(Dezembro 2016)
São tantas.
Quieta, ouvindo os carros na rua.
Quase todos dormem, prontos para uma noite e um novo dia velho.
Como ontem.
Como antes de ontem.
Quem divide o tempo comigo?
Tempo quieto, quero, sempre.
Quieta, e sempre inquieta.
Quantas!
Inquietações, são tantas.
Um tanto sobre o que eu quis, outro tanto sobre o que não muda, mesmo se quisesse.
Por que?
Posso acreditar que ao ouvir dentro de mim, tomo controle, e mando embora?
Inquieta, quero ouvir tudo que sinto, de uma vez só.
Quero aquietar e controlar.
Mas não pode, moça quietinha.
Fique calma.
Deixe que sinta, sem forma, sem palavras.
Deixe a tristeza aqui, quieta.
Amanhã ela passa.
Tudo passa.
Quem sobrevive?
Ninguém!
Ninguém sobreviverá.
Tudo passa.
Mas tudo bem.
Aquieta-se.
segunda-feira, 13 de novembro de 2017
sexta-feira, 18 de agosto de 2017
Foi um gene com defeito
Quase tudo que deu origem a este
blog foi explicado mês passado. Respostas mesmo, pra tantas questões que
martelavam, todas começando com “por quê”. Esse histórico de câncer de familiares
tão próximos, assim como muitos casos de primos de segundo grau na família da
minha avó paterna tem uma causa. Não tem agua com problema, nem maldição, nem usina, nem fumaça,
nem tristeza, nem cigarro, nem qualquer coisa que queiram dar culpa a quem partiu.
É um erro genético.
Descobrimos faz alguns semanas. Minha tia, em meio ao luto gigante de
ter perdido um filho, fez testes. Um deu positivo. O gene TP53 tem um erro. Seu
filho teve, seu irmão - meu pai - teve, sua mãe com certeza tem, mas nunca
ficou doente, graças a Deus! E essa mutação tem um nome, síndrome de Li-Fraumeni, o nome de dois medicos que descobriram o erro.
Basicamente é isso: o gene TP53 protege alguns tipos de células de se
multiplicarem sem controle, o que causa câncer. Havendo uma mutação no gene,
ele não funciona muito bem, e as células ficam sem tanta proteção. Ou seja, as chances
de câncer aumentam consideravelmente. Se uma mulher normal de 30 anos tem 1% de ter cancer de mama, com essa mutação o risco aumenta pra 50%.
O mais interessante disso
tudo: embora esta mutação seja rara no mundo, não é tão rara assim no sul
e sudeste do Brasil. Há uma teoria que uma pessoa desenvolveu uma pequena variação
desta mutação e se instalou no Brasil muitos e muitos anos atrás. De alguma
forma minha família e todas as pessoas no Brasil com esta síndrome tem uma
ancestral comum. Esta história dando sopa por ai, e eu nunca li nadinha sobre
isso! Já procurei tanto sobre a incidência de câncer no Brasil, mas falhei no Google total. Olha este
artigo e video explicando tudinho:
Hoje passei 4 horas num dos melhores centros de câncer do mundo! Meu
lado hipocondríaco se sentiu bem cuidada, obrigada! Conversei com médicos, e
conselheiros genéticos por mais de 2 horas. Eles já tinham uma arvore da minha família,
baseada num questionário que eu tinha respondido antes da consulta. Uma das médicas
é especialista nesta síndrome, e tem grupo de pesquisa com médicos brasileiros.
Me deram várias razões pra fazer ou não o teste, falaram sobre as implicações
caso eu tenha filhos, o que pode mudar na minha vida, o que isso quer dizer pra
minha família. Achei que eles me acharam muito controlada, porque falaram muito sobre o impacto emocional deste possivel diagnóstico. É que já sou
viajada! rs Eu já cheguei decidida a fazer o teste. Conhecimento é poder, gente!
