Quando arrumo a casa, quando estudo, quando vejo meu irmão estudando, fazendo planos, quando faço planos, quando vejo meu pai varrendo o quintal e arrumando as contas, fico bem, sinto uma paz...
Acho bonito como a vida continua, sinto que somos fortes, apesar de um buraco imenso ter sido aberto na família e dentro de nós. O que passamos foi e está sendo muito duro...nas muitas idas ao hospital, nas esperas de exames, nas noites em que minha mãe não dormia, nas conversas angustiantes sobre morte que tínhamos com ela, na última semana quando nos deparamos com a realidade de que não havia muito tempo e iríamos perdê-la, na ausência dela em nossa casa, na visita ao cemitério, tudo muito triste! São situações que sempre me desesperei em pensar acontecer com a gente, mas aconteceu, e ainda estamos vivendo. Agora sinto que consigo enfrentar quase tudo na vida, consigo ver menos problemas nas pequenas coisas, e não tenho mais tantas ilusões. Ainda acredito que temos momentos muito bons, dá para ser feliz, mas ninguém está livre de nada, nada! E tudo tem um fim, temos que aproveitar tudo mesmo, tudo tem seu tempo de ser, e desperdiçar isso com coisas sem importância só nos faz perder chances...Clichê né? Na verdade assim sempre pensei, mas só agora sinto assim...
Hoje estou bem. Sei que minha mãe temia que nós não fôssemos para frente se ela fosse embora, então ficar bem é necessário, me faz sentir que vivo por ela.
Mas sei que por muito tempo vai ser duro sentir sua ausência. Sempre que fico triste e choro é de pensar que há tão pouco tempo tudo estava tão bem, e ninguém poderia imaginar o que aconteceria...
É duro saber que não adianta chorar, nada vai mudar...
Agora sei o que realmente é sentir saudades, dói, e só vai acabar quando for a minha vez...O tempo ajuda a convivermos com isso, a por os verbos no passado...
O mais estranho é sentir que ela só existe dentro de nós...
(PS. Vou continuar a contar tudo que aconteceu, cronologicamente...Não estou achando tempo, mas quero fazer isso...Logo posto de novo)
domingo, 28 de setembro de 2008
sábado, 20 de setembro de 2008
Quem a ensinou a ser mãe?
Quase todas as noites sonho com a morte da minha mãe. Já sonhei muito com alguém vindo me contar que ela estava morta e eu dizendo que já sabia. Mas por duas vezes sonhei com ela viva. Viva, depois da morte. E nas duas vezes, embora a situação e o cenário fossem diferentes, o conteúdo foi o mesmo: contei para ela como foi seu velório. Fiquei pensando na razão disso, por que sonhar com isso duas vezes? Cheguei a conclusão que sonho com isso pois queria muito que minha mãe visse quantas pessoas estavam lá, e como poucos acreditavam no que tinha acontecido... Queria que ela se sentisse querida.
Minha mãe e seus irmãos tiveram uma história de vida muito triste. A mãe deles morreu muito jovem, 30 e poucos anos. Minha mãe tinha apenas 7 anos. Dos 7 aos 22 anos, a idade com que se casou, minha mãe não teve uma casa para chamar de sua. Na última semana de Maio, já na casa da minha tia em São Paulo, deitei ao lado da minha mãe na cama, com a luz apagada e ficamos conversando muito tempo, pela madrugada. Ela me falou que não havia se perguntando o porquê de sua doença, pois não era melhor que ninguém. Podia acontecer com qualquer um, por que não com ela? Mas ela estava tentando ver propósito naquilo. Se não existe um porquê, existe um para quê? Ela começou a me contar sua história, grande parte eu já sabia, mas ela acrescentou alguns fatos novos para mim.
Minha avó materna morreu muito jovem, deixando 7 filhos, todos ainda crianças. Logo meu avô se casou, com uma mulher que, embora hoje tenha um bom relacionamento com os enteados, (claro) não cuidou deles como uma mãe faria. Os irmãos mais novos de minha mãe, que eram praticamente bebês, foram morar com pessoas da família que os criaram quase como filhos. Os mais velhos ficaram e passaram por coisas bem ruins. Minha mãe, quase que por acaso, aos 11 anos, foi morar com uma família desconhecida, trabalhando para eles como empregada doméstica. Teve que sair da escola, na quarta série. Ela sempre me disse que chorou muito quando não pôde mais estudar. Por isso sempre incentivou muito que eu e meu irmão estudássemos. As pessoas da tal casa falavam que ela era da família, mas ela não participava de festas e comemorações, só ficava na cozinha trabalhando. Ela nunca ganhou salário, embora tenha se surpreendido quando saiu de lá com uma quantia em dinheiro que a mulher da casa guardou para ela durante os anos. Às vezes ela queria passar o final de semana na casa de seu pai ou de seu avô, mas todos já cuidavam de muita gente, já havia irmãos seus nesses lugares, e ela não era bem vinda...
