terça-feira, 29 de novembro de 2016

Abestalhada (em dois atos)

Setembro 15, 2016 / Novembro 29, 2016

Dá um medo do caramba. E uma tristeza, e um choque. Dias que te lembram, as vezes em rede nacional, que a vida é assim, frágil, rápida. Piscou, acabou. Mesmo no auge, mesmo num mergulho feliz no rio, mesmo a caminho do seu maior sonho. Acabou. E não é assim com todo mundo? Não é esse o fim, não importa nada mais? Hoje vi esse texto, tão lindo, falou comigo:

"Se você não se sente profundamente tocado pelo vislumbre da morte, é porque não olhou de perto. A consciência clara da mortalidade, nossa e dos outros, produz um impacto poderoso em nossa vida, muda drasticamente a relação que temos com as pessoas, com nossas ocupações, com nossas aspirações pro futuro, com as prioridades, com o tempo." —Fábio Rodrigues, na prática "Lembrar da morte".

E lembrei das vezes que olhei a morte de perto. E pensei: será que aprendemos as liçōes da morte? Quando o vislumbre da morte ensina? E quando paralisa? Olhar de perto é ver o fim, é ver a gota de vida indo embora de alguém que é não apenas um ser humano, com história, com sonhos, mas um ser para quem demos uma parte de nós com formas mais puras de amor. Pedacinhos de nós, que se vão, e pronto: quem sou eu? Como fazer disso tudo lição, e não apenas dor?

Pra que planos? Pra que guardar dinheiro? Pra que ter agenda? Para que fingir controle? Para aproveitar mais a vida! Essas consciências deveriam nos fazer mais vivos, mais aproveitadores não só das tardes de sábado, mas também das 10:20 das manhãs de terça. Ser feliz, na intensidade do agora. E isso está bem longe da ideia de sair por ai, esquecer as contas, e comprar cerveja. Viver o hoje, com toda a responsabilidade, pois ela também traz paz. Escrevendo o TCC e não pode mais ver os amigos? Escreva com intensidade, aprenda tudo, faça cada linha da escrita um pequeno tesouro, se doe ao trabalho. Não espere ter dinheiro, ter tempo, estar morando num lugar perfeito, ou trabalhando num lugar perfeito. Voce tem muito mais poder sobre os dias, mesmo aqueles mais sem graça, de alarme, transito, cadeira, reunião, cadeira, transito, tv. Não é bem o que voce faz, mas como. Não se contente com um dia sem sentido. Seja o sentido repleto de profunda dor, saudade, amor, paz, calma, beleza, poesia, ou alegria.


"Senhoras e senhores, trago boas novas: Eu vi a cara da morte e ela estava viva" Cazuza


Setembro 15, 2016
To aqui. Abestalhada. Indignada. Maravilhada. Sentada no sofá, sem sono. Pensando na raridade da vida, que a gente toma como certa. Errado! Menino, as pessoas vão embora. E não importa o quanto você os ame, o quanto voce precise deles, o quanto de você é feito deles. Eles vão. Ou vai você. E beira o desespero ne? Que grande merda isso. É caso pra desistência, pra depressão, pra parar tudo e querer descer. Pra que tudo isso então? Pra que pagar conta, ter agenda, ir ao medico, não comer coxinha, beber menos? Pra que? Entre o desespero e a lição, pegue a lição. O tempo é curto, faça o que for, seja feliz! Não se deixe preocupar com esse fim certo. É certo, e ponto. Não se preocupe hoje, não se abestalhe no sofá. Viva o que vale, o hoje e só.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Encucação

Todo dia é assim, a todo momento, pensamentos passam com palavras tortas, as vezes fortes, as vezes leves, na nossa frente. Alguns caem no chão bem rápido, outros ficam flutuando por um instante de vida. Alguns tão bons, confortantes, te fazem rir. Outros, de tão medonhos te fazem fechar os olhos, mas mesmo assim, voce os vê. Eles todos passam, sem parar. Uma constante brisa, as vezes vento, as vezes furacão. Até que... de repente, vão chegando bem pertinho, dão voltas, encostam na testa, e boom! Encuca.

Encucação: condição em que o portador faz cativo um pensamento. Aguda, ou crônica. Ainda não se sabe o tratamento.

Tem gente que nunca encuca, são resistentes desde criança. Talvez genética, vai saber. Deixam pensamento ir, vir, voltar, dançar, pular, fugir. Tem gente que encuca só de tempos em tempos, e consegue desencucar só de fechar os olhos. Dura 37 segundos. Tem gente que encuca todo dia e precisa de doses diárias de ar, árvores, e céu. E ainda assim, não há cura. Desapercebidamente afeiçoa-se de um pensamento, mesmo que feio, mesmo que triste. E segura o pensamento como doce, não deixa escapar. E olha, e escuta, e cheira, e investiga de todos os lados. E o pensamento que nem é bobo nem nada, aproveita, e se deixar encucar. Pensamento só gosta quando está na cabeça. E martela, e queima, esfria. Investiga-se como se a vida dependesse daquele pensar. Encucação parece bonito, disfarca-se de cuidado, mas não é bom nem pra tosse. Pensamentos devem ir e vir.

Para lembrança podem ser escritos, desenhados, twittados. Mas nunca encucados! Como desencucar, minha gente?



terça-feira, 15 de novembro de 2016

O peso do mundo agigantado

E veio assim, de repente, ás 4:32 da tarde, quando já era noite: um agigantamento do mundo. De tão grande, não conseguiu andar, os passos eram tão pequenos. E chovia, e o guarda-chuva se contorcia, e as botinhas de chuva não davam conta da tempestade. Foi chuva como não se via há tanto tempo. E no chão estavam reflexos de verde, e amarelo, e vermelho, e verde de novo. E todo mundo esperava, seguindo a ordem das coisas. Dorme, trabalha, come, dorme. E os passos ja tão pequenos, ficaram mais lentos, pois o mundo agigantado era carregado nos ombros. Que peso. Foi preciso deitar. E chorar, de dor. Porque doía. Precisou de gelo, e sopa, e silêncio. E lembrou de como é boa a solidão, cheia de conversas internas. Diferente não pode ser. Aumentaram-se as distâncias, para chegar na padaria, no amigo, no vizinho. De tão longe ninguém nem mais via ninguém. Quanta neblina! Perdeu os óculos. E teve, por um segundo, uma lembrança em forma de sombra, fria e cortante: "minha mãe não tem telefone" - a pior forma de se estar sozinho no mundo gigante. Que de tão gigante em distância, escolheu-se no tempo, e virou quase nada. Em 100 anos vai ser tudo areia. E contentou-se em dormir, e esperar um novo dia. Que dia o sol se pōe as 7:15?




PS. Mais uma pequena coincidencia desse mundo misterioso. Fui olhar, "por acaso", aqui o sol vai se por as 7:15 em 4 de abril. Presente da/para minha mãe, que nao tem telefone mas sempre encontra outras formas