quinta-feira, 15 de dezembro de 2016
sexta-feira, 9 de dezembro de 2016
Receita de família
Pega todas as ambiguidades da vida. Junta com crianças que são sempre crianças mesmo com 60 anos, e pega dependência, e pega ciúmes, e pega controle, e pega cobrancas, e pega amor. E coloca aí ter um ser que cresce dentro de outro. E tanto amor que não cabe numa pessoa. E mistura tudo isso num contínuo de tempo que de tão velho, não tem começo nem fim: são gerações e gerações. E tudo é quase que um jogo de sorte: quem nasceu primeiro, quem precisou mais da mãe, quem nasceu na época das vacas gordas ou magras; não faz muito sentido quem vai ser o que, quem vai ser vilão, quem vai ser mocinho. Uma mistureba só!
E adiciona aos poucos novos membros, que vem de outras famílias, carregando suas próprias bagagens, que ocupam papéis novos: talvez noras nem tão queridas, genros não preferidos, e sogros e sogras, e afilhados, e divórcios, e segundos casamentos, e segundo genros e noras. E todas as relações se misturam, se entrelaçam, de década em década. Com tantas mudanças no mundo. Com individuos tentando ser gente, cada um de uma forma, cada um dando valor diferente ao tempo, ao dinheiro, á carreira. Traumas são repassados, ou não. Curas acontecem, ou não. Alguns se desprendem de ciclos doentios, e criam do nada ciclos tão saudáveis que parecem até de mentira.
E acrescenta ainda heranças, e genética, e mudanças, e distâncias. E saúde, e perdas gigantescas, e envelhecer, e todos os obstáculos da vida. E todos os sentimentos que são tão claros de se ler, e um tantão de outros que só sabe mesmo quem sente. E joga um bocado de culpa, remorso, churrascos, obrigações, preferências, risos, sopa quente, cemitérios, igrejas. Quem era cuidado vira cuidador. Nomes. Laços tão fortes que causam danos e curas irreparáveis. Te fazem chorar igual criança mesmo já sendo marmanjão. E também dão sentido pra vida. Qualquer família nesse mundo dá um livro, drama, romance, intriga, mistério, comédia.
E adiciona aos poucos novos membros, que vem de outras famílias, carregando suas próprias bagagens, que ocupam papéis novos: talvez noras nem tão queridas, genros não preferidos, e sogros e sogras, e afilhados, e divórcios, e segundos casamentos, e segundo genros e noras. E todas as relações se misturam, se entrelaçam, de década em década. Com tantas mudanças no mundo. Com individuos tentando ser gente, cada um de uma forma, cada um dando valor diferente ao tempo, ao dinheiro, á carreira. Traumas são repassados, ou não. Curas acontecem, ou não. Alguns se desprendem de ciclos doentios, e criam do nada ciclos tão saudáveis que parecem até de mentira.
E acrescenta ainda heranças, e genética, e mudanças, e distâncias. E saúde, e perdas gigantescas, e envelhecer, e todos os obstáculos da vida. E todos os sentimentos que são tão claros de se ler, e um tantão de outros que só sabe mesmo quem sente. E joga um bocado de culpa, remorso, churrascos, obrigações, preferências, risos, sopa quente, cemitérios, igrejas. Quem era cuidado vira cuidador. Nomes. Laços tão fortes que causam danos e curas irreparáveis. Te fazem chorar igual criança mesmo já sendo marmanjão. E também dão sentido pra vida. Qualquer família nesse mundo dá um livro, drama, romance, intriga, mistério, comédia.
E mesmo com todas as ambiguidades, com guerras e amores, ainda assim sempre se quer o bem. Porque família é quem divide com você o passado, desde seu abrir dos olhos. Quem viu você crescer, quem conheceu sua bisavó e sua mãe. Quem você viu engatinhar, e vê se formando na faculdade. Quem era crianca com você. São aquelas histórias que não importa a distância estarão sempre misturadas na sua. Quem vai dividir com você as melhores festas e as piores dores, não por empatia, mas sim porque são também as festas e dores deles. Vão te chatear, e vai parecer que não gostam de você, ou que não se importam, ou que você não se importa. Mas sabe? Há amor. Mesmo que na intensidade haja sofrer, vale a pena o esforço de quebrar os ciclos de erros e rancores que se repetem geração após geração. Vale o esforço de aceitar quem é tão diferente, mas tão parte de você. Vale também você poder ser você, com qualquer defeito ou qualidade. Com suas escolhas sérias ou inconsequentes que deixariam seu avô de cabelo em pé. Ou escolher outra religião, ou escolher ser único. Não importa. Mesmo quem tenta correr. Mesmo quando te fazem correr. Há amor, ás vezes disfarçado de qualquer outra coisa. Há amor. Quebre os ciclos apenas, porque os laços, esses aí não dá não, pode tentar, pode se esforçar: os laços não se quebram.