Na madrugada em que conversamos, minha mãe me contou alguns acontecimentos pelos quais passou que mostram nitidamente como ela se sentiu sem família por um tempo, mostram como ela não tinha praticamente ninguém que se dedicasse a ela, como lhe faltou uma mãe! Coisas que só mãe faria, ela não teve...
Quando ela começou a namorar meu pai, teve que sair da casa da família em que morava, porque “era responsabilidade demais” ter uma “menina solteira em casa namorando”. Por intermédio de algumas pessoas, como seu avô e dois tios, ela passou um tempo na casa de seus avos, até casar.
Naquela madrugada ela me disse que começou a ser feliz depois que casou, quando teve uma casa para chamar de sua, para cuidar do seu jeito, quando começou a morar com alguém que a tratava bem. Ela poderia recomeçar, ter uma família.
Minha mãe estava tentando entender qual o sentido de agora, 23 anos depois, se ver com uma doença tão grave. Naquela madrugada eu fiquei muito triste, chorei e ela não percebeu porque a luz estava apagada. Que mundo injusto! Já não basta tudo que sofreu na vida, ainda tinha que passar por tudo que passou...Em Maio eu não sabia, mas hoje sei por quanto sofrimento e angústia ela ainda passaria antes de ir embora...
A mulher que cuidava da minha mãe morreu com câncer, logo depois que minha mãe se casou. Minha mãe foi um dia visitá-la enquanto ela estava doente, conversaram muito, a mulher pediu perdão por alguma vez ter deixado minha mãe triste, as duas choraram. Minha mãe me disse que naquela semana de Maio havia sonhado muito com ela, com essa mulher, pois se viu com o mesmo destino.
Quando minha mãe recontou sua história agradeci a Deus a chance que ele deu a mim, a meu irmão e a meu pai de tornarmos a história da minha mãe mais feliz. Minha família era feliz, mesmo quando tínhamos dificuldades, que Graças a Deus foram poucas. Sei que minha mãe trazia consigo muito ainda do que aconteceu em sua vida, mesmo que às vezes tentasse negar. O que mais a deixava triste na vida era perceber pequenas situações em que pudessem estar excluindo-a, mesmo hoje em dia. Lembro de várias vezes ela falar que tinha medo de envelhecer e ficar sozinha, de eu e meu irmão termos nossa vida e esquecermos dela. Nunca fizemos nada que demonstrasse que isso pudesse acontecer, mas sua história a fazia temer a solidão, mais que tudo.
Acho que já falei isso aqui...Todas as noites, desde meados de junho de 2008, depois de chegar do estágio ou da faculdade, eu dava banho na minha mãe. Tinha dias que eu estava muito cansada. E ela sempre estava me esperando chegar para ajudá-la. Mesmo cansada, eu ia ao banheiro com ela, às vezes me molhava inteira, às vezes meu braço doía de ficar segurando o chuveiro super potente da minha tia que massageava as costas da minha mãe por vários minutos...Mas eu pensava: “Quando alguém deu banho na minha mãe, mesmo quando ela era criança?” Nunca, tenho certeza! E eu ficava feliz em poder fazer isso com ela. Havia dias em que ela estava melhor e que com certeza ela conseguiria ir sozinha tomar banho, mas se sentia insegura. Hoje agradeço a Deus Ele ter me permitido ir todos os dias com ela. Todas as noites meu irmão fazia massagem nos pés da minha mãe, por vários minutos, e ela ficava com os olhos fechados e a boca em "formato de sorriso". No hospital, quando ficou internada em junho, ou quando fazia quimio ou tomava sangue, muitas vezes não era permitido que a acompanhássemos o tempo todo. Mas ela dava um jeito, conversava com uma enfermeira, fazia um charme (a gente brincava que ela seduzia os enfermeiros, pegando na mão, falando com voz de pena), e deixavam que a gente ficasse. Meu irmão, que teve férias em julho, ficou todos os dias ao lado da minha mãe. Ainda bem que pudemos fazer isso. Como é triste ver pessoas no hospital que não têm acompanhantes, mesmo quando é permitido! É triste ver mães, que se dedicaram tanto a seus filhos não terem, no momento em que mais precisavam, carinho e amor das pessoas que elas mais amavam...Vi muitas situações assim no hospital nessas semanas!