Eu já estava aqui achando que tinha alguma coisa errada. Se esse teste dá negativo, que peso sai de mim! Se der positivo, vou repensar algumas coisas, ter certeza que sempre tenho um convênio danado de bom, vou decidir de vez a não ter filhos. Vou poder me cuidar, fazer exames
frequentes que possam dar conta de uma doença no começo.
Há 9 anos eu estava devastada pela
primeira vez, dando conta de uma vida estranha sem minha mãe. Hoje eu estava lá, tomando
as rédeas da vida, sabendo exatamente que monstro é este, que tamanho, que cor,
e criando estratégias para uma batalha que minha mãe, meu pai, e meu primo não tiveram
como vencer. Talvez eu nem tenha que lutar. Mas se tiver, será no ataque.
Quanto a mim, daqui 3 semanas eles me ligam com o resultado. Talvez seja um dia que eu
esteja na Disney com meu irmão, sendo feliz!
ATUALIZAÇÃO: Meu teste deu negativo! 😀😀😀
ATUALIZAÇÃO: Meu teste deu negativo! 😀😀😀
quarta-feira, 10 de maio de 2017
O que vai embora com ela
Há uma parte da minha vida que se foi para sempre, que carrega todos os momentos do futuro que nunca vão acontecer, todos os telefonemas, as lágrimas, os risos. Os conselhos, os puxões de orelha, os cortes de cabelo. Os desentendimentos, as surpresas. O dia das mães pertence a essa parte da minha vida. O mundo não te deixa esquecer que você deve celebrar com sua mãe. Mas ela se foi, e o dia também. Pela nona vez esta semana.
E o tempo é sim um amigo, embora traiçoeiro. O tempo cura a dor, que em vez de ser aquela ferida aberta que sangra sem parar, é agora uma cicatriz feia, que você não pode cobrir. Mas o tempo também te faz perceber a grandeza de tudo que realmente se foi com sua mãe. A lasanha no seu aniversário, a coxinha. O cuidado de quem te colocava em primeiro lugar. Uma rede, que não está mais lá se você cair. E não ter mãe dá uma ansiedade do caramba. Você NÃO pode cair. Não pode ficar doente e precisar de alguém cuidando de você por mais de 2 dias. Não pode perder o emprego. Não pode largar tudo e ir morar com ela.
Quando sua mãe se vai, você fica sozinho de uma maneira muito profunda. É um tipo de solidão existencial. Acompanhada da saudade reversa de tudo que não virá. Poderíamos ter tido ainda pelo menos 40 outros anos. Que saudade do que não viveremos! Não terão mimos que eu compraria pra pra ela. Não terão nossas viagens. Não terei eu contando o que eu fiz, ou vi. Não terá ela me dizendo que tudo ficará bem. Não terá nós duas, envelhecendo, e mudando de opinião com o mundo, e recriando jeitos de ser mãe e filha. Não terá ela virando avó no dia em que eu virar mãe.
Há uma parte da minha vida que nem aconteceu, e já se foi, para sempre. E sinto uma saudade danada!
E o tempo é sim um amigo, embora traiçoeiro. O tempo cura a dor, que em vez de ser aquela ferida aberta que sangra sem parar, é agora uma cicatriz feia, que você não pode cobrir. Mas o tempo também te faz perceber a grandeza de tudo que realmente se foi com sua mãe. A lasanha no seu aniversário, a coxinha. O cuidado de quem te colocava em primeiro lugar. Uma rede, que não está mais lá se você cair. E não ter mãe dá uma ansiedade do caramba. Você NÃO pode cair. Não pode ficar doente e precisar de alguém cuidando de você por mais de 2 dias. Não pode perder o emprego. Não pode largar tudo e ir morar com ela.