"No one fights dirtier or more brutally than blood; only family knows it’s own weaknesses, the exact placement of the heart. The tragedy is that one can still live with the force of hatred, feel infuriated that once you are born to another, that kinship lasts through life and death, immutable, unchanging, no matter how great the misdeed or betrayal. Blood cannot be denied, and perhaps that’s why we fight tooth and claw, because we cannot—being only human—put asunder what God has joined together." -Whitney Otto
8 de dezembro, dia da familia
terça-feira, 29 de novembro de 2016
Abestalhada (em dois atos)
Setembro 15, 2016 / Novembro 29, 2016
Dá um medo do caramba. E uma tristeza, e um choque. Dias que te lembram, as vezes em rede nacional, que a vida é assim, frágil, rápida. Piscou, acabou. Mesmo no auge, mesmo num mergulho feliz no rio, mesmo a caminho do seu maior sonho. Acabou. E não é assim com todo mundo? Não é esse o fim, não importa nada mais? Hoje vi esse texto, tão lindo, falou comigo:
"Se você não se sente profundamente tocado pelo vislumbre da morte, é porque não olhou de perto. A consciência clara da mortalidade, nossa e dos outros, produz um impacto poderoso em nossa vida, muda drasticamente a relação que temos com as pessoas, com nossas ocupações, com nossas aspirações pro futuro, com as prioridades, com o tempo." —Fábio Rodrigues, na prática "Lembrar da morte".
E lembrei das vezes que olhei a morte de perto. E pensei: será que aprendemos as liçōes da morte? Quando o vislumbre da morte ensina? E quando paralisa? Olhar de perto é ver o fim, é ver a gota de vida indo embora de alguém que é não apenas um ser humano, com história, com sonhos, mas um ser para quem demos uma parte de nós com formas mais puras de amor. Pedacinhos de nós, que se vão, e pronto: quem sou eu? Como fazer disso tudo lição, e não apenas dor?
Pra que planos? Pra que guardar dinheiro? Pra que ter agenda? Para que fingir controle? Para aproveitar mais a vida! Essas consciências deveriam nos fazer mais vivos, mais aproveitadores não só das tardes de sábado, mas também das 10:20 das manhãs de terça. Ser feliz, na intensidade do agora. E isso está bem longe da ideia de sair por ai, esquecer as contas, e comprar cerveja. Viver o hoje, com toda a responsabilidade, pois ela também traz paz. Escrevendo o TCC e não pode mais ver os amigos? Escreva com intensidade, aprenda tudo, faça cada linha da escrita um pequeno tesouro, se doe ao trabalho. Não espere ter dinheiro, ter tempo, estar morando num lugar perfeito, ou trabalhando num lugar perfeito. Voce tem muito mais poder sobre os dias, mesmo aqueles mais sem graça, de alarme, transito, cadeira, reunião, cadeira, transito, tv. Não é bem o que voce faz, mas como. Não se contente com um dia sem sentido. Seja o sentido repleto de profunda dor, saudade, amor, paz, calma, beleza, poesia, ou alegria.
Setembro 15, 2016
To aqui. Abestalhada. Indignada. Maravilhada. Sentada no sofá, sem sono. Pensando na raridade da vida, que a gente toma como certa. Errado! Menino, as pessoas vão embora. E não importa o quanto você os ame, o quanto voce precise deles, o quanto de você é feito deles. Eles vão. Ou vai você. E beira o desespero ne? Que grande merda isso. É caso pra desistência, pra depressão, pra parar tudo e querer descer. Pra que tudo isso então? Pra que pagar conta, ter agenda, ir ao medico, não comer coxinha, beber menos? Pra que? Entre o desespero e a lição, pegue a lição. O tempo é curto, faça o que for, seja feliz! Não se deixe preocupar com esse fim certo. É certo, e ponto. Não se preocupe hoje, não se abestalhe no sofá. Viva o que vale, o hoje e só.
Dá um medo do caramba. E uma tristeza, e um choque. Dias que te lembram, as vezes em rede nacional, que a vida é assim, frágil, rápida. Piscou, acabou. Mesmo no auge, mesmo num mergulho feliz no rio, mesmo a caminho do seu maior sonho. Acabou. E não é assim com todo mundo? Não é esse o fim, não importa nada mais? Hoje vi esse texto, tão lindo, falou comigo:
"Se você não se sente profundamente tocado pelo vislumbre da morte, é porque não olhou de perto. A consciência clara da mortalidade, nossa e dos outros, produz um impacto poderoso em nossa vida, muda drasticamente a relação que temos com as pessoas, com nossas ocupações, com nossas aspirações pro futuro, com as prioridades, com o tempo." —Fábio Rodrigues, na prática "Lembrar da morte".