Eu queria que hoje minha mãe soubesse como ela está fazendo falta para tantas pessoas! Claro que ela sabia que essas pessoas a amavam, mas eu queria que ela tivesse uma certeza absoluta, uma certeza sem furos, sem pingo de dúvida. Por isso sonho com eu contando a ela do velório. É estranho falar, por mais triste que seja a situação: o velório foi bonito. Estava cheio! Foi na igreja, como ela gostaria, tenho certeza. Muitas pessoas hoje me falam como minha mãe era boa, como ela fazia diferença. Isso me deixa bem, me faz pensar muito no sentido de estarmos aqui, de vivermos, pensar no que realmente deixamos na Terra, o que vale a pena acumular. Minha mãe se foi, muito cedo, de maneira inesperada, mas deixou tanto, que vai ficar aqui dentro de nós, seus filhos, amigos, irmãos, tios, por muito e muito tempo.....
Pergunto-me como uma pessoa que não teve referência nenhuma de mãe conseguiu ser uma mãe tão única, tão sábia. Dedicou-se demais a nós. Se existe missão na Terra, a dela foi nos criar. Foi só os dois filhos saírem de casa, que ela se foi.
Minha mãe e seus irmãos tiveram uma história de vida muito triste. A mãe deles morreu muito jovem, 30 e poucos anos. Minha mãe tinha apenas 7 anos. Dos 7 aos 22 anos, a idade com que se casou, minha mãe não teve uma casa para chamar de sua. Na última semana de Maio, já na casa da minha tia em São Paulo, deitei ao lado da minha mãe na cama, com a luz apagada e ficamos conversando muito tempo, pela madrugada. Ela me falou que não havia se perguntando o porquê de sua doença, pois não era melhor que ninguém. Podia acontecer com qualquer um, por que não com ela? Mas ela estava tentando ver propósito naquilo. Se não existe um porquê, existe um para quê? Ela começou a me contar sua história, grande parte eu já sabia, mas ela acrescentou alguns fatos novos para mim.
Minha avó materna morreu muito jovem, deixando 7 filhos, todos ainda crianças. Logo meu avô se casou, com uma mulher que, embora hoje tenha um bom relacionamento com os enteados, (claro) não cuidou deles como uma mãe faria. Os irmãos mais novos de minha mãe, que eram praticamente bebês, foram morar com pessoas da família que os criaram quase como filhos. Os mais velhos ficaram e passaram por coisas bem ruins. Minha mãe, quase que por acaso, aos 11 anos, foi morar com uma família desconhecida, trabalhando para eles como empregada doméstica. Teve que sair da escola, na quarta série. Ela sempre me disse que chorou muito quando não pôde mais estudar. Por isso sempre incentivou muito que eu e meu irmão estudássemos. As pessoas da tal casa falavam que ela era da família, mas ela não participava de festas e comemorações, só ficava na cozinha trabalhando. Ela nunca ganhou salário, embora tenha se surpreendido quando saiu de lá com uma quantia em dinheiro que a mulher da casa guardou para ela durante os anos. Às vezes ela queria passar o final de semana na casa de seu pai ou de seu avô, mas todos já cuidavam de muita gente, já havia irmãos seus nesses lugares, e ela não era bem vinda...
Na madrugada em que conversamos, minha mãe me contou alguns acontecimentos pelos quais passou que mostram nitidamente como ela se sentiu sem família por um tempo, mostram como ela não tinha praticamente ninguém que se dedicasse a ela, como lhe faltou uma mãe! Coisas que só mãe faria, ela não teve...
Quando ela começou a namorar meu pai, teve que sair da casa da família em que morava, porque “era responsabilidade demais” ter uma “menina solteira em casa namorando”. Por intermédio de algumas pessoas, como seu avô e dois tios, ela passou um tempo na casa de seus avos, até casar.
Naquela madrugada ela me disse que começou a ser feliz depois que casou, quando teve uma casa para chamar de sua, para cuidar do seu jeito, quando começou a morar com alguém que a tratava bem. Ela poderia recomeçar, ter uma família.
Minha mãe estava tentando entender qual o sentido de agora, 23 anos depois, se ver com uma doença tão grave. Naquela madrugada eu fiquei muito triste, chorei e ela não percebeu porque a luz estava apagada. Que mundo injusto! Já não basta tudo que sofreu na vida, ainda tinha que passar por tudo que passou...Em Maio eu não sabia, mas hoje sei por quanto sofrimento e angústia ela ainda passaria antes de ir embora...
