sábado, 14 de junho de 2008

É CÂNCER.

Dia 12/06/08, uma tarde de quinta-feira.
Chegaram três médicos, jovens, residentes possivelmente.
- Dona Maria, você prefere que eu converse com eles perto de você ou longe? Nos dá permissão?
Claro que ela falou que preferia que fosse longe. Mesmo que ela já soubesse de tudo (e nós também) aquele clima sugeria que tinha alguma coisa ainda pior.
Fomos então eu, meu pai e meu irmão para uma sacada, que dava vista para uma parte do Instituto Central do Hospital das Clínicas, conversar com os três.
-O que vocês sabem?
Eu não gosto de me passar por ingênua, e logo comecei a falar:
-A gente sabe que ela tem metástases no fígado, que vieram de um tumor no intestino.
-Mas vocês sabem o que é isso? Vocês entendem a palavra METÁSTASE?
-Isso quer dizer que não está no estágio inicial.(Claro que a gente sabe que é grave, a gente só tenta acreditar que não é tão grave)
Ele concordou. Ainda completou para dar mais realidade àquilo tudo:
-É isso mesmo. Ela está com cêncer de cólon, com metástases hepáticas. E está avançado.

Acho que os três se preparam para dar uma notícia horrível para pessoas que não sabiam de nada. Na verdade já sabíamos daquilo há 3 semanas. Metástases, ainda mais no plural, só podem indicar a presença de um tumor maligno em outro lugar. Mas foi a primeira vez que um médico usou a palavra CÂNCER.

No dia 23/05/08 minha mãe estava internada, ainda no interior. Ela estava anêmica há mais de um mês, e vinha perdendo peso. Comia pouco, pois sempre sentia um desconforto após as refeições. Ela tinha feito uma tomografia do abdômen e a médica resposável chamou meu pai para conversar. Eu sentia que alguma coisa tinha dado errado. Claro que tinha! Talvez esse tenha sido o pior dia da minha vida até agora. Senti uma sensação horrivel no estômago, uma ansiedade maior que todas as outras.
Meu pai e meu namorado foram falar com a médica. Nâo tive coragem.
Assim que sairam, meu pai me falou que tinha aparecido umas "coisinhas" no figado. Falei com a médica na calçada da rua.
Ela falou sobre as metástases e sobre a necessidade de levarmos ela para um hospital melhor, onde ela pudesse passar por um oncologista. Por 2 minutos eu a ouvi atentamente, tentando esclarecer algumas dúvidas. Mas não aguentei até o fim da conversa. Comecei a chorar desesperadamente, o chão realmente saiu de baixo de mim. Eu senti que uma batalha muito dificil começava ali, e que estava em jogo a pessoa que eu mais preciso na vida, em quem eu sempre me apoiei. Pensei em muitas coisas, que nem sei organizar aqui...
Mas o choro passou rápido. Senti uma sensação estranha tomando conta de mim, senti meu sangue quente, comecei a andar de um lado para o outro, não conseguia parar. Uma força muito forte me invadiu. Eu sabia que a gente tinha que lutar contra aquilo. Lembro de meu pai pedir que eu parasse de andar, se não eu ia cair, mas eu não conseguia. Liguei para minha tia, pedi que ela me ajudasse a arrumar uma vaga pra ela em um hospital em São Paulo.
Minha mãe foi embora para casa naquele dia 23/05. Ninguém em casa dormiu naquela noite. Eu acordava toda hora, com o coração e a respiração muito forte, sentindo meu estômago estranho.
Não contamos a verdade para ela naquele dia, mas ela sentiu. Começamos a falar muito indiretamente sobre tumor, sobre quimioterapia, para tornar o assunto comum e natural. Hoje ela sabe de tudo.

E hoje estamos esperando o oncologista nos mostrar o caminho do tratamento. O câncer e o tratamento têm características muito peculiares para cada caso. Não sei se será feita uma cirurgia ou se a primeira coisa será a quimioterpia. Possivelmente essa semana já começa.

Eu sei que é grave! Sei que pelos médicos as chances de dar 100% certo não são animadoras. Mas acredito muito que cada caso é um caso. Minha mãe está com muita força de vontade e muita fé em Deus! Sei que isso é essencial para o tratamento. Claro que em alguns momentos a gente fica mais fraco e só pensa em coisas ruins, mas passa logo. Não pensei seriamente na possibilidade de não dar certo, porque acredito realmente que vai dar certo!!! Não estamos revoltados ou desesperados, e isso já é ótimo!

E estou feliz em saber que muitas pessoas estão orando por ela! O poder disso faz com que nada seja impossível.

Estou fazendo esse blog porque muitas coisas estão passando na minha cabeça e preciso escrever. Sei que é um pouco de exposição, mas não me importo.
Esse blog é para ser lido, então nâo se importem em comentar!

E peço muita oração, sempre!!!

5 comentários:

  1. Aline, chorei muito pela sua história...ainda mais q naum faz muito tempo, passei por um susto parecido com a minha mae, mas bem menor, mas graças a Deus comigo foi soh um susto. Assim como vc, chorei muito soh por ve-la taum desamparada e por me assustar diante do que poderia vir... a gente sempre ve a mae da gente como a protetora e como se ela fosse pra sempre...imagino o qt te doi, mas te digo, tenha esperança sempre...reze, ateh msm qd a unica coisa q vc souber fazer eh chorar... saiba q de mim terah sempre a minha oração... e confie, pq Deus eh fiel sempre e olha o nosso desespero...Que Deus te abençoe e de forças a todos vcs nesse momento dificil...confie..abraços

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  2. Aline...
    nem sei o que escrever, mas...
    "Acontece com a gente também."
    Duro ter que passar por isso tb.
    Chorei... água pra isso a gente tem né. Fiquei indignada. Fiquei com raiva, aflita, triste. Era um vazio que.. por mais que eu falasse, por mais que eu soubesse que aquilo ia passar, era um vazio doído. Teve também arrependimentos.
    Quase tudo ainda, não se tornou passado. (ow, mó terapia isso aqui hein.. haha. desculpa)
    O nome do blog já diz. Muita esperança sempre! E continue na luta com muita força!
    E viver o presente, mesmo nunca se esquecendo do futuro que ninguém sabe..
    Rezo para a melhora da sua mãe.
    Se cuida...
    Flávia

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  3. Lindinha, achei importante vc fazer esse blog! Imagino o tanto de coisas que estão passando pela sua cabeça agora e acho bom vc ter algum lugar para transformar esses pensamentos em palavras! Acho importante também que os outros leiam, pois vc podem comentar para te dar mais força! E, como vc mesmo disse, acho que o mais importante é que vc e a sua família estão abertos para escutar, para receber força, para lutar...Lindinha, quero que vc saiba, mais uma vez, que eu sempre estarei ao seu lado e que eu e as meninas estamos nessa luta junto com vc! Não estamos conseguindo nos ver mtooo, mas vc sabe que estamos ao seu lado sempre e que vc pode falar sobre todos os seus pensamentos com a gente tbm! Não sei direito o que escrever...na verdade, fica difícil saber o que falar sempre e não sei se acabo falando coisas que não devia ou se não falo coisas que devia, mas falo! EU TE AMO PRA SEMPRE!!! Amo mto a sua mãe tbm e sei o que ela significa para vc...afinal, temos uma relação parecida com as nossas mães, não é mesmo?!

    Quero que saiba mais uma vez que sempre pode contar comigo e com a minha família!

    Obrigada por existir na minha vida!

    Beijos!

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  4. Querida,

    O final do seu texto tem a sua cara: força, esperança, resitência, aceitação de desafios... A idéia do blog significa mais pessoas em oração e mais pessoas que, com vc, comemorarão algum tipo de vitória. Um detalhe: sua mãe é tão moça e, por isso, a vida prevalecerá.

    Estimo-a ainda mais. Bjs ao Tiago

    Ercília

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  5. Aline, que bom que você está se sentindo à vontade para contar, guardar seria pior. Eu espero que essa semana o tratamento comece, estou torcendo muito para sua mãe ficar bem forte logo. Você sabe que pode contar comigo para o que quiser, neh?

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