E lembrei das vezes que olhei a morte de perto. E pensei: será que aprendemos as liçōes da morte? Quando o vislumbre da morte ensina? E quando paralisa? Olhar de perto é ver o fim, é ver a gota de vida indo embora de alguém que é não apenas um ser humano, com história, com sonhos, mas um ser para quem demos uma parte de nós com formas mais puras de amor. Pedacinhos de nós, que se vão, e pronto: quem sou eu? Como fazer disso tudo lição, e não apenas dor?
Pra que planos? Pra que guardar dinheiro? Pra que ter agenda? Para que fingir controle? Para aproveitar mais a vida! Essas consciências deveriam nos fazer mais vivos, mais aproveitadores não só das tardes de sábado, mas também das 10:20 das manhãs de terça. Ser feliz, na intensidade do agora. E isso está bem longe da ideia de sair por ai, esquecer as contas, e comprar cerveja. Viver o hoje, com toda a responsabilidade, pois ela também traz paz. Escrevendo o TCC e não pode mais ver os amigos? Escreva com intensidade, aprenda tudo, faça cada linha da escrita um pequeno tesouro, se doe ao trabalho. Não espere ter dinheiro, ter tempo, estar morando num lugar perfeito, ou trabalhando num lugar perfeito. Voce tem muito mais poder sobre os dias, mesmo aqueles mais sem graça, de alarme, transito, cadeira, reunião, cadeira, transito, tv. Não é bem o que voce faz, mas como. Não se contente com um dia sem sentido. Seja o sentido repleto de profunda dor, saudade, amor, paz, calma, beleza, poesia, ou alegria.
"Senhoras e senhores, trago boas novas: Eu vi a cara da morte e ela estava viva" Cazuza
Setembro 15, 2016
To aqui. Abestalhada. Indignada. Maravilhada. Sentada no sofá, sem sono. Pensando na raridade da vida, que a gente toma como certa. Errado! Menino, as pessoas vão embora. E não importa o quanto você os ame, o quanto voce precise deles, o quanto de você é feito deles. Eles vão. Ou vai você. E beira o desespero ne? Que grande merda isso. É caso pra desistência, pra depressão, pra parar tudo e querer descer. Pra que tudo isso então? Pra que pagar conta, ter agenda, ir ao medico, não comer coxinha, beber menos? Pra que? Entre o desespero e a lição, pegue a lição. O tempo é curto, faça o que for, seja feliz! Não se deixe preocupar com esse fim certo. É certo, e ponto. Não se preocupe hoje, não se abestalhe no sofá. Viva o que vale, o hoje e só.
segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Encucação
Todo dia é assim, a todo momento, pensamentos passam com palavras tortas, as vezes fortes, as vezes leves, na nossa frente. Alguns caem no chão bem rápido, outros ficam flutuando por um instante de vida. Alguns tão bons, confortantes, te fazem rir. Outros, de tão medonhos te fazem fechar os olhos, mas mesmo assim, voce os vê. Eles todos passam, sem parar. Uma constante brisa, as vezes vento, as vezes furacão. Até que... de repente, vão chegando bem pertinho, dão voltas, encostam na testa, e boom! Encuca.
Encucação: condição em que o portador faz cativo um pensamento. Aguda, ou crônica. Ainda não se sabe o tratamento.
Tem gente que nunca encuca, são resistentes desde criança. Talvez genética, vai saber. Deixam pensamento ir, vir, voltar, dançar, pular, fugir. Tem gente que encuca só de tempos em tempos, e consegue desencucar só de fechar os olhos. Dura 37 segundos. Tem gente que encuca todo dia e precisa de doses diárias de ar, árvores, e céu. E ainda assim, não há cura. Desapercebidamente afeiçoa-se de um pensamento, mesmo que feio, mesmo que triste. E segura o pensamento como doce, não deixa escapar. E olha, e escuta, e cheira, e investiga de todos os lados. E o pensamento que nem é bobo nem nada, aproveita, e se deixar encucar. Pensamento só gosta quando está na cabeça. E martela, e queima, esfria. Investiga-se como se a vida dependesse daquele pensar. Encucação parece bonito, disfarca-se de cuidado, mas não é bom nem pra tosse. Pensamentos devem ir e vir.
