sábado, 8 de agosto de 2015

Cemitérios são para os vivos

Ano passado um professor recomendou que nós alunos fossemos conhecer o cemitério Mt Auburn, que fica uns 20 minutos andando de Harvard. Ele nos contou que foi la que, décadas atras, ele dava passeios longos com quem viria a se tornar sua esposa. Ele disse que alem de ser um lugar lindo, era também uma grande “lição de finitude”, que nós devíamos aprender. Por dentro, eu ri. Ja estava tao cansada das tais lições de finitude dessa vida.

Hoje, quase um ano depois, resolvi conhecer o cemitério. Os últimos dias tem sido estranhos, é agosto. Tem aniversario do meu pai, dia dos pais no Brasil, e aniversario de 7 anos da morte da minha mãe. Eu sempre lembro desses dias de agosto de 2008, tao tristes, angustiantes, cheio de simbolismos estranhos. O tempo passa, e sinto minha mae se tornando cada vez mais uma memoria. Parece que aquela vida que eu tinha quando ela estava aqui era uma outra vida. Parece tao longe! A ultima vez que conversei por um longo tempo com ela, foi sua ultima noite fora do hospital. Ela tinha piorado, eu sabia que estava chegando a hora. Deitei na cama do lado dela, e ela me contou partes da sua vida por horas. Me contou sobre como tinha sido infeliz ate casar com meu pai, como ele melhorou a vida dela. Ela que não teve mãe, aprendeu a ser mãe, e gostava demais. Minha mãe foi a pessoa que mais me influenciou, mas a cada ano tenho mais anos sem ela.  

Resolvi ir ao cemitério para ter lições de humanidade. Eu sei que eu ja aprendi a licao que tristeza faz parte da vida, que algumas memórias felizes as vezes ficam meio tristes e viram saudade (pra quem viu Divertidamente/Inside Out, as memórias felizes que eram tocadas pela tristeza tinham que se chamar “saudade”!!!). Mas as vezes ainda me pego me achando sozinha nessa dor. A verdade é que morrer é uma certeza. É a parte mais real do que nos faz parte desse mundo, e todas as criaturas viventes. Mas a lição que eu fui aprender é que o peso do significado que coloco nesse luto é parte do que nos faz humanos. Nós criamos os cemitérios, nós remoemos memórias, nós nunca esquecemos quem morre, nós amamos pra sempre quem agora só aparece nos sonhos. No lindo cemitério que conheci hoje vi muitas lapides, que ao invés de ter nomes, dizia apenas Mother ou Father, muitas delas lado a lado. Ao longo dos anos, desde 1831, ao se deparar com a morte de um pai ou mãe, alguém quis que eles fossem lembrados não por nomes, mas pelo maior papel que eles tiveram em vida: ser pais. Um lugar lindo, onde a única coisa que restou foi amor.












“Perhaps we become accustomed to our grief and, as it becomes increasingly familiar, increasingly part of the emotional landscape, it becomes a dullness. But there is no closure, no forgetting. One mourns those one has loved who have died until one joins them. It happens soon enough.” 
-David Rieff

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