domingo, 10 de maio de 2009

"MÃE...LUZ QUE NÃO APAGA"

Minha mãe nunca trabalhou fora de casa. Por isso, eu e meu irmão ficávamos sempre com ela. Quando éramos crianças, antes da escola, era ela o tempo todo. Ela que levou para casa minha primeira cachorrinha, a Susi. Ela que viu uma caixa pegando fogo, e me xingou muito porque eu tinha colocado fogo na caixa de sapatos (e foi o mesmo com meu irmão, que colocou fogo na caixa de brinquedos). Ela que chorou de desespero quando eu me perdi com 7 anos perto da nossa casa. Ela que pedia que a gente se acalmasse e corria de um lado para outro na casa quando chovia muito, protegendo as entradas da casa. Ela que pulava o muro para ajudar os vizinhos quando a rua enchia de água. Ela que sempre cortou meus cabelos. Ela que me levou no meu primeiro dia de aula na escolinha Pinguinho de Gente, e ela que penteou meu cabelo aquele dia, fazendo um imenso rabo de cavalo. Ela que sempre estava em casa quando eu saia para ir para a escola, e ela que estava quando eu voltava. Ela que sempre fez comida para mim, ela que nos levava ao médico, ela que fazia a matrícula na escola. Ela que ia com a gente comprar roupas. Ela que arrumava minhas unhas. Ela que sempre fez compra. Ela que estava comigo quando o médico receitou meus primeiros óculos, e ela estava quando apareceu um “probleminha” na córnea. Ela chorou muito nesse dia, com medo de acontecer alguma coisa séria com meus olhos, e ela que alguns anos depois me levou em um médico melhor em São Paulo para ver isso direito. Ela que ouvia e ouvia meus sonhos, minha vontade de estudar em São Paulo, minha vontade de viver um tempo no exterior, e ela que se empolgava muito, e me fazia acreditar que eu podia. Ela que por dentro ficava com muito medo, medo de eu me dar mal, com medo de eu ficar muito tempo longe, mas não me dizia isso. Ela estava em casa quando eu passei no vestibular, e ficou muito muito feliz, mesmo que aquilo também fosse uma perda. Ela que contava para todo mundo que os filhos estudam na USP, e contava até demais. Ela que me ensinou a usar filtro solar todos os dias, e a comer coisas saudáveis, e que insistia que eu tinha que beber mais água. Ela que me ensinou que é importante ser uma pessoa correta, que isso conta muito, algum dia. Ela que me ensinou que não posso ter tudo, e que a vida vale a pena mesmo que a gente não tenha tudo. Ela que fez eu e meu irmão sermos amigos, ela que fez minha casa ser um lugar tão bom de se estar. Ela que me ensinou a não mostrar fraqueza. Em 22 anos só vi minha mãe fraca quando ela percebeu que sua vida iria acabar. Então aprendi com ela que a vida vale a pena, sempre, que a vida tem que ser vivida como ela vem, não adianta chorar, se acabar, ela está ai. Ela queria viver, mesmo sabendo que a vida que lhe restava era de idas continuas a hospitais, ela queria. Ela queria ver os filhos crescerem, e sei que quando ela chorava no hospital, era nisso que ela pensava.

Minha mãe me ensinou que ser mãe é uma doação. Ela se entregou a ser mãe de tal forma que vivia por nós. Sei, e sempre soube, que eu tive muita sorte de nascer na casa que eu nasci, com os pais que eu tenho. Hoje, quase 9 meses depois que ela foi embora, quase 1 anos depois que descobrimos sua doença, eu vejo que só estamos bem porque ela nos ensinou muito. Eu acho incrível que depois do que passei com ela eu esteja aqui. Quando penso em conversas com médicos, em dias no hospital, em momentos de desespero no banheiro do hospital, quando penso nisso e me vejo aqui, ainda sonhando, ainda com muitos planos, sei que a mãe que tive me ensinou muitas coisas.

E hoje, dia das mães, não me sinto mais triste que nos outros dias. A falta que sinto dela hoje é a mesma que senti ontem, a mesma que senti no dia 4 de abril , é a mesma que senti há dois meses, é a mesma de todos os dias. É a falta de uma mãe presente mesmo eu estando em São Paulo, e ela em Cruzeiro, uma mãe de todos os dias, disposta sempre a fazer de tudo por mim e pelo meu irmão, que não se importava mesmo com datas e presentes, que gostava de ter orgulho dos filhos. Eu nunca fui de falar que a amava, nem ela era assim de falar essas coisas. Mas eu sei que ela sabia que era muito para a gente. Sei que ela teve muito medo de que nós a perdêssemos e ficássemos sem rumo, e acho uma honra imensa para ela que isso não tenha acontecido, mesmo que não seja fácil.

Esses dias li uma frase que achei muito bonita: ”SAUDADE É O AMOR QUE FICA...” Sinto uma saudade imensa dela, porque o amor que ficou é imenso. Amor entre mãe e filho, sem fim, sem razões. A saudade dói tanto, que as vezes me faz levar um choque mesmo depois de algum tempo, porque ela estava em tudo na minha vida. Não é exagero falar TUDO, por ela estava mesmo! Tudo, tudo. Todas as decisões que eu tomava passavam por ela, as vezes coisa pequena. E eu sentia uma segurança incrível também, porque eu sabia que ela era a única pessoa da minha vida que estaria comigo em qualquer situação, qualquer, qualquer, que bastava um telefonema, que quase tudo se resolveria. E hoje ela só existe dentro de mim. Ela não pode mais me ajudar, e hoje sinto que eu tenho que enfrentar mais coisas, cuidar de mais detalhes, prestar mais atenção. Mães deixam a vida mais fácil...Bem, a minha mãe teve que ir embora. Mas no fundo sei que não posso me lastimar, reclamar, xingar a vida, eu seria muito mal agradecida. A mãe que eu tive foi um presente!