Para lembrança podem ser escritos, desenhados, twittados. Mas nunca encucados! Como desencucar, minha gente?
terça-feira, 15 de novembro de 2016
O peso do mundo agigantado
E veio assim, de repente, ás 4:32 da tarde, quando já era noite: um agigantamento do mundo. De tão grande, não conseguiu andar, os passos eram tão pequenos. E chovia, e o guarda-chuva se contorcia, e as botinhas de chuva não davam conta da tempestade. Foi chuva como não se via há tanto tempo. E no chão estavam reflexos de verde, e amarelo, e vermelho, e verde de novo. E todo mundo esperava, seguindo a ordem das coisas. Dorme, trabalha, come, dorme. E os passos ja tão pequenos, ficaram mais lentos, pois o mundo agigantado era carregado nos ombros. Que peso. Foi preciso deitar. E chorar, de dor. Porque doía. Precisou de gelo, e sopa, e silêncio. E lembrou de como é boa a solidão, cheia de conversas internas. Diferente não pode ser. Aumentaram-se as distâncias, para chegar na padaria, no amigo, no vizinho. De tão longe ninguém nem mais via ninguém. Quanta neblina! Perdeu os óculos. E teve, por um segundo, uma lembrança em forma de sombra, fria e cortante: "minha mãe não tem telefone" - a pior forma de se estar sozinho no mundo gigante. Que de tão gigante em distância, escolheu-se no tempo, e virou quase nada. Em 100 anos vai ser tudo areia. E contentou-se em dormir, e esperar um novo dia. Que dia o sol se pōe as 7:15?
PS. Mais uma pequena coincidencia desse mundo misterioso. Fui olhar, "por acaso", aqui o sol vai se por as 7:15 em 4 de abril. Presente da/para minha mãe, que nao tem telefone mas sempre encontra outras formas
PS. Mais uma pequena coincidencia desse mundo misterioso. Fui olhar, "por acaso", aqui o sol vai se por as 7:15 em 4 de abril. Presente da/para minha mãe, que nao tem telefone mas sempre encontra outras formas
sexta-feira, 12 de agosto de 2016
8 e ∞
E 8 anos depois
Ainda
Entre momentos banais do cotidiano
Entre dois degraus que subo no metro,
logo depois de tirar os sapatos ao entrar em casa,
ou entre fechar os olhos e o sono vir
Tenho 3 segundos de espanto
Quase perco o ar, pulo duas batidas
E vem um mistério
Que de tão grande não se faz em pensamento
Não cabe no pensar, cabe só no sentir.
Eu sinto:
Como minha vida existe sem você?
E tomo o terceiro degrau.
E sonho.
Ou sento no sofa.
E sigo
Cheia de desamparo e coragem.
Ainda
Entre momentos banais do cotidiano
Entre dois degraus que subo no metro,
logo depois de tirar os sapatos ao entrar em casa,
ou entre fechar os olhos e o sono vir
Tenho 3 segundos de espanto
Quase perco o ar, pulo duas batidas
E vem um mistério
Que de tão grande não se faz em pensamento
Não cabe no pensar, cabe só no sentir.
Eu sinto:
Como minha vida existe sem você?
E tomo o terceiro degrau.
E sonho.
Ou sento no sofa.
E sigo
Cheia de desamparo e coragem.
sexta-feira, 22 de julho de 2016
Viaje bem ai no alto
(Para o Lê)
Vai lá viajar pelo mar, pelo rio, pelas pedras da pedreira, pela areia da Vermelhinha, pelo céu tão azul quanto seus olhos. Vai se misturar com as nuvens, com os beijos de chegada e despedida, com as manhãs preguiçosas. Viaje pelo Itaquera, bem no meio da torcida. Vai lá ser parte das conversas mais felizes dos seus amigos, das maiores zueiras, de todos os casamentos, todas as festas. Viaje feliz por ter sido a maior lição da vida de tanta gente, sobre o que é importante, o simples dessa vida curta que traz felicidade: amigos, rio e mar. Lição sobre o que não importa, sobre o que é temporário: as vaidades, as manias, as conversas sem sentido. Lição que dar as mãos e olhar com carinho cura dores físicas. Que um filho nunca cresce, e quer a mãe e o pai por perto o tempo todo. Que tem amigo mais chegado que irmão, e tem irmão tão chegado que é quase metade de nós mesmos.
Vai lá viajar pelo mar, pelo rio, pelas pedras da pedreira, pela areia da Vermelhinha, pelo céu tão azul quanto seus olhos. Vai se misturar com as nuvens, com os beijos de chegada e despedida, com as manhãs preguiçosas. Viaje pelo Itaquera, bem no meio da torcida. Vai lá ser parte das conversas mais felizes dos seus amigos, das maiores zueiras, de todos os casamentos, todas as festas. Viaje feliz por ter sido a maior lição da vida de tanta gente, sobre o que é importante, o simples dessa vida curta que traz felicidade: amigos, rio e mar. Lição sobre o que não importa, sobre o que é temporário: as vaidades, as manias, as conversas sem sentido. Lição que dar as mãos e olhar com carinho cura dores físicas. Que um filho nunca cresce, e quer a mãe e o pai por perto o tempo todo. Que tem amigo mais chegado que irmão, e tem irmão tão chegado que é quase metade de nós mesmos.
