"Não se esqueça da sua mãe". Tem sido assim, emails e mais emails. Quase fiquei brava. Sabe, eu tento disfarçar, tento seguir, até consigo. Sou essa dor, mas sou também essa força. Mas ai vem vocês, assim, me lembrando do buraco de dimensões infinitas. Eu não me esqueci.
Ah, eu a procuro, em todo lugar.
Posso ser feliz? Apenas nos dias cotidianos, comuns, insignificantes. Num dia especial, cade você? E passam rápido, em 3 segundos, cenas desse filme: infância, quintal, abacateiro, cachorrinhos, arroz e feijão, olhar com disciplina, palavras de amor, reunião da escola, paredes pintadas, sorriso orgulhoso, descontos, lasanha, coxinha, ônibus, marmitinha, hospital, bolsinhas de sangue, bolsinhas de quimio, macas, olhar triste, olhar assustado, palavras sem nexo, sono, silêncio.
Silêncio. Silêncio.
Nos dias cinzas, lágrimas, que duram menos, mas ainda duram. Quase 8. De tanto silêncio. Você me pediria para parar. "É...é a vida". "Olha eu e meus irmãos? Foi assim, tão cedo, tão mais cruel". Talvez me olharia com aquele olhar desconcertado que me olhou quando chorei por horas quando não passei no meu primeiro vestibular. "Agora você estuda, tem tempo de tirar a carteira, passa mais um ano aqui". Ah foi mais um ano com você.
Nos dias de sol, nuvens lindas, céu azul. Flores. Cade você? Em tudo isso. "De volta a atmosfera com gotas de Jupiter em seus cabelos, ela age como verão, e anda como a chuva". Olhos perdidos, sorriso tímido com a boca fechada, brava, ciumenta, forte, fala alto, diplomas, "como é bom dormir". Cade você? Em mim. Na pétala que acabou de nascer, e na que acabou de cair. No bebê que riu na estação. Naquela música nova. Quando durmo. No Japão, em Roma, em Lisboa. "Sua mãe mora em SP?" Não, mas não se sinta mal. Gosto de dizer, ela mora em todos os lugares. E ela vê tudo isso, os dias de chuva e os dias de sol. E ela se orgulha, dos dois.
Que texto bonito, como os outros.
ResponderExcluirMuita sensibilidade e verdade e poesia.
Adoro passar por aqui!