A ida dela foi daquelas que partem a vida em duas.
A que eu era, a que eu sou.
Duas.
Era uma menina gigante numa casa pequena.
Com paredes, com para sempres.
Bastava.
Agora uma mulher pequenininha num mundo todo.
Preciso de mapa, tradução.
Me perco.
A pior dor do mundo não é física.
Mas passa, assim como quase tudo.
O que fica?
O que aprendi:
Que sou pequena, num mundo de finitudes.
Onde as almas vão e vem.
Passam pelo rio, e deságuam no mar.
Todos nós, nos achando rio, quando somos oceano!
Eu gigante sabia menos que eu pequenininha.
Eu gigante achava que você me pertencia.
Mas sua ida foi daquelas que partem a vida em duas.
A que você era casa, e a que você é o mundo todo.
A montanha verdinha lá no vale.
A música do Freddie, do Ivan,
e aquela sobre a imensidão do universo em nós.
O gosto de salada de fruta e de coxinha.
Um jardim no Japão.
Uma cachoeira na Suíça.
O raio do sol que passa pelos galhos.
Meu insconsciente tão bagunçado.
Nossa vontade de ser orgulho.
Um olhar no espelho por meio segundo.
As risadas das minhas tias,
e os olhos grandes das crianças.
O pinhão que dá lá na sua serra.
O passarinho que cantou a manhã inteira,
porque é o primeiro dia da primavera
E a maioria dos dias ainda são felizes.
Você foi só deságuar.
(A ida dela foi há 11 anos, num 12 de agosto)