terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Agora pode ser lindo, mesmo com todo o cinza



                Sonhei que estava em uma excursão, num lugar montanhoso. Era uma mistura da Capadócia (claro, veio da novela Salve Jorge haha) com o Grand Canyon (o livro que eu estou lendo fez alguma referência às montanhas americanas).

                O lugar era lindo, mas eu estava cansada. Queria ir embora. Não me lembro exatamente qual grupo estava comigo, mas tenho a sensação de que eram pessoas conhecidas. E fiquei muito irritada quando alguém disse que ainda faltava um último lugar para visitarmos. Talvez durante o dia de hoje eu me lembre do nome desse lugar, porque no sonho o nome era repetido, toda hora, todo tempo. Era um nome meio grego. Era um nome muito parecido com a palavra AGORA. Talvez não fosse exatamente isso, mas o fato de eu me lembrar desta exata palavra, quer dizer alguma coisa.

                Entramos numa caverna, um lugar feito de mármore. Passamos por uma passagem muito estreita, alguns degraus cortados geometricamente, e chegamos num lugar que não consigo descrever, mas vou tentar. Um lugar aberto, todo meio cinza. Acho que tinha um lago. Mas a parte linda da paisagem era o céu. Não era azul, não era claro. Era preto, cinza e branco. E do céu vinham feixes de luz e uma música, e as nuvens passavam muito rápido com o vento. Escutei alguém dizer que a lua estava linda, mas eu não vi a lua. A sensação que eu tive ao olhar para o céu foi indescritível. E eu comecei a chorar. E escutei outras pessoas chorando. E abracei pessoas ali que eu não me lembro quem eram. Eu só pensava em como aquele era o lugar mais bonito do mundo, e em como qualquer um que chegasse ali acharia lindo e choraria de emoção.

                Sai do lugar, não me lembro pra onde fui. Mais coisas aconteceram, não me lembro.

                Mas ao escrever aqui, e depois de pensar um pouco, consigo ver muito significado neste sonho. Nas ultimas semana tenho estado chateada demais com minha estadia no Brasil. Eu planejei por muito tempo, que viria pra cá, passaria algum tempo em Cruzeiro, algum tempo em São Paulo. Veria amigos, familia, passearia com meu pai e irmão. Já tinha feito um pacto comigo de aproveitar cada segundo para ver pessoas. Mas as coisas acontecem fora do nosso controle.

                Meu pai está doente, fiquei sabendo uma semana antes de eu vir. Não vou embora no dia 7 de fevereiro, como planejado. Não sei quando vou embora. Estamos indo em hospitais, fazendo exames. Ainda não sei o que vai acontecer, mas a melhor opção seria um tratamento demorado e sofrido. A outra opção seria uma repetição do que aconteceu com minha mãe. Uma situação incerta. Muitas angústias. E minha sensação é de que a situação não é nada boa.

                Por conta dessa situação, essa incerteza, a mudança de planos total do que eu faria aqui e do que eu faria neste semestre nos Estados Unidos, uma adaptação as coisas daqui, as últimas semanas não foram fáceis. Não consegui ver ninguém. Minha vontade de conversar estava zero. Passei muitos dia em casa, martelando minha vida, sozinha. Meu interesse em outras pessoas foi embora, estava muito afundada em mim mesma.  

                Mas no último final de semana as coisas começaram a mudar. Não sei porque, mas comecei a ser mais positiva. Passei mais tempo com família, já marquei de ver amigos. E ai vem esse sonho.

                Acho que o sonho é sobre aproveitar AGORA. Sobre como existem coisas bonitas, mesmo neste momento tão estranho. Como aproveitar aqui, Cruzeiro, minha casa, meu pai, é o que eu devo fazer. Preocupar-se demais com o futuro e o que ele vai trazer nos impossibilita de ver o que há de bom agora, mesmo que não seja muita coisa. Existem coisas belas mesmo nas nuvens cinzas. Até acho que existe muita poesia no medo da morte, na sensação tão gritante de finitude de tudo que me rodeia, que fica me assombrando todo dia.    
                A vida é curta mesmo. Eu já devia ter aprendido a dar valor ao que tenho hoje, e nada mais. AGORA pode ser lindo, mesmo com todo o cinza.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Sobre o peso do passado nos objetos