Viaje
bem ai no alto, sem cinto, sem preocupação. Deixe todas as dores e angustias do
seus últimos meses pra trás. Eu sei que você queria mais tempo, foi pouco, tão
pouco. Queria mais jogos de tênis, mais corridas em Cruzeiro, mais idas a
Ubatuba, mais tardes com a Sara, mais dias, mais anos, muitos anos. Você queria
aproveitar cada minuto, eu sei. Parece que você até sabia, porque sempre viveu assim,
fazendo o que gostava. Que bom!
Viaja
bem, e não se chateie se um dia parecer que estamos tão triste. Aqui ficou um
buraco, que não se fecha, pois é feito de matéria infinita: saudade e amor. É
que vamos sentir tanto a sua falta! Do seu jeito de andar, a forma como chamava
seu irmão, sua voz de descontentamento quando ficava frustrado, seu riso tão
largo que fazia seus olhos ficarem pequenininhos! Queríamos ver tantos dos seus
dias mais felizes! Mas fique tranquilo, que sabemos que o sonho que tínhamos
para você, agora é o sonho que você tem para nós: vamos sobreviver. Com este
amor e com essa vontade de vida que você deixou. Hoje seguimos num mundo quase novo,
uma nova vida, com menos risos, e mais coragem. Você nos ensinou que somos tão
fortes, capazes de suportar o inimaginável. Guerreiros como você.
Viaje
em paz, porque aqui você cumpriu sua missão de tornar as pessoas melhores, que não
desperdiçam os dias, que sabem que quando a fé e a esperança parecem acabar, o
amor sobrevive, forte, gigante, cruzando o caminho entre os mundos. Va em paz,
que esse amor será nossa força, todos os minutos, até o dia lá na frente, nem tão
longe assim, quando nos encontraremos. Voaremos juntos, do seu lado novamente, e você nos
contará tudo que aprendeu, e todos os segredos, e todos os porquês que hoje não
entendemos. E naquele dia seremos todos lembranças, ligados por laços feitos
somente de amor, dor, e saudade.
Foto de hoje a tarde, 22 de julho
quarta-feira, 20 de julho de 2016
1988
Seis netos, dois de cada filho. Filhos do Valdir, Valter, e Valéria. Netos da Gilda e do Luiz. Uma família "intensa", vamos dizer assim. Com mães super mães, que fazem o possível e impossível pros filhos, mas que também cobram. Família ciumenta, falante.
Os filhos casaram todos em um ano, e os primeiros netos foram chegando assim, um atras do outro: novembro de 1985, maio de 1986, e junho de 1986. Menos de 2 anos depois, veio a segunda leva: janeiro de 1988, janeiro de 1989, julho de 1991.
Fizeram muitas coisas juntos: natais, aniversários, festas, brincadeiras, dormir um na casa do outro, aprender a andar de bicicleta, pular fogueira, brigar, brincar, brincar na piscina, passar ferias na praia em casas que acabavam superlotadas. Uma pequena grande confusão. Fogos no bombril. Andar em Ubatuba fingindo bater a cabeça no orelhão. Dinheiro no sabão. Tudo foi bem, muito bem. Quando tudo vai bem, as vezes a gente se esquece que a regra não é essa.
2008
E começou com a mulher do Valdir, nora da Gilda, cunhada da Valéria. Foi cancer, foi um susto, foi rápido. As coisas mudaram. Foi a perda, e foi também o tempo passando. Os netos crescendo. As vezes é dificil criar asas, difícil ver os filhos criando asas. Cada um criou asas da sua forma.
2014
Um tempo depois, foi o Valdir. Cancer, de novo. Batalha perdida. No mesmo ano, a Valeria perdeu o sogro. Um senhor tao forte, vivo, saudável, falante, engraçado. Foi cancer, foi rápido.
2015
Um ano e meio depois, foi embora o vô Luiz, dessa vez foi a idade, era sua hora. Ficou pouco não resolvido, pouco não vivido. No mesmo ano, o Valter também perdeu o sogro. Também de idade, um senhorzinho que até o ultimo segundo sabia de tudo que acontecia, não perdeu a noção do mundo, nem por um minuto.