A mulher que cuidava da minha mãe morreu com câncer, logo depois que minha mãe se casou. Minha mãe foi um dia visitá-la enquanto ela estava doente, conversaram muito, a mulher pediu perdão por alguma vez ter deixado minha mãe triste, as duas choraram. Minha mãe me disse que naquela semana de Maio havia sonhado muito com ela, com essa mulher, pois se viu com o mesmo destino.
Quando minha mãe recontou sua história agradeci a Deus a chance que ele deu a mim, a meu irmão e a meu pai de tornarmos a história da minha mãe mais feliz. Minha família era feliz, mesmo quando tínhamos dificuldades, que Graças a Deus foram poucas. Sei que minha mãe trazia consigo muito ainda do que aconteceu em sua vida, mesmo que às vezes tentasse negar. O que mais a deixava triste na vida era perceber pequenas situações em que pudessem estar excluindo-a, mesmo hoje em dia. Lembro de várias vezes ela falar que tinha medo de envelhecer e ficar sozinha, de eu e meu irmão termos nossa vida e esquecermos dela. Nunca fizemos nada que demonstrasse que isso pudesse acontecer, mas sua história a fazia temer a solidão, mais que tudo.
Acho que já falei isso aqui...Todas as noites, desde meados de junho de 2008, depois de chegar do estágio ou da faculdade, eu dava banho na minha mãe. Tinha dias que eu estava muito cansada. E ela sempre estava me esperando chegar para ajudá-la. Mesmo cansada, eu ia ao banheiro com ela, às vezes me molhava inteira, às vezes meu braço doía de ficar segurando o chuveiro super potente da minha tia que massageava as costas da minha mãe por vários minutos...Mas eu pensava: “Quando alguém deu banho na minha mãe, mesmo quando ela era criança?” Nunca, tenho certeza! E eu ficava feliz em poder fazer isso com ela. Havia dias em que ela estava melhor e que com certeza ela conseguiria ir sozinha tomar banho, mas se sentia insegura. Hoje agradeço a Deus Ele ter me permitido ir todos os dias com ela. Todas as noites meu irmão fazia massagem nos pés da minha mãe, por vários minutos, e ela ficava com os olhos fechados e a boca em "formato de sorriso". No hospital, quando ficou internada em junho, ou quando fazia quimio ou tomava sangue, muitas vezes não era permitido que a acompanhássemos o tempo todo. Mas ela dava um jeito, conversava com uma enfermeira, fazia um charme (a gente brincava que ela seduzia os enfermeiros, pegando na mão, falando com voz de pena), e deixavam que a gente ficasse. Meu irmão, que teve férias em julho, ficou todos os dias ao lado da minha mãe. Ainda bem que pudemos fazer isso. Como é triste ver pessoas no hospital que não têm acompanhantes, mesmo quando é permitido! É triste ver mães, que se dedicaram tanto a seus filhos não terem, no momento em que mais precisavam, carinho e amor das pessoas que elas mais amavam...Vi muitas situações assim no hospital nessas semanas!
Eu queria que hoje minha mãe soubesse como ela está fazendo falta para tantas pessoas! Claro que ela sabia que essas pessoas a amavam, mas eu queria que ela tivesse uma certeza absoluta, uma certeza sem furos, sem pingo de dúvida. Por isso sonho com eu contando a ela do velório. É estranho falar, por mais triste que seja a situação: o velório foi bonito. Estava cheio! Foi na igreja, como ela gostaria, tenho certeza. Muitas pessoas hoje me falam como minha mãe era boa, como ela fazia diferença. Isso me deixa bem, me faz pensar muito no sentido de estarmos aqui, de vivermos, pensar no que realmente deixamos na Terra, o que vale a pena acumular. Minha mãe se foi, muito cedo, de maneira inesperada, mas deixou tanto, que vai ficar aqui dentro de nós, seus filhos, amigos, irmãos, tios, por muito e muito tempo.....
Pergunto-me como uma pessoa que não teve referência nenhuma de mãe conseguiu ser uma mãe tão única, tão sábia. Dedicou-se demais a nós. Se existe missão na Terra, a dela foi nos criar. Foi só os dois filhos saírem de casa, que ela se foi.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Um mês depois...
Hoje, dia 12 de setembro, faz um mês que não a vejo, que não falo com ela...Custo a acreditar que isso aconteceu, a acreditar que será assim sempre a partir de agora...