               
                Meus pais construiram esta casa do chão. Em 1994 nos mudamos para cá, com a sala, a cozinha, um banheiro e um quarto prontos. Por algum tempo, meus pais, meu irmão e eu dormiamos no mesmo cômodo. Até que a escada e um quarto foram construidos, e meus pais se mudaram para lá. Depois mais um quarto, para onde eu e meu irmão nos mudamos. Depois, com os três quartos prontos, cada um já tinha seu cantinho. Depois de todos os cômodos já habitados, ainda faltavam muitos detalhes. Eu dormia sob telhas. E o chão era só cimento. Depois de alguns anos, colaram piso e os forros de madeira. Cresci numa casa em construção!
                A casa ficou pronta em passos de formiga. Por alguns momentos, por falta de dinheiro, meus pais paravam a obra. Em outros momentos, era só bagunça, pó, tinta, cimento, pedreiros, pintores.
                Minha casa ficou pronta, 100%, quando enfim foi pintada por fora e a área da churrasqueira no quintal ficou pronta. Em 2007, treze anos depois de nos mudarmos para ela. Naquele ano, o natal e o ano novo foram na minha casa. A primeira e última vez. Em 2008 minha mãe foi embora.
                Em 2005 eu tinha ido morar em São Paulo, e já comecei a construir uma estranha relação com minha casa. Meu quarto estava la, inteirinho, cheio de tranqueiras que eu guardei por anos para servirem de lembrança algum dia. Mas eu dormia ali 4 noites no mês.
                Em 2008 meu irmão foi estudar em Sao Paulo também. E consigo imaginar a angustia da minha mãe em ver a casa vazia. Vejo hoje como os pais do interior precisam aprender a lidar com isso, quartos vazios, que são ocupados por alguns dias no mes, e só.
                No fim meu pai ficou sozinho aqui, nesta casa grande. E nada mais mudou. O que foi quebrando, ficou quebrado. Nada foi repintado.
                Cheguei a pouco dia dos Estados Unidos, depois de um ano e meio fora. Como minha casa me causa estranheza! Tem, claro, o silêncio, terrivel, que ficou depois da morte da minha mãe, com o qual até hoje não me acostumei. Além disso, minha casa é uma representação física da perda, da passagem do tempo, das mudanças.
                Ontem revirei meu guarda-roupa e separei muitas roupas que eu tenho por anos. Ainda preciso jogar fora muita coisa por ali. Minha familia tem aquela mania de não jogar coisas foras (O que não é tão ruim, quando não se tem a mania de comprar muita coisa também). Isso faz minha casa e tudo dentro ter muito significado, muita história, marcada em cada cantinho. Ainda temos a mesma mesa, o mesmo sofá, o mesmo fogão, de quando nos mudamos para esta casa em 1994! Além disso, muitas coisas que nem são usadas foram ficando, aquário vazio, esteira, quadros, televisões, rádio.
                Ando com vontade de pegar tudo que nao tem utilidade, e jogar fora, doar. Começando pelo meu quarto. Sempre guardei tudo que pudesse um dia servir de lembranças, roupas, objetos, papéis, coisas que já tem 10, 15, 20 anos. Como uma criança nostálgica, mesmo com pouco passado, eu sempre achei que um dia eu iria me deliciar, sentada com filhos ou antigos amigos, olhando para todos aqueles objetos que contavam minha história.
Mas eu não sabia que o passado poderia pesar demais. Registrar assim tão fortemente o caminho das mudanças, enchergar como fomos perdendo amigos, pessoas, fé, coragens, é doloroso.
Ando com uma super inveja boa das pessoas que, ao contrário de mim, ficaram. Pessoas que moram em Cruzeiro, crescem, trabalham, tudo por aqui. Alguns se mudam da casa dos pais, mas estão sempre por perto. Alguns acabam criando suas novas famílias na própria casa onde cresceram.
Mas minha maior inveja boa é das pessoas que foram em busca de seus sonhos, se mudaram, mas tem lá, uma casa, com seus pais juntos, envelhecendo. Tem, talvez, uma caixa com coisas que deixou por ali mesmo, para serem guardadas.
            Acho que quem me vê, de fora, deve me achar bem desapegada. Até de país me mudei. Mas na verdade, sofro demais com esse processo de deixar para trás, sejam histórias, sejam pessoas, sejam objetos. A vida tem constantemente tentando me ensinar a deixar ir embora o passado. Acho que a vida está agora querendo que eu me desapegue desta casa, de vez.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Déjà vu

Estou lutando para não escrever aqui. Sabe quando a gente se engana e acha que se não conta uma coisa para todo mundo, aquela coisa não existe? Varrer a sujeira pra baixo dos panos.

Contei para pouquíssimas pessoas. Mesmo pessoas muito próximas ainda não sabem. Ainda estou na batalha para que não vire o único assunto, para que não vire novela. Não estou preparada para ter que responder perguntas com as mesmas respostas. Ainda não quero ver pessoas tão próximas chateadas, com pena. 

Mas está começando a pesar. Por isso logo logo ressuscito este blog, infelizmente. 

Ele nos pegou, de novo.