Em 2016, foi ontem, foi o Leandro, filho da Valéria, meu primo. O quarto neto, 28 anos. Quanta vida, quantos sonhos, quantos dias felizes. Neto que mais soube aproveitar a vida, que mais se divertia. Talvez o que menos se preocupava com o futuro, que bom. O mais bonito. Corinthiano. Batalhou por pouco mais de 1 ano. Foi cancer, foi rapido. Batalhou tantas quimios, cirurgias, prognosticos ruins, a angustia, dores, mal estar. E lutou com ele seus pais, seu irmao, sua namorada, tantos amigos. Como tinha amigos! Amigos da hora da bagunça, amigos da hora da dor. Não pude me despedir (essa ideia que eu tive que morar longe...).
O pai dele foi quem dirigiu meu pai de volta de Sao Paulo a Cruzeiro quando minha mãe se foi. Depois, repetiu comigo, quando foi a vez do meu pai. Eu sinto uma dor de pensar que em menos de três anos, seria com ele, com um filho. Dor que esta longe do meu entendimento.
Lê, voce deixa um vazio que se junta a tudo da minha infância que ja foi embora. Seu jeitinho de andar, seu jeito de chamar seu irmão, sua voz de descontentamento quando ficava frustrado, as caronas muitas que peguei pra SP. No Natal te vi tao bem, carequinha, mas forte, brincando. Achei que tudo iria terminar bem. Me disse que tinha que vir conhecer "essa Boston ai", queria ver jogo do Tom Brady. Te falei que da próxima te levava uma camiseta. Sinto não ter tido tempo, sinto não poder ver seu filho de olhos azuis. Sinto tanto, e ate agora não sei como isso pode ter acontecido.
Mas acima de tudo sinto pela sua familia, esses que estavam com voce nas noites de dor e angustia, que fizeram tudo por voce. Que pararam a vida, que nao pouparam dinheiro, nem tempo, nem idas e vindas, nada, nada. Eles nao desistiram da cura. Hoje meu maior pedido é que seus pais achem novamente o animo, a alegria de dias simples. Que a lembranca sua seja o amor, que nao acaba, que é sim mais forte que a fé e esperança, porque elas acabam, quando o que resta é o amor. Que eles encontrem sentido nessa dor, que a tomem pra eles, que a carreguem e a controlem todos os dias, para que ela nao os paralizem, mas que os facam seguir em frente por voce. Que o sonho que eles tinham para voce, seja agora o sonho que voce tinha para eles: que eles sobrevivam. É uma tarefa dura, tarefa de uma vida inteira.
E que venha logo a cura, por vocês todos. Cansamos tanto. Que todos nós, 5 netos, 2 filhos, genro e nora da dona Gilda estejamos aqui para ver. E vamos suspirar, com alivio e saudade.
Os filhos casaram todos em um ano, e os primeiros netos foram chegando assim, um atras do outro: novembro de 1985, maio de 1986, e junho de 1986. Menos de 2 anos depois, veio a segunda leva: janeiro de 1988, janeiro de 1989, julho de 1991.
Fizeram muitas coisas juntos: natais, aniversários, festas, brincadeiras, dormir um na casa do outro, aprender a andar de bicicleta, pular fogueira, brigar, brincar, brincar na piscina, passar ferias na praia em casas que acabavam superlotadas. Uma pequena grande confusão. Fogos no bombril. Andar em Ubatuba fingindo bater a cabeça no orelhão. Dinheiro no sabão. Tudo foi bem, muito bem. Quando tudo vai bem, as vezes a gente se esquece que a regra não é essa.
2008
E começou com a mulher do Valdir, nora da Gilda, cunhada da Valéria. Foi cancer, foi um susto, foi rápido. As coisas mudaram. Foi a perda, e foi também o tempo passando. Os netos crescendo. As vezes é dificil criar asas, difícil ver os filhos criando asas. Cada um criou asas da sua forma.
2014
Um tempo depois, foi o Valdir. Cancer, de novo. Batalha perdida. No mesmo ano, a Valeria perdeu o sogro. Um senhor tao forte, vivo, saudável, falante, engraçado. Foi cancer, foi rápido.
2015
Um ano e meio depois, foi embora o vô Luiz, dessa vez foi a idade, era sua hora. Ficou pouco não resolvido, pouco não vivido. No mesmo ano, o Valter também perdeu o sogro. Também de idade, um senhorzinho que até o ultimo segundo sabia de tudo que acontecia, não perdeu a noção do mundo, nem por um minuto.
Em 2016, foi ontem, foi o Leandro, filho da Valéria, meu primo. O quarto neto, 28 anos. Quanta vida, quantos sonhos, quantos dias felizes. Neto que mais soube aproveitar a vida, que mais se divertia. Talvez o que menos se preocupava com o futuro, que bom. O mais bonito. Corinthiano. Batalhou por pouco mais de 1 ano. Foi cancer, foi rapido. Batalhou tantas quimios, cirurgias, prognosticos ruins, a angustia, dores, mal estar. E lutou com ele seus pais, seu irmao, sua namorada, tantos amigos. Como tinha amigos! Amigos da hora da bagunça, amigos da hora da dor. Não pude me despedir (essa ideia que eu tive que morar longe...).