Não tem como continuar sendo como antes, não tem como eu ser a mesma pessoa...Simplesmente tenho agora uma nova vida...
Um dia as coisas mudam, mesmo o que a gente pensa ser mais estável possível...Não acredito ainda que foi com ela...
Saudades mamãe...
Não tem como continuar sendo como antes, não tem como eu ser a mesma pessoa...Simplesmente tenho agora uma nova vida...
Um dia as coisas mudam, mesmo o que a gente pensa ser mais estável possível...Não acredito ainda que foi com ela...
Saudades mamãe...
terça-feira, 9 de setembro de 2008
O começo da história...Até 20 de Maio
No dia 1 de maio, uma quinta-feira, fui para Cruzeiro, passar o feriado. Tudo estava muito bem. Bem demais. Eu estava em uma fase em que achava que o mundo estava ao meu alcance, só dependia de mim. Tudo estava dando certo: faculdade, estágio, planos...Meu irmão estava em São Paulo também, se virando com a nova vida. Fiquei em casa até domingo, dia 04 de maio. Lembro de ter percebido que minha mãe estava mais branca. Ela comentou comigo que estava com a digestão mais difícil, que comia um pouquinho e já se sentia cheia. Estava também arrotando, sem querer, depois de comer. Lembro de uma cena: eu estava vendo TV, ela estava ao lado do sofá, de pé, passando roupa. Estávamos conversando, e de repente ela me disse: "Olha Aline, arrotei de novo". Achou até engraçado, riu de si mesma. Não só eu, como outras pessoas, comentaram que ela estava mais branca. Minha hipótese era: meu irmão saiu de casa, minha mãe estava triste, e não tinha ânimo de cozinhar só para ela, já que meu pai almoçava no trabalho, logo estava anêmica. No sábado ou no domingo eu e ela fomos até a casa do meu avô, da tia Fabiana, da tia Valquiria. Lembro de nós estarmos no quarto da Fabiana e de eu comentar: "Olha como minha mãe está branca!". A Valquiria comentou que minha mãe estava mais desanimada, que não estava indo lá com a frequência que ia antes. Fiquei preocupada! Meu medo era minha mãe estar com depressão. Era apegada demais ao meu irmão, e ficar sem filho em casa era difícil para ela. Ela sempre fez tudo por nós, vivia em função de nós.
Antes desse primeiro de maio, fui para a casa no final de semana do dia 12 de abril. Minha prima Ellen de Passa Quatro se casou, e fomos até lá. Foi uma festa muito gostosa! A familia da minha mãe estava reunida, quase todos os irmãos, com seus filhos. Minha mãe estava 100%. Na semana seguinte ela comentou por telefone que tinha passado mal depois da festa, que comeu alguma coisa que não fez bem a ela. Bem, hoje sabemos que já era a doença mesmo, não foi nada que ela tenha comido. Desse dia em diante ela teve umas crises de diarréia, mas nada que causasse muita preocupação.
No dia 4 de maio, quando sai de casa para ir a rodoviária para voltar para São Paulo, disse a ela: "Mãe, vai ao médico e vê se come!". Falei também para a tia Sueli cuidar da minha mãe para mim. Por mais que ela falasse o contrário, eu tinha certeza que ela não estava se alimentando bem.
Depois desse dia, sempre que falava no telefone com ela eu perguntava quanto tempo ela estava dormindo, pensando que pudesse estar com depressão. Ela comentou no telefone que estava com o intestino mais preso que o normal. Mas sempre falava que estava bem. Sempre parecia haver uma razão para um mal estar.
Dia 11 de maio, foi dia das mães. Nem eu, nem meu irmão fomos para Cruzeiro. Isso é uma coisa que hoje me dá um certo aperto no coração, mas sei que ela entendeu o porque de não termos ido. Já tinhamos ida no ultimo final de semana, e logo teriamos outro feriado e uma semana inteira sem aula para ficar em casa. Falamos com ela por skype, pela câmera. Mandamos um cartão para ela, pelo computador, ela achou o máximo. Em Cruzeiro, fizeram um churrasco. Muitas pessoas me falaram que minha mãe estava linda no churrasco! Cortou o cabelo, e se maquiou (escondeu sua palidez) muito bem. Sempre ouvi comntários e sempre falei a ela também o quanto ela era bonita. Sua idade sempre foi encarada com surpresa quando alguém acabava de conhecê-la...