Quando sua mãe se vai, você fica sozinho de uma maneira muito profunda. É um tipo de solidão existencial. Acompanhada da saudade reversa de tudo que não virá. Poderíamos ter tido ainda pelo menos 40 outros anos. Que saudade do que não viveremos! Não terão mimos que eu compraria pra pra ela. Não terão nossas viagens. Não terei eu contando o que eu fiz, ou vi. Não terá ela me dizendo que tudo ficará bem. Não terá nós duas, envelhecendo, e mudando de opinião com o mundo, e recriando jeitos de ser mãe e filha. Não terá ela virando avó no dia em que eu virar mãe.
Há uma parte da minha vida que nem aconteceu, e já se foi, para sempre. E sinto uma saudade danada!
terça-feira, 4 de abril de 2017
55 voltas no sol
A Terra já deu exatas 55 voltas no sol desde o dia que nasceu a primeira filha menina do seu Zé e da dona Benedita. E foi até acontecimento comum, na família da roça que tinha tanto filho e filha. E no cenário do mundo então, com milhões e milhões de pessoas, foi caso bem mesmo ordinário. Mas no livrinho da vida da Aline, do Tiago, e de um bocado mais de gente, aquele foi o dia de um milagre. Nasceu a menina de olhos grandes de jabuticaba, e ela cresceu meio que sofrendo, sem mãe, sem muito apoio, e meio que desamparada, se tornou um ser iluminado, daqueles que chamam por aí de "mãe". E ela fez do mundo um lugar melhor para algumas pessoas, e os deu amor, não em forma de palavras ou abraços, mas em forma de cuidado, zelo, e atenção. E lá pela volta número 46 foi o dia que mesmo parecendo qualquer outro, expirou-se a mágica. Como uma vela que se apaga. Como uma nuvem que tampa o sol. Como o trem que vai embora e nos deixa na estação. Acabou. E foi tanto amor que ele ficou, jogado por ai, em petálas lilás e estrelas cadentes. E hoje celebro com um sorriso o dia 4 de abril, o dia em que minha vida se tornou uma boa vida mesmo antes de eu nascer. O dia que chegou quem mudou o mundo, para um bocado de gente. E até a minha vez de dar a última volta no sol vou sentir saudades que nem cabem nesse universo.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2017
A hora em que os pontos se unem
(Trinity Church - Boston/Aline, 2016) |
É como ler um livro, ou ver um filme, e a historia não fazer sentido. Só entendemos a história no final, quando todos os pontos se juntam. Envolvidos em nosso sofrimento e dor que dura a vida toda, não conseguimos ver os pontos. Parece mesmo crueldade, tirar assim do convívio quem amamos tanto. Mas estão lá, todos os pontos, com começo, meio e fim, invisíveis ao nosso olhar. Até que chegue a nossa hora, unem-se os nossos pontos, e tudo faz sentido, e a historia se completa, e não há mais dor, só há paz e calma.
****************************
(Desculpas pelo texto com as piores conjugações da historia. Acho que desaprendi subjuntivo. É que falar do que expressa incerteza é dificil pra caramba. Um dia volto e corrijo.
terça-feira, 10 de janeiro de 2017
Quantas vidas se vive numa vida
Quando a gente olha pro passado, e é do tipo que sofre de esquecimento de detalhes, é bem como se lêssemos um livro ou assistíssemos um filme. E acontece uma experiência quase extra corporal, esquizofrênica, existencial, birutinha. A gente se vê, como se vê o outro, que tem um pouco da gente, que carregamos um pouco na gente, mas que não é bem 100% a gente. Uma coisa bem louca mesmo.
E a gente fica vermelho de ver as cenas mais estranhas da adolescência, e a vergonha quase explode quando o personagem varia entre um personagem e você mesmo. E acontece isso também com as cenas mais tristes: dá aquela vontade de chorar, e de repente o choro vira um rio porque não é só uma cena triste, CARAMBA, era você ali chorando no chão banheiro do hospital, e o mundo acabando. Sobrevivi isso ai mesmo?