O pai dele foi quem dirigiu meu pai de volta de Sao Paulo a Cruzeiro quando minha mãe se foi. Depois, repetiu comigo, quando foi a vez do meu pai. Eu sinto uma dor de pensar que em menos de três anos, seria com ele, com um filho. Dor que esta longe do meu entendimento.
Lê, voce deixa um vazio que se junta a tudo da minha infância que ja foi embora. Seu jeitinho de andar, seu jeito de chamar seu irmão, sua voz de descontentamento quando ficava frustrado, as caronas muitas que peguei pra SP. No Natal te vi tao bem, carequinha, mas forte, brincando. Achei que tudo iria terminar bem. Me disse que tinha que vir conhecer "essa Boston ai", queria ver jogo do Tom Brady. Te falei que da próxima te levava uma camiseta. Sinto não ter tido tempo, sinto não poder ver seu filho de olhos azuis. Sinto tanto, e ate agora não sei como isso pode ter acontecido.
Mas acima de tudo sinto pela sua familia, esses que estavam com voce nas noites de dor e angustia, que fizeram tudo por voce. Que pararam a vida, que nao pouparam dinheiro, nem tempo, nem idas e vindas, nada, nada. Eles nao desistiram da cura. Hoje meu maior pedido é que seus pais achem novamente o animo, a alegria de dias simples. Que a lembranca sua seja o amor, que nao acaba, que é sim mais forte que a fé e esperança, porque elas acabam, quando o que resta é o amor. Que eles encontrem sentido nessa dor, que a tomem pra eles, que a carreguem e a controlem todos os dias, para que ela nao os paralizem, mas que os facam seguir em frente por voce. Que o sonho que eles tinham para voce, seja agora o sonho que voce tinha para eles: que eles sobrevivam. É uma tarefa dura, tarefa de uma vida inteira.
E que venha logo a cura, por vocês todos. Cansamos tanto. Que todos nós, 5 netos, 2 filhos, genro e nora da dona Gilda estejamos aqui para ver. E vamos suspirar, com alivio e saudade.
"E amanhã posso chorar por não poder te ver
Mas o seu sorriso vale mais que um diamante
Se você vier comigo, aí nós vamos adiante
Com a cabeça erguida e mantendo a fé em Deus
O seu dia mais feliz vai ser o mesmo que o meu
A vida me ensinou a nunca desistir
Nem ganhar, nem perder mas procurar evoluir
Podem me tirar tudo que tenho
Só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz
Pra quem eu amo
E eu sou feliz e canto e o universo é uma canção
E eu vou que vou
Mas o seu sorriso vale mais que um diamante
Se você vier comigo, aí nós vamos adiante
Com a cabeça erguida e mantendo a fé em Deus
O seu dia mais feliz vai ser o mesmo que o meu
A vida me ensinou a nunca desistir
Nem ganhar, nem perder mas procurar evoluir
Podem me tirar tudo que tenho
Só não podem me tirar as coisas boas que eu já fiz
Pra quem eu amo
E eu sou feliz e canto e o universo é uma canção
E eu vou que vou
História, nossas histórias
Dias de luta, dias de glória"
Dias de luta, dias de glória"
(https://www.youtube.com/watch?v=i4FQJ7Qi14o) - Charlie Brown Jr.
sábado, 16 de julho de 2016
Sobre as maiores abominações
18 de junho de 2016
Eu ando triste, um triste meio novo. Eu quase sempre sou feliz mas sempre preciso de um dia aqui, e outro ali pra ser triste. Ja fui triste sem razão, ja fui triste por saudade doída, ja fui triste por dúvida, já fui triste por raiva da vida. Já fui triste de doer entre o estômago e a garganta, já fui triste pra perceber a beleza de céu tão cotidiano. Mas ando triste diferente. Ando triste com o mundo. Choro com a dor do personagem inventado. Choro com o filho chorando no velório da mãe que se colocou entre ele e o doido com armas. Triste com o caminho do mundo, que ao invés de andar pra frente, cambaleia como nunca, retorna a passos largos. Todo mundo compartilha sem partilhar. Todo mundo ta certo, e ponto! Quero ver só o que eu quero, e me deixe aqui na minha santa ignorância. O mundo dos injustos, dos racistas, dos machistas, dos homofóbicos, todos de bem, pessoas de bem, que odeiam. O mundo do ódio.
