quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Hoje, um ano sem ela...

Claro, muita coisa mudou. Meu modo de ver, de agir, de ouvir, tudo mudou. Minha família se reestruturou por completo. Hoje tudo em minha casa funciona diferente, e nós ocupamos outros lugares. Fazemos coisas que nunca imaginamos fazer.


E claro que tudo tinha que mudar. Por dois motivos. O primeiro é o motivo óbvio: minha mãe fazia quase tudo em casa. Ela que organizava nossas vidas, e ai coloco tudo, dinheiro, comida, limpeza, roupa. Mesmo quando eu estava em SP eu ligava para minha casa e sempre falava com ela. Ficar sem ela foi muito difícil, e no começo termos que assumir essas tarefas não foi fácil. Agradeço algumas pessoas que ainda nos ajudam muito. Hoje vejo que algum jeito demos nas coisas, e isso devo a minha mãe. Pensar nela, e em como ela sempre queria nos ver bem, me ajudou a seguir e enfrentar a nova vida.

O segundo motivo também é óbvio. Passar pela experiência da morte de uma pessoa de dentro da sua casa, uma pessoa central na sua vida, muda tudo. Ter alguém como uma mãe tirada assim do dia a dia, e ter que elaborar a ausência dela faz todas as concepções de vida, de tempo, de fé, tudo mudar. Hoje eu ainda sinto que sou feliz, como sempre pensei, mas carrego em mim uma dor, que não passa, e sei que nunca vai passar. Mas tenho certeza que já aprendi a lidar com ela. Essa dor – que só conhece quem já passou por isso - vai ficar aqui para sempre. É uma dor estranha de explicar, e muitas e muitas vezes quando fico sozinha, quando estou em alguma situação em que sou obrigada a ficar quieta, apenas comigo, chego a respirar fundo, por um segundo perco o ar. As vezes ainda não acredito que foi assim, e que assim será para sempre. Ela nunca vai voltar.

Posso dizer com toda a certeza: sou forte e posso suportar muita coisa. Nesse um ano lembro de apenas uma vez ter chorado por um motivo que não tivesse relação nenhuma com minha mãe, e fiquei com muita raiva de mim. Depois do que passei, muita coisa virou detalhe bobo. Dou menos bola para coisas que antes me preocupavam muito.

Nesse um ano, em todos os momentos em que me vi alegre, principalmente quando estava em casa, com minha família, nunca senti que não poderia estar daquele jeito. Pelo contrário. Todas as vezes em que nos vi bem, me senti orgulhosa pela minha mãe, e com a certeza que ela fez isso, ela nos fez fortes, ela nos fez capazes de suportar, por mais difícil que fosse. Eu sei que ela sabia que era muito importante em nossas vidas, e continuarmos em frente depois disso é uma homenagem a ela, sempre.

Sempre acreditei no tempo como um amigo, e desde o começo, por mais desesperador que fosse, eu sabia que um dia as coisas ficariam melhores. E realmente com o tempo essa dor ficou mais suportável. Com o tempo as coisas se organizaram um pouco. Com o tempo a ausência dela passou a fazer parte de tudo. E sei que com o tempo isso vai ficar mais dentro de mim, e menos nos lugares.

Meu pai sempre fala em como não entende o porquê isso ter acontecido com minha mãe. Sempre que vê casais de velhinhos na rua, ele comenta que alguns tem mais sorte que os outros, e não entende qual o critério para essa sorte ser "distribuída". Eu sempre tento cortar essas idéias dele, falo que todo mundo morre, um dia acontece com todo mundo. Mas no fundo eu também não entendo. Ta, eu sei, todo mundo morre. Mas alguém tão saudável, que leva uma vida tão regrada, que nunca fez mal a ninguém, ter um câncer tão agressivo, e tão silencioso, que só deu sinal quando já não tinha o que ser feito, me parece demais. Não parece uma casualidade, um acidente. Não sei explicar. Essas coisas me fizeram hoje uma pessoa menos romântica com a vida. Ainda vejo beleza, com certeza, acho que até aprecio ainda mais a vida, que é mais rara do que imaginamos, ainda acho que tudo pode ficar melhor, mas acho que acredito bem menos no que a gente não pode ver.