Eu sonho muito, toda noite, e meus sonhos são tipo série: vem em temporadas. Cada temporada tem um tema, coisa de inconsciente falante pra compensar a quietude da pessoa aqui. Eu tenho uns sonhos em que estou na escola do ensino médio, e mistura as pessoas de lá, com as da faculdade, com gente dos EUA. Uma bagunça e mistureba que o sonho faz que eu não consigo fazer em pensamento porque eu ando achando que em cada lugar/década era uma Aline. E até pouco tempo atras eu achava que a faculdade tinha sido ontem, e o ensino médio tinha sido na vida passada. Que nada...
Achei umas fotos "antigas", la da metade dos anos 2000s. Me assustei com quem eu nem sabia que era: alegre, morena, loira, magra. Tímida, insegura. Me deu inveja daquela menina que quase não falava com estranhos, que não levantava a mão na faculdade, mas que tinha comidinha da mãe, riso do pai. Vi a Pitty, que hoje tem 9 anos e tem a carinha branca, cheia de pelinhos pretinhos. Quanta juventude! Queria falar pra aquela menina: eu sei que voce sabe do privilégio que tem. Muito bem! Mas curte mesmo! Abrace sua mãe, fale com seu pai, faça aquela pergunta na aula, converse com os professores. Tome vergonha na cara, e deixe pra trás o que não compensa. Aprenda a cozinhar. Tire mais fotos com sua mãe. E guarde melhor na memória os momentos "comuns". Ficar na internet é legal, e ficar sozinha te faz bem. Mas tem coisa que a gente lembra anos depois, que quase sempre não são aqueles pensamentos seus com você mesma.
Menina, dizem que a gente só tem uma vida. É mentira! A sua está quase acabando, e logo começa a minha. Vou prestar mais atenção aqui também, porque quando a minha acabar, quero passar o bastão pra Aline do futuro ser feliz.
E a gente fica vermelho de ver as cenas mais estranhas da adolescência, e a vergonha quase explode quando o personagem varia entre um personagem e você mesmo. E acontece isso também com as cenas mais tristes: dá aquela vontade de chorar, e de repente o choro vira um rio porque não é só uma cena triste, CARAMBA, era você ali chorando no chão banheiro do hospital, e o mundo acabando. Sobrevivi isso ai mesmo?
Eu sonho muito, toda noite, e meus sonhos são tipo série: vem em temporadas. Cada temporada tem um tema, coisa de inconsciente falante pra compensar a quietude da pessoa aqui. Eu tenho uns sonhos em que estou na escola do ensino médio, e mistura as pessoas de lá, com as da faculdade, com gente dos EUA. Uma bagunça e mistureba que o sonho faz que eu não consigo fazer em pensamento porque eu ando achando que em cada lugar/década era uma Aline. E até pouco tempo atras eu achava que a faculdade tinha sido ontem, e o ensino médio tinha sido na vida passada. Que nada...
Achei umas fotos "antigas", la da metade dos anos 2000s. Me assustei com quem eu nem sabia que era: alegre, morena, loira, magra. Tímida, insegura. Me deu inveja daquela menina que quase não falava com estranhos, que não levantava a mão na faculdade, mas que tinha comidinha da mãe, riso do pai. Vi a Pitty, que hoje tem 9 anos e tem a carinha branca, cheia de pelinhos pretinhos. Quanta juventude! Queria falar pra aquela menina: eu sei que voce sabe do privilégio que tem. Muito bem! Mas curte mesmo! Abrace sua mãe, fale com seu pai, faça aquela pergunta na aula, converse com os professores. Tome vergonha na cara, e deixe pra trás o que não compensa. Aprenda a cozinhar. Tire mais fotos com sua mãe. E guarde melhor na memória os momentos "comuns". Ficar na internet é legal, e ficar sozinha te faz bem. Mas tem coisa que a gente lembra anos depois, que quase sempre não são aqueles pensamentos seus com você mesma.
Menina, dizem que a gente só tem uma vida. É mentira! A sua está quase acabando, e logo começa a minha. Vou prestar mais atenção aqui também, porque quando a minha acabar, quero passar o bastão pra Aline do futuro ser feliz.
Há apenas 12 anos...
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