. O cuidado de quem te colocava em primeiro lugar. Uma rede, que não está mais lá se você cair. E não ter mãe dá uma ansiedade do caramba. Você NÃO pode cair. Não pode ficar doente e precisar de alguém cuidando de você por mais de 2 dias. Não pode perder o emprego. Não pode largar tudo e ir morar com ela.
Quando sua mãe se vai, você fica sozinho de uma maneira muito profunda. É um tipo de solidão existencial. Acompanhada da saudade reversa de tudo que não virá. Poderíamos ter tido ainda pelo menos 40 outros anos. Que saudade do que não viveremos! Não terão mimos que eu compraria pra pra ela. Não terão nossas viagens. Não terei eu contando o que eu fiz, ou vi. Não terá ela me dizendo que tudo ficará bem. Não terá nós duas, envelhecendo, e mudando de opinião com o mundo, e recriando jeitos de ser mãe e filha. Não terá ela virando avó no dia em que eu virar mãe.
Há uma parte da minha vida que nem aconteceu, e já se foi, para sempre. E sinto uma saudade danada!
terça-feira, 4 de abril de 2017
55 voltas no sol
A Terra já deu exatas 55 voltas no sol desde o dia que nasceu a primeira filha menina do seu Zé e da dona Benedita. E foi até acontecimento comum, na família da roça que tinha tanto filho e filha. E no cenário do mundo então, com milhões e milhões de pessoas, foi caso bem mesmo ordinário. Mas no livrinho da vida da Aline, do Tiago, e de um bocado mais de gente, aquele foi o dia de um milagre. Nasceu a menina de olhos grandes de jabuticaba, e ela cresceu meio que sofrendo, sem mãe, sem muito apoio, e meio que desamparada, se tornou um ser iluminado, daqueles que chamam por aí de "mãe". E ela fez do mundo um lugar melhor para algumas pessoas, e os deu amor, não em forma de palavras ou abraços, mas em forma de cuidado, zelo, e atenção. E lá pela volta número 46 foi o dia que mesmo parecendo qualquer outro, expirou-se a mágica. Como uma vela que se apaga. Como uma nuvem que tampa o sol. Como o trem que vai embora e nos deixa na estação. Acabou. E foi tanto amor que ele ficou, jogado por ai, em petálas lilás e estrelas cadentes. E hoje celebro com um sorriso o dia 4 de abril, o dia em que minha vida se tornou uma boa vida mesmo antes de eu nascer. O dia que chegou quem mudou o mundo, para um bocado de gente. E até a minha vez de dar a última volta no sol vou sentir saudades que nem cabem nesse universo.
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