No dia 18 de maio eu e meu irmão conversamos por skype com meus pais de novo. Vimos pela câmera meu pai sentado na cadeira do computador e minha mãe deitada na cama, disse que não estava passando bem. Eu e meu irmão ficamos muito desconfiados que estivessem escondendo alguma coisa de nós. No dia seguinte, meu pai fez exames de sangue na minha mãe, que revelaram uma anemia profunda. Na terça, dia 20, ela foi ao médico. Antes disso, ela passou por médico de pronto atendimento, que lhe receitou remédio para má digestão. Quando fiquei sabendo que ela marcou médico mesmo, para ir e ver o que estava acontecendo, fiquei preocupada.
Na semana do dia 20 meu namorado foi em São Paulo me visitar, e logo que chegou me disse que iria me falar uma coisa que ainda não tinham me dito: minha mãe estava tão fraca que nem as escadas de casa ela estava conseguindo subir. Fiquei assustada porque realmente não tinha noção que estava nesse ponto sua fraqueza...
No dia 20, ela consultou. O médico pediu uma endoscopia, que foi marcada para o dia seguinte. Quando falei com ela por telefone na noite do dia 20, falei: "Ai mãe que medo de exames, medo de aparecer alguma coisa na endoscopia". Ela perguntou, tentando me tranquilizar: "Mas o que pode aparecer?". Eu falei com a voz bem baixa, quase não querendo pensar naquilo: "Ahh sei lá, tipo um tumor, não sei" .Ela logo falou: "Imagina Aline! Deve ser gastrite ou alguma coisa assim". UM TUMOR??? Como fui ingênua.....
(continua...)
------------------------------------------------------------------------
Hoje não foi um bom dia. Não sei se por ter ficado sozinha por muito tempo, por saudade do meu irmão...Senti um vazio maior que nos outros dias, uma sensação de desespero, de perceber que pouca coisa no mundo vale a pena...Acho que quem tem depressão deve se sentir assim, credo! (Aliás, eu sentir isso não quer dizer que estou com depressão. Depressão é quando essa sensação vem e te derruba, sem ter motivo aparente. Eu tenho motivo para sentir assim, e sinto isso por alguns minutos apenas). As 16h30 sair de casa, peguei o ônibus para ir para o estágio...Quando cheguei na Av. Paulista, desci do ônibus. Olhei um tempo para a direção do hospital onde minha mãe se tratou, na Dr Arnaldo, senti vontade de ir lá, mas não dava tempo. Então fiz todo o percurso da Paulista que ainda faria de ônibus andando, da Consolação até a Brigadeiro...Fiquei olhando as pessoas, as lojas, os ônibus, os prédios. A vida realmente estava ali, em todos os lugares. As pessoas estavam vivendo, e tenho certeza que metade das pessoas com quem cruzei tinham algum motivo para ficar triste, mas estavam vivendo...Senti por diversas vezes que estava chorando, mas não tinha lágrimas, era só desespero...Me perguntei diversas vezes hoje POR QUE. Sei que a gente não deve perguntar isso, mas não consigo entender a razão disso tudo que aconteceu. Minha mãe sempre foi o que eu tinha de mais firme e concreto na vida, era uma base sempre segura. Achava que ela viveria muito: se alimentava bem, dormia bem, não corria grandes riscos na vida, sempre muito cuidadosa, nunca nunca nunca tinha a visto doente. De repente tudo se foi muito rápido...Fico pensando em como ela deve ter ficado preocupada sentindo que estava morrendo, pensando em que faríamos sem ela (acho que ela não sentiu isso, mas quem sabe né?). A vida com ela seria muito mais suave...
Chegando na Av Brigadeiro, já me sentia melhor...
Sei que este blog me expõe um pouco, mas preciso dele. Depois de escrever aqui me sinto bem melhor, bem mesmo!
Antes desse primeiro de maio, fui para a casa no final de semana do dia 12 de abril. Minha prima Ellen de Passa Quatro se casou, e fomos até lá. Foi uma festa muito gostosa! A familia da minha mãe estava reunida, quase todos os irmãos, com seus filhos. Minha mãe estava 100%. Na semana seguinte ela comentou por telefone que tinha passado mal depois da festa, que comeu alguma coisa que não fez bem a ela. Bem, hoje sabemos que já era a doença mesmo, não foi nada que ela tenha comido. Desse dia em diante ela teve umas crises de diarréia, mas nada que causasse muita preocupação.
No dia 4 de maio, quando sai de casa para ir a rodoviária para voltar para São Paulo, disse a ela: "Mãe, vai ao médico e vê se come!". Falei também para a tia Sueli cuidar da minha mãe para mim. Por mais que ela falasse o contrário, eu tinha certeza que ela não estava se alimentando bem.