Minha fé me permite odiar. Odiar meu irmão, minha sobrinha, meu tio. Que Deus os perdoe! Quanto pecado! "Não atire a primeira pedra". Minha fé remove montanhas, e as coloca bem aqui, entre eu e você, para que eu não te veja. Para que eu me veja, e só, e ache que sou o centro do mundo. Não Deus, não as crianças, não os animais, não aquele que ama, não aquele que se doa, não aquele que vive uma vida justa sem julgar ninguém, não aquele que não vai na igreja porque cansou de ser parte de um grupo que em essência exclui. O centro do mundo sou eu, eu e minha interpretação completa e única do que Deus quis dizer quando disse "ame o seu proximo". A fé move montanhas, e as coloca entre eu e meu próximo. "A fe é a certeza daquilo que não vemos". Minha fé, a certeza que estou certo mesmo sem estar. E fecho os olhos e os ouvidos, e abro a boca e falo sem parar, e sem pensar. E em nome de Deus alimento o ódio, o rancor, a violência, a falta de cuidado com quem não tem o que comer. Em nome de Deus faço tudo, menos ser uma pessoa melhor.
"Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos." Provérbios 6:16-19.
Eu ando triste, um triste meio novo. Eu quase sempre sou feliz mas sempre preciso de um dia aqui, e outro ali pra ser triste. Ja fui triste sem razão, ja fui triste por saudade doída, ja fui triste por dúvida, já fui triste por raiva da vida. Já fui triste de doer entre o estômago e a garganta, já fui triste pra perceber a beleza de céu tão cotidiano. Mas ando triste diferente. Ando triste com o mundo. Choro com a dor do personagem inventado. Choro com o filho chorando no velório da mãe que se colocou entre ele e o doido com armas. Triste com o caminho do mundo, que ao invés de andar pra frente, cambaleia como nunca, retorna a passos largos. Todo mundo compartilha sem partilhar. Todo mundo ta certo, e ponto! Quero ver só o que eu quero, e me deixe aqui na minha santa ignorância. O mundo dos injustos, dos racistas, dos machistas, dos homofóbicos, todos de bem, pessoas de bem, que odeiam. O mundo do ódio.
Minha fé me permite odiar. Odiar meu irmão, minha sobrinha, meu tio. Que Deus os perdoe! Quanto pecado! "Não atire a primeira pedra". Minha fé remove montanhas, e as coloca bem aqui, entre eu e você, para que eu não te veja. Para que eu me veja, e só, e ache que sou o centro do mundo. Não Deus, não as crianças, não os animais, não aquele que ama, não aquele que se doa, não aquele que vive uma vida justa sem julgar ninguém, não aquele que não vai na igreja porque cansou de ser parte de um grupo que em essência exclui. O centro do mundo sou eu, eu e minha interpretação completa e única do que Deus quis dizer quando disse "ame o seu proximo". A fé move montanhas, e as coloca entre eu e meu próximo. "A fe é a certeza daquilo que não vemos". Minha fé, a certeza que estou certo mesmo sem estar. E fecho os olhos e os ouvidos, e abro a boca e falo sem parar, e sem pensar. E em nome de Deus alimento o ódio, o rancor, a violência, a falta de cuidado com quem não tem o que comer. Em nome de Deus faço tudo, menos ser uma pessoa melhor.
"Estas seis coisas o Senhor odeia, e a sétima a sua alma abomina: olhos altivos, língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, o coração que maquina pensamentos perversos, pés que se apressam a correr para o mal, a testemunha falsa que profere mentiras, e o que semeia contendas entre irmãos." Provérbios 6:16-19.
A grande negação
Julho 15, 2016
A Terra gira estranha, empurrando todo mundo, que segue aos trancos e barrancos. Com as dores de ser gente que sente, que pensa, que rumina, que significa. Que ao ver o final do ciclo da vida perde o sentido em viver. Que tem na distância física não apenas um numero de quilômetros, metros, e milhas, mas também um buraco, que queima e congela, tudo junto, ao mesmo tempo. Que vive segundos que são horas, e horas que são sua vida inteira. Ao ver gente virar pétala a gente cai na terra, aos prantos, sem entender nada. É a nossa grande negação, que nos mantém vivos, saltitantes e sorridentes por ai, é a ilusão necessária. Que esconde o maior segredo que seu coração de gente, fraco e sem ritmo, fingi que esqueceu: um dia, todos, de gente viramos flores, e planetas, e pedaços de nuvens. De seres pensantes e cheios de vontades, viramos uma lembrança, um buraco na vida de alguéns. Buraco, sem quilômetros, nem metros, nem milhas. Infinito. Quem não se engana, chora a cada esquina. Não quer levantar. Sente o peso. Que isso menina! Olhe seus minutos, é contagem regressiva: vai sorrir também!
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