quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Falar sobre a morte

As pessoas não gostam de falar sobre a morte, o que me soa bem estranho. A unica coisa que com certeza absoluta vai acontecer com todo mundo é morrer, e ninguem quer falar sobre isso. Me deparo sempre com situacoes em que alguem me pergunta sobre meus pais, e nao sei ao certo o que dizer. Nao que o assunto me deixe triste ou que nao gosto de falar sobre isso, mas tenho medo da reacao da pessoa. Quase sempre quando digo que meus pais faleceram as pessoas param de falar ou pedem desculpa. Com o passar do tempo acho que meu tom ficou mais neutro ao falar sobre isso, nao choro nem nada. Mas as pessoas ainda assim estranham. As vezes, confesso, até gosto quando o assunto vem a tona, porque me sinto a vontade falando sobre isso, e gosto de entender como as pessoas reagem. Acho que as pessoas deviam se sentir mais comfortaveis falando sobre a morte.

Os ultimos dias nao tem sido faceis por conta das diversas datas desses dias de agosto. Hoje faz 7 anos da morte da minha mae. Para quem nunca perdeu uma pessoa de tao perto pode ate parecer tempo demais para ficar lembrando. O negocio é que acho que nunca é tempo demais. É sempre uma dor que te acompanha, que faz parte de voce, forma sua identidade, que dói mais em alguns dias que outros. Eu sempre posto coisas no facebook relacionadas a meus pais. Quando é aniversario, quando é alguma data importante. Acho que me ajuda a lidar com o luto, uma mencao de lembrancas, uma manifestacao publica que faz deles um pouco vivos. Mas comecei a ficar um pouco encanada com o que as pessoas podem pensar. Dizem que todo mundo tem uma personalidade em redes sociais, que postam coisas sempre repetidas. Meus posts repetidos sao sobre meus pais e suas mortes.

No meu mundo ideal isso seria ok. Acho que pra gente ser mesmo feliz a gente tem que entender e aceitar mudancas, e vejo muita gente sofrendo por nao saber lidar com isso. As coisas mudam, relacionamentos acabam, pessoas (e animais) morrem, projetos sao finalizados e outros se iniciam, a gente muda de trabalho. Existe uma luta para manter as coisas no lugar, que quase sempre é batalha perdida. Isso é dificil pra mim tambem. Gosto de rotina, de continuar fazendo a mesma coisa, de calmaria e continuacao. Mas a vida é as vezes furacao.

É dificil pensar e entender que a gente tambem vai morrer. Eu nunca tive medo de morrer, nem de ficar doente. As pessoas dizem que gostariam de morrer de repente, sem dor. Eu nao! Quero aviso, quero colocar ordem nas coisas. Tambem quero que nao aconteça tao cedo, porque no fim eu gosto disso aqui. Apesar dos pesares. Me admira nossa força. Eu sei que nós somos fortes pra lidar com as mais diversas situacoes, tragedias, festas, mudancas, pobreza, riqueza. Mesmo o inesperado. Mas isso ainda me da um pouco de medo. Tenho medo de perdas inesperadas. Tenho medo tambem de eu me tornar uma perda inesperada rs. Nao que eu me ache importante, mas pelo menos duas pessoas nesse mundo sentiriam muito a minha ausencia (quem serão? rs). Hoje eu estava pensando nisso: ja conversei com as pessoas sobre minha propria morte? Acho que ja falei com meu irmao, porque a gente nao tem medo desse assunto. Gosto da ideia de cremacao, nao ocupa espaco, e é mais facil ser "repatriada". Posso ter um pouquinho aqui nos EUA, um pouquinho espalhado onde meu pai esta, um pouquinho onde minha mae esta, um pouquinho na minha casa em Cruzeiro.  Espero que quando isso acontecer eu nao tenha muitos bens, que eu tenha gasto meu dinheiro com viagens pra conhecer o mundo e rever pessoas queridas, com comidas boas, com coisas que tragam boa energia!

Achou mórbido? Talvez. Acho que falando sobre a morte a gente pensa mais na vida.

Minha mãe, nos momentos de estresse domestico, quando a gente a deixava mais estressada com bagunça em casa ou algo assim, ela sempre dizia: "quando eu estiver embaixo da terra, vocês vai sentir minha falta". Era mais uma expressao, do que um sentimento real, uma expressao que era ate um pouco engracada. Hoje pensando nisso eu sei que nunca eu achei que aquilo iria acontecer, sério. Era uma ingenuidade tao grande! Quando meu pai ficou doente eu ja estava mais que calejada, nao foi surpresa. Mas a morte de 7 anos atras, abriu meus olhos para um mundo "novo". Mais cinza, mais duro, com doencas, quimioterapias, dores, saudades, buraquinhos no coração, distancias. E não é esse o nosso mundo? Também é o mundo com passarinhos, abraços, pessoas interessantes, onde minha incrivel mae existiu e me fez tornar gente, um mundo com esperança e amor, sonhos que se realizam, onde existem tantos encontros incríveis, e coincidências providenciais. E não é esse o nosso mundo?




Um comentário:

  1. Sim... Este é o nosso mundo! Mais uma vez, lindo texto!
    Abçs!
    Mara

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