Depois desse dia, sempre que falava no telefone com ela eu perguntava quanto tempo ela estava dormindo, pensando que pudesse estar com depressão. Ela comentou no telefone que estava com o intestino mais preso que o normal. Mas sempre falava que estava bem. Sempre parecia haver uma razão para um mal estar.
Dia 11 de maio, foi dia das mães. Nem eu, nem meu irmão fomos para Cruzeiro. Isso é uma coisa que hoje me dá um certo aperto no coração, mas sei que ela entendeu o porque de não termos ido. Já tinhamos ida no ultimo final de semana, e logo teriamos outro feriado e uma semana inteira sem aula para ficar em casa. Falamos com ela por skype, pela câmera. Mandamos um cartão para ela, pelo computador, ela achou o máximo. Em Cruzeiro, fizeram um churrasco. Muitas pessoas me falaram que minha mãe estava linda no churrasco! Cortou o cabelo, e se maquiou (escondeu sua palidez) muito bem. Sempre ouvi comntários e sempre falei a ela também o quanto ela era bonita. Sua idade sempre foi encarada com surpresa quando alguém acabava de conhecê-la...
No dia 18 de maio eu e meu irmão conversamos por skype com meus pais de novo. Vimos pela câmera meu pai sentado na cadeira do computador e minha mãe deitada na cama, disse que não estava passando bem. Eu e meu irmão ficamos muito desconfiados que estivessem escondendo alguma coisa de nós. No dia seguinte, meu pai fez exames de sangue na minha mãe, que revelaram uma anemia profunda. Na terça, dia 20, ela foi ao médico. Antes disso, ela passou por médico de pronto atendimento, que lhe receitou remédio para má digestão. Quando fiquei sabendo que ela marcou médico mesmo, para ir e ver o que estava acontecendo, fiquei preocupada.
Na semana do dia 20 meu namorado foi em São Paulo me visitar, e logo que chegou me disse que iria me falar uma coisa que ainda não tinham me dito: minha mãe estava tão fraca que nem as escadas de casa ela estava conseguindo subir. Fiquei assustada porque realmente não tinha noção que estava nesse ponto sua fraqueza...
No dia 20, ela consultou. O médico pediu uma endoscopia, que foi marcada para o dia seguinte. Quando falei com ela por telefone na noite do dia 20, falei: "Ai mãe que medo de exames, medo de aparecer alguma coisa na endoscopia". Ela perguntou, tentando me tranquilizar: "Mas o que pode aparecer?". Eu falei com a voz bem baixa, quase não querendo pensar naquilo: "Ahh sei lá, tipo um tumor, não sei" .Ela logo falou: "Imagina Aline! Deve ser gastrite ou alguma coisa assim". UM TUMOR??? Como fui ingênua.....
(continua...)
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Hoje não foi um bom dia. Não sei se por ter ficado sozinha por muito tempo, por saudade do meu irmão...Senti um vazio maior que nos outros dias, uma sensação de desespero, de perceber que pouca coisa no mundo vale a pena...Acho que quem tem depressão deve se sentir assim, credo! (Aliás, eu sentir isso não quer dizer que estou com depressão. Depressão é quando essa sensação vem e te derruba, sem ter motivo aparente. Eu tenho motivo para sentir assim, e sinto isso por alguns minutos apenas). As 16h30 sair de casa, peguei o ônibus para ir para o estágio...Quando cheguei na Av. Paulista, desci do ônibus. Olhei um tempo para a direção do hospital onde minha mãe se tratou, na Dr Arnaldo, senti vontade de ir lá, mas não dava tempo. Então fiz todo o percurso da Paulista que ainda faria de ônibus andando, da Consolação até a Brigadeiro...Fiquei olhando as pessoas, as lojas, os ônibus, os prédios. A vida realmente estava ali, em todos os lugares. As pessoas estavam vivendo, e tenho certeza que metade das pessoas com quem cruzei tinham algum motivo para ficar triste, mas estavam vivendo...Senti por diversas vezes que estava chorando, mas não tinha lágrimas, era só desespero...Me perguntei diversas vezes hoje POR QUE. Sei que a gente não deve perguntar isso, mas não consigo entender a razão disso tudo que aconteceu. Minha mãe sempre foi o que eu tinha de mais firme e concreto na vida, era uma base sempre segura. Achava que ela viveria muito: se alimentava bem, dormia bem, não corria grandes riscos na vida, sempre muito cuidadosa, nunca nunca nunca tinha a visto doente. De repente tudo se foi muito rápido...Fico pensando em como ela deve ter ficado preocupada sentindo que estava morrendo, pensando em que faríamos sem ela (acho que ela não sentiu isso, mas quem sabe né?). A vida com ela seria muito mais suave...