Os primeiros meses depois de agosto de 2008 foram bem ruins. Lembro que não conseguia dormir cedo, quase sempre deitava depois das 2 da manhã, o que para mim é muito quando tenho aula no dia seguinte. Não era falta de sonho, mas sim um medo de enfrentar aqueles minutos deitada, no silêncio, antes de dormir. Era horrível ter tempo para pensar. Na minha cidade só consegui dormir no meu quarto, e não no quarto do meu pai, em janeiro de 2009.

Mas algo aconteceu nesse um ano que me ajudou muito a passar por tudo isso. Parece que em um ano perdi tudo, e no outro a vida quis me recompensar de algum modo realizando um sonho. No começo de novembro de 2008 fiquei sabendo de um programa de bolsas de intercambio para cursar um semestre do meu curso de graduação na Europa. Não pensei duas vezes: me candidatei. E naquele momento eu estava pensando muito em como a vida é curta, em como agir por impulso pode ser bom, como ter medo e vergonha é desperdício de algo tão frágil. Se é para mudar, se a vida escolheu mudar sem que eu fizesse nada, então vamos mudar né? Eu estava sentindo também que eu não podia ser a mesma pessoa. E acabei sendo selecionada pelo programa. Pensar nessa viagem me ajudou bastante a passar por esse ano, e a pensar no futuro.

E hoje acho estranho o caminho que tudo levou. Quando minha mãe ficou doente eu estava com um programa de intercambio fechado: eu iria para os EUA para trabalhar durante minhas férias. Acabei desistindo de ir. Minha mãe chorou algumas vezes dizendo que não queria ter atrapalhado minha viagem, e por várias vezes eu disse a ela que eu não estava triste de não ir, eu queria ficar com ela, e aquele não era meu sonho. Lembro de ter dito que meu sonho era sim, ir para o exterior, mas para estudar, e na Europa. E hoje, um ano depois de ter perdido minha mãe, estou a uma semana exatamente de realizar esse sonho sobre o qual falei com ela.

Não sei se ela estivesse aqui como seria. Sempre ela fazia parte dos meus planos, sempre me apoiava, mesmo cheia de preocupações com tudo. E eu sei que meus sonhos eram os dela. Já falei sobre isso no blog. Minha mãe tinha sonhos, e eles tinham a ver com a vida minha e do meu irmão. Sei que ela queria muito ir em nossa formatura, muito, muito. Sei que ela queria muito também ser avó. Sei que quando essas duas coisas acontecerem comigo, eu vou estar feliz, mas ao mesmo tempo vou sentir uma tristeza muito grande de ela não estar comigo, e de ter sido tirada de nós antes que pudesse presenciar esses momentos.

Realizar sonhos hoje é ambíguo por isso. É bom, sempre vai ser, mas sempre vou sentir minha mãe não poder estar aqui vendo isso acontecer.


Sinto muitas saudades dela, muitas muitas!

Vou viajar, e vou ficar um tempo longe de todo mundo que faz parte da minha vida, e vou sentir falta de muitas pessoas queridas. Mas sei que nada se compara a saudades que se sente de quem não vai voltar.



2 comentários:

  1. Nossa...que engraçado....

    Lu, vim escrever a mesma coisa...LIndinha, que saudade me deu da sua mãe hj...

    Passei lá no seu album e fiquei olhando...vim aqui só pra dizer isso...
    Ontem o irmão da minha tia querida faleceu, e pensei que nem conseguiria imaginar em perder um irmão....e pensei na sua mãe e em vcs, e pensei o qto é difícil perder alguém tão importante em nossas vidas....

    Eu queria dizer o qto sua mãe passou rápido em nossas vidas, e deixou tantas lembranças...lembro dela com tantas saudades!!Há momentos e pessoas que nos marcam pra sempre....

    bjs ka

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