Decidi voltar, mas decidi adiar o mestrado. Quando existe uma boa razão, eles permitem que você comece no próximo ano acadêmico. Conversei com o médico do meu pai, e conclui que seria a melhor saída. Não posso passar esse ano inteiro no Brasil, mas é bom eu saber que a qualquer momento posso voltar para ajudar meu pai, sem ter compromissos acadêmicos. E quero me dedicar 100% ao mestrado. Solicitei e me concederam o adiamento.
Não foi fácil sair do Brasil. Por mais que eu tenha me preparado, não posso fazer outras pessoas entenderem. Minha familia é inteira de uma cidade pequena, em que poucos tiveram a iniciativa de sair da cidade. A idéia de uma filha deixar o pai com uma doença grave é bem estranha, e sei que sou julgada. Mas venho aprendendo a não me incomodar muito com isso. Só a gente mesmo conhece nossos passos. Se ninguém nunca vai estar nos meus pés, ninguém nunca vai ter qualquer tipo de base para, nem mesmo, tentar me entender. Desde quando comecei este blog minha vida tomou um rumo tão único, que já passou a muito tempo do ponto em que alguém que morou a vida inteira na mesma cidade possa entender.
Vim, com força e coragem. Nem chorei saindo de Cruzeiro. Nem chorei pegando o avião. Chorei só um pouquinho quando minhas amigas Luiza e Kátia foram se despedir de mim no aeroporto, e uma delas me disse que eu era uma boa filha. Chorei porque a realidade parece dizer o contrario. Apesar de tudo, eu me acho boa filha sim. E me sinto mal por não poder fazer mais. Queria sim poder ficar o tempo todo com meu pai, ajudá-lo, até quando ele precisasse. Mas infelizmente na vida a gente tem que tomar decisões maduras, que não são apenas baseadas no Querer.
E ainda bem, a vida sempre nos surpreende. Vim pros Estados Unidos com a idéia de voltar para o Brasil, quando meu pai precisar. E eis que ele está muito bem! Talvez seja o intervalo da quimio (que deixa ele bem anêmico). Meu pai está bem mais animado que antes, resolve suas coisas, cozinha, faz compras. A perna e a barriga ainda estão inchando, mas ele está conseguindo se virar. Isso me deixou muito feliz, pois aconteceu bem quando todos nós precisavamos. Quando eu estava lá, eu fazia tudo! Eu quase não conseguia enxergar como seria possivel minha ausencia neste momento, mas eis que novamente descubro, ainda bem, não somos insubstituiveis.
Mas claro, sr Freud, as coisas não são tão simples assim. Nas ultimas duas semanas venho tendo o mesmo tipo de sonho. Coisas acontecem, e alguém me avisa que minha mãe está morrendo. E eu sinto uma tristeza absurda! E no sonho, vou ve-la e a gente conversa. Em um sonho ela me disse que queria passar o dia das mães comigo. No sonho de hoje eu tinha que pegar um avião, mas estava adiando para estar com ela quando ela morresse. Acho que claramente tem tudo a ver com meu pai, e o fato de eu estar longe.
Para completar meu avô, pai do meu pai, não está bem. Já está sem noção das coisas, e fica mais na cama. Tentei ajudar um pouco quando estava lá, já que era a única neta na cidade. Mas agora não posso mais. Está sendo um momento muito dificil para a família.
No começo de agosto meu marido se muda para NY, e vou mudar com ele. Vai ser meu endereço nos EUA até meu mestrado no próximo ano. Estou animada para estar em outras ares, explorar uma nova cidade. Mas ter duas realidades tão diferentes é pesado! Esse mês não está sendo fácil, porque é um mês de dupla transição. Passei seis meses no Brasil, e ainda estou me reacostumando aqui. De repente aquela realidade de doença e hospital não está no dia a dia, mas está mais forte dentro de mim. Não vai embora. É dificil não ver a morte como um tema recorrente. É muito dificil não me pegar pensando em como a vida é sensivel.
Tentando não me preocupar demais com o futuro. Sei que tudo vai acontecer na hora certa para acontecer. E eu estarei no lugar certo também.