Chegando na Av Brigadeiro, já me sentia melhor...
Sei que este blog me expõe um pouco, mas preciso dele. Depois de escrever aqui me sinto bem melhor, bem mesmo!
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
Recontar, elaborar, tirar de dentro de mim...
A partir do próximo post vou contar o que aconteceu desde 23 de maio de 2008. Fiz este blog com o intuito de contar uma história completa, mas a falta de tempo e a angústia que me acompanharam nesse período não deixaram que isso acontecesse. Agora sinto a necessidade de relembrar esses dias, de escrever sobre eles, e enquanto tento organizar o que escrevo, organizo um pouco em mim...
Estou bem, estranhamente bem...De minuto em minuto, não importa o que eu esteja fazendo (posso estar rindo...), lembro de tudo, passa uma nuvem sobre mim, dá uma sensação de vazio, mas me esforço muito para me distrair, e “quase” esqueço...Fico mal quando me vêm lembranças dos acontecimentos desses 3 meses, porque ainda estão confusos. Por isso quero escrever...
Quando eu pensava na possibilidade que tudo isso desse errado, eu achava que se eu perdesse minha mãe eu iria ficar uma semana sem sair da cama, que iria desistir de tudo, mas ela foi uma mãe muito especial! Deixou tanto tanto tanto dela em nós, que temos força para continuar, para saber que ela não queria que desistíssemos de nada (ela falou isso por diversas vezes enquanto estava doente...). As vezes me sinto estranha, me pergunto como posso estar vivendo depois de tudo isso. Mas logo me vem a certeza que se estou assim hoje é por ela! Ela sempre foi forte, nunca se entregou...Minha mãe e seus irmãos têm uma história muito triste de vida (outro dia conto isso aqui, conto sobre uma madrugada de junho em que minha mãe revisitou sua história comigo para tentar achar sentido na sua doença...), perderam a mãe muito cedo! Minha mãe sofreu muito na vida sem mãe, e ela foi em frente! Ela acreditava muito em mim e em meu irmão, acreditava que podíamos ir muito longe...Não tenho escolha! Tenho que ir em frente, mesmo que a saudade que sinto dela aumente a cada dia...Uma saudade que dói muito...
Agradeço a todos que estão lendo este blog. Escrevo para que leiam mesmo. Tudo isso é tão grande e forte que sinto vontade de contar para todo mundo o que eu sinto, o que aconteceu, e o blog me ajuda nisso...
Estou bem, estranhamente bem...De minuto em minuto, não importa o que eu esteja fazendo (posso estar rindo...), lembro de tudo, passa uma nuvem sobre mim, dá uma sensação de vazio, mas me esforço muito para me distrair, e “quase” esqueço...Fico mal quando me vêm lembranças dos acontecimentos desses 3 meses, porque ainda estão confusos. Por isso quero escrever...
Quando eu pensava na possibilidade que tudo isso desse errado, eu achava que se eu perdesse minha mãe eu iria ficar uma semana sem sair da cama, que iria desistir de tudo, mas ela foi uma mãe muito especial! Deixou tanto tanto tanto dela em nós, que temos força para continuar, para saber que ela não queria que desistíssemos de nada (ela falou isso por diversas vezes enquanto estava doente...). As vezes me sinto estranha, me pergunto como posso estar vivendo depois de tudo isso. Mas logo me vem a certeza que se estou assim hoje é por ela! Ela sempre foi forte, nunca se entregou...Minha mãe e seus irmãos têm uma história muito triste de vida (outro dia conto isso aqui, conto sobre uma madrugada de junho em que minha mãe revisitou sua história comigo para tentar achar sentido na sua doença...), perderam a mãe muito cedo! Minha mãe sofreu muito na vida sem mãe, e ela foi em frente! Ela acreditava muito em mim e em meu irmão, acreditava que podíamos ir muito longe...Não tenho escolha! Tenho que ir em frente, mesmo que a saudade que sinto dela aumente a cada dia...Uma saudade que dói muito...
Agradeço a todos que estão lendo este blog. Escrevo para que leiam mesmo. Tudo isso é tão grande e forte que sinto vontade de contar para todo mundo o que eu sinto, o que aconteceu, e o blog me ajuda